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Península coreana está mais dividida do que nunca

As frágeis relações entre as duas Coreias parecem condenadas a uma nova degradação potencialmente perigosa após a ruptura dos canais oficiais de comunicação em um momento em que se multiplicam as questões de discórdia.

O Congresso americano aprovou nesta sexta-feira, quase por unanimidade, um endurecimento das sanções contra a Coreia do Norte como reação à realização por Pyongyang de um novo teste nuclear e o lançamento de um foguete.

A Câmara de Representantes aprovou por 408 votos a favor e 2 contra um texto que torna obrigatórias as sanções contra qualquer pessoa ou entidade que fornecer à Coreia do Norte bens, tecnologia ou treinamento que lhe permitam desenvolver armas de destruição em massa. O documento agora deve ser sancionado pelo presidente Barack Obama.

Os dois Estados rivais, tecnicamente em guerra há mais de 60 anos, já enfrentaram inúmeras crises no passado que foram superadas.

Mas as últimas demonstrações de força de Pyongyang – um lançamento de foguete de longo alcance após o quarto teste nuclear em 6 de janeiro – desferiram um duro golpe para as esperanças de diálogo ou de compromisso.

O Norte está empenhado em seguir desenvolvendo um programa de armas nucleares, mas o Sul também está pronto para reagir com firmeza a qualquer provocação de Pyongyang.

E é cada vez mais flagrante a fratura, com ares de Guerra Fria, entre a China e a Rússia de um lado, e os Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul do outro.

A deterioração da situação na península foi ilustrada esta semana com a suspensão do único projeto de cooperação entre os dois Estados, a zona industrial intercoreana de Kaesong, localizado em território norte-coreano a 10 km da fronteira.

Apesar de vulnerável, Kaesong vinha resistindo a todos os sobressaltos desde a sua criação em 2004.

"De alguma forma, é um milagre que tenha resistido tanto tempo", afirma Leonid Petrov, especialista em Coreia do Norte na Universidade Nacional da Austrália.

'Grande retrocesso'

Mas esta semana, em resposta ao programa nuclear da Coreia do Norte, Seul anunciou a suspensão das operações em Kaesong, onde 124 empresas sul-coreanas empregam 53.000 norte-coreanos.

Pyongyang reagiu imediatamente expulsando sul-coreanos, congelando seus bens e colocando a área sob controle militar. Seul, por sua vez, cortou o fornecimento de eletricidade e água.

"Não vejo como possível um retorno de Kaesong", disse Leonid Petrov. "As coisas foram longe demais e não há vontade real do Norte ou do Sul de encontrar uma solução".

Kaesong foi o resultado da "diplomacia do raio de sol", liderada pela Coreia do Sul de 1998 a 2008 para incentivar os contatos entre os dois irmãos inimigos, e o projeto foi mantido à margem do conflito entre os países.

A Coreia do Sul desejava inicialmente que Kaesong fosse a ponte das reformas capitalistas no Norte, mas essa esperança nunca foi realizada. No entanto, os analistas lamentam o fechamento de uma porta fundamental, ainda que pequena, aberta ao longo da fronteira mais militarizada do mundo.

"Sem Kaesong, sul-coreanos e norte-coreanos não terão mais qualquer contato regular. É um grande retrocesso", afirma Aidan Foster-Carter, especialista em Coreia do Norte no site NK News, com sede na Grã-Bretanha.

Para Chang Yong-Seok, analista da Universidade Nacional de Seul, uma das vantagens de Kaesong era manter uma certa civilidade nas relações bilaterais.

As possibilidades de contato entre Seul e Pyongyang foram ainda mais reduzidas quando o Norte anunciou que estava cortando as duas últimas linhas de comunicação existentes entre os dois países.

O corte dessas linhas ocorre num momento em que os dois países poderiam precisar como nunca antes.

Em março, estão previstos exercícios militares conjuntos entre Washington e Seul, considerados por Pyongyang como o ensaio geral para uma invasão do seu território, e que sempre gera um aumento das tensões.

Além disso, a Coreia do Sul e os Estados Unidos se preparam para discutir a implantação em território sul-coreano de um escudo antimísseis sofisticado.

"Neste contexto, acredito que atingiremos um nível incomparável de tensão com os anos anteriores", prevê Chang Yong-Seok.

China pede ação da ONU para fazer Coreia do Norte "pagar o preço" de testes

A China irá apoiar uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para fazer a Coreia do Norte "pagar o preço" de seus lançamentos de foguete recentes, disse o ministro das Relações Exteriores chinês à Reuters nesta sexta-feira, acrescentando que o objetivo é levar Pyongyang de volta à mesa de negociações.

Wang Yi ainda afirmou estar preocupado com a possível mobilização do sistema de mísseis Defesa Aérea Terminal de Alta Altitude (THAAD, na sigla em inglês) dos Estados Unidos na Coreia do Sul, dizendo que ele também pode ser usado para visar a China.

A Coreia do Norte sofre sanções da ONU desde seu primeiro teste nuclear de 2006. O país realizou mais três testes atômicos desde então, o mais recente no mês passado, e diversos lançamentos de mísseis balísticos.

Washington e Pequim pareceram divididos quanto à maneira de reagir à Coreia do Norte, mas os norte-americanos clamaram por sanções mais rígidas e os chineses enfatizaram a necessidade de diálogo.

Entretanto, Wang afirmou à Reuters em uma entrevista em Munique que é hora de uma resolução "forte" abrangendo uma ampla gama de assuntos.

"Apoiamos que o Conselho de Segurança da ONU tome novas medidas e adote uma nova resolução para que a Coreia do Norte pague o devido preço e para mostrar que há consequências para seu comportamento", declarou o chanceler através de um intérprete.

A China tem insistido em dizer que já faz grandes esforços para obter a desnuclearização da "península coreana" e já rejeitou o que chama de "especulação sem fundamento" sobre sua posição em relação a Pyongyang em reação aos comentários de algumas autoridades dos EUA, segundo as quais os chineses poderiam fazer mais.

O Conselho de Segurança da ONU está debatendo uma nova resolução. Diplomatas afirmam que os norte-americanos vêm pressionando por medidas mais austeras para atingir não somente os programas de mísseis e de armas atômicas da Coreia do Norte, enquanto a China quer que quaisquer ações futuras digam respeito à questão da não-proliferação.

 

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