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Países europeus emitem ‘títulos panda’ e se endividam com a China

Países europeus como a Polônia, a Hungria, Portugal e em breve talvez a Itália decidiram emitir dívidas diretamente na China através dos "títulos panda", uma estratégia que desperta preocupação de analistas.

Portugal se tornou, na semana passada, o primeiro país da zona do euro a emitir um "título panda", ou seja, uma linha de dívida em yuanes, diretamente no mercado chinês.

O resultado foi um empréstimo de 2 bilhões de yuanes (um pouco mais de 250 milhões de euros). A Polônia fez o mesmo em 2016, e a Hungria em 2017. O mercado de "títulos panda" – ou "panda bonds", como são conhecidos – existe desde 2005. Mas só começou a ser realmente usado há quatro anos, quando o Banco Central Chinês (BPOC) anunciou sua abertura para emissores estrangeiros.

Essa política está ligada às Novas Rotas da Seda, um enorme projeto de investimento em infraestruturas a nível mundial, com o qual a China espera ampliar sua influência internacional. "Pouco a pouco a China está tentado abrir seu mercado aos investidores e transformar sua moeda em divisa de referência" explica Frédéric Rollin, conmselheiro em estratégia de investimentos da firma Pictet AM.

– Escasso interesse financeiro –

O segumento dos "títulos panda" representa 48 bilhões de dólares em emissões por ora. É muito pouco se comparado com os 13 trilhões de dólares do mercado total da dívida chinesa. "Poucos emissores estrangeiros entram no mercado do yuan" porque "não é especialmente atraente", explica à AFP Frédéric Gabizon, responsável do mercado da dívida do HSBC, um dos bancos que geriu a emissão portuguesa.

O interesse puramente financeiro é escasso para um país europeu, que tem, em linhas gerais, tem melhores condições de emissões em seu próprio mercado.

Para seu "título panda", Portugal tem que pagar um rendimento de 4,09% a três anos, enquanto em euros deus papéis rendem menos de 1% a 10 anos.

Os montantes arrecadados pelos emissores europeus, por ora, são modestos – da ordem de 145 milhões a 434 milhões de dólares – e a prazos curtos.

Entre os "títulos panda", 67% "têm duração de zero a três anos, e apenas 5% têm vencimento maior que cinco anos", o que é "sinal de um mercado bastante jovem", destaca Pierre-Yves Bareau, diretor de gestão da dívida emergente do J.P. Morgan AM.

Contudo, embora o atrativo financeiro seja limitado, "há interesses políticos, ou de reputação, importantes: emitir 'títulos panda' pode ser visto como um gesto político positivo para desenvolver os vínculos com a China", explica Liang Si, responsável para Ásia das emissões de dívida do banco francês BNP Paribas.

Em plena disputa comercial entre Pequim e Washington, Portugal e China assinaram um memorando de acordo sobre o projeto das Novas Rotas da Seda, seguindo o exemplo da Grécia e de vários países do leste europeu.

A Itália também se somou à iniciativa, tornando-se o primeiro país do G7 a fazê-lo. Já Itália e Áustria anunciaram que querem lançar "títulos panda". "Desde 2009, a China iniciou uma política de procura por cavalos de Troia" na Europa, alerta Christopher Dembik, diretor de investigação econômica do Saxo Banque.

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