A OTAN está pronta para apoiar a Ucrânia durante anos na guerra contra a Rússia, inclusive ajudando Kiev a substituir antigas armas da era soviética por modernos equipamentos militares ocidentais, afirmou o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, nesta quinta-feira (28/04).
Ele deu a declaração após o Kremlin afirmar que o fornecimento de armas ocidentais à Ucrânia, incluindo armamentos pesados, representa uma ameaça à segurança do continente europeu e "provoca instabilidade".
"Precisamos estar preparados para o longo prazo", afirmou Stoltenberg numa cúpula para jovens em Bruxelas. "Existe a possibilidade de que esta guerra se arraste e dure meses e anos."
O chefe da OTAN disse que o Ocidente continuará pressionando ao máximo o presidente russo, Vladimir Putin, para encerrar a invasão da Ucrânia, que Moscou chama de "operação militar especial", por meio de sanções e ajuda econômica e militar a Kiev.
"Os aliados da OTAN estão se preparando para dar apoio durante um longo período de tempo e também ajudar a Ucrânia a fazer a transição, passando de antigos equipamentos da era soviética para armas e sistemas mais modernos da OTAN que também exigirão mais treinamento", disse Stoltenberg.
A maioria das armas pesadas que a OTAN enviou à Ucrânia até agora são armamentos de construção soviética que ainda constavam nos estoques dos países-membros da aliança na Europa Oriental, mas os EUA e alguns outros aliados começaram a abastecer Kiev com obuseiros ocidentais.
A Alemanha anunciou nesta terça-feira o envio de tanques do modelo "Gepard" equipados com armas antiaéreas para a Ucrânia. Foi a primeira vez que Berlim aprovou o envio de armas pesadas para Kiev.
Os apelos da Ucrânia por armas pesadas se intensificaram desde que Moscou concentrou sua ofensiva em Donbass, região no leste do país com terreno majoritariamente plano e aberto, visto como mais adequado para batalhas de tanques do que as áreas no norte ao redor da capital Kiev, onde grande parte dos combates anteriores ocorreram.
Guerra leva países europeus a reverem neutralidade
"Se solicitarem sua adesão, a Finlândia e a Suécia serão acolhidas na OTAN de braços abertos." Com estas palavras, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, reafirmou nesta quinta-feira (28/04) a disposição da aliança militar para admitir ambos como novos membros.
A Finlândia e a Suécia são consideradas neutras há muito tempo. Mas a guerra na Ucrânia pode agora empurrar os dosi países do norte da Europa para os braços da OTAN. E eles não são os únicos no continente a questionar sua neutralidade diante da ameaça russa.
Suíça: uma nova era em Berna?
A Suíça é considerada o principal exemplo de estado neutro. Em 1815, no Congresso de Viena, comprometeu-se a ficar fora de conflitos e não fornecer mercenários a nenhum dos lados.
Em troca, as potências europeias garantiram à Suíça que não se envolveriam em nenhum conflito em seu território. "Isto é garantido internacionalmente e, portanto, a mais forte neutralidade que existe", diz o historiador Michael Gehler, professor da Universidade de Hildesheim, na Alemanha.
Mesmo em face do ataque russo à Ucrânia, o governo de Berna não se afastou desta linha. Para ele, a entrega de armas, por exemplo, está fora de questão. A Suíça também está impedindo a transferência de suas munições para tanques alemães para a Ucrânia.
No entanto, a guerra na Ucrânia também trouxe uma grande mudança a Berna, diz Gehler à DW: "A participação em sanções contra a Rússia, contra seus principais representantes como Putin e Lavrov, e não apenas contra os oligarcas − isso é novidade.
A Suíça nunca tinha feito isso antes." Pelo menos o partido liberal suíço (FDP, na sigla em alemão) passou até mesmo a exigir manobras conjuntas entre o Exército do país e a OTAN. Isso ainda não encontrou maioria, mas aumentam as vozes que pedem uma aproximação entre a Suíça e a União Europeia. No entanto, parece improvável que a Suíça desista de sua "neutralidade permanente".
Áustria: mais armamentos em vez de aderir à OTAN
Em 1955, a Áustria declarou sua "neutralidade perpétua". Foi um pré-requisito para a retirada das tropas aliadas, vitoriosas na Segunda Guerra Mundial. "Assim, a Áustria se libertou da ocupação ao declarar neutralidade", diz Gehler.
Essa neutralidade tem sido suavizada nos últimos anos, por exemplo, através de exercícios militares em conjunto com países da OTAN. "Entretanto, os líderes do governo austríaco não demonstraram até agora nenhuma vontade de abandonar a neutralidade e aderir à aliança militar", aponta o historiador.
Isso exigiria uma maioria de dois terços no Parlamento austríaco: "E isso não existe até o momento, também porque a maioria da população austríaca é a favor da manutenção desse status." Gehler, que é austríaco, enfatiza uma vantagem que o status de neutralidade do país pode ter na situação atual.
Ele lembra que o chanceler federal austríaco, Karl Nehammer, foi o primeiro chefe de Estado ou governo europeu a visitar o Kremlin após o início da guerra. "Isso mostra que um país neutro conseguiu mais rapidamente contato pessoal direto com o beligerante presidente russo."
Mas o ataque russo à Ucrânia também fez crescer em Viena o número dos que se preocupam com a segurança. Os militares, com seus cerca de 14 mil soldados profissionais, são considerados fracos e mal equipados.
Mas, segundo Gehler, "as Forças Armadas austríacas devem agora ser aumentadas, as estruturas e capacidades devem ser melhoradas. Há planos para aumentar o orçamento militar para 1,2% do Produto Interno Bruto e até mesmo para 1,5% no futuro.
Irlanda: apoio moral a Kiev
A Irlanda tem sido formalmente neutra desde sua independência, em 1921, e seguiu essa política também durante a Segunda Guerra Mundial. Agora, a neutralidade do país está sendo discutida mais intensamente. No entanto, em uma pesquisa encomendada pelo The Times esta semana, mais de 70% dos entrevistados se opuseram à adesão da Irlanda à OTAN.
Desde o ataque russo à Ucrânia, o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, tem deixado claro repetidamente que seu país é militarmente neutro, mas moralmente e politicamente está do lado de Kiev.
Da mesma forma como a Áustria, a Irlanda não é membro da OTAN, mas faz parte da União Europeia (UE). E os membros da UE se comprometeram a prestar "toda a assistência e apoio em seu alcance" no caso de um "ataque armado ao território do bloco".
"No entanto, essa disposição de assistência constante no Tratado de Lisboa da UE é voluntária no que diz respeito à assistência militar", diz Gehler: "Isso não significa que nações neutras como a Irlanda ou a Áustria se abstenham completamente. Elas podem fornecer essa assistência na esfera humanitária ou civil."
Suécia: armas e intenções de adesão
A Suécia nunca consagrou sua neutralidade em sua Constituição. "Entretanto, a Suécia não luta nem participa de alguma guerra desde o início do século 19. E, a partir disso, desenvolveu-se uma tradição de neutralidade", explica Gehler. Mas o país recentemente vem se afastando cada vez mais disso.
Após o fim da Guerra Fria e com sua adesão à UE, ele agora se autodenomina "país não alinhado", e se aproximou cada vez mais da OTAN através de manobras conjuntas e operações militares.
"Trabalhamos com a Finlândia e a Suécia há muitos anos", disse o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, nesta quinta-feira, ao reiterar a disponibilidade de a aliança acolher a Suécia e a Finlândia.
Estocolmo já havia tomado uma posição clara sobre a guerra na Ucrânia. O governo sueco está fornecendo armas para Kiev, incluindo as armas antitanque AT4.
Espera-se agora para ver se de fato a Suécia, juntamente com a Finlândia, vai anunciar sua candidatura à OTAN. Isso poderia acontecer já em meados de maio, por exemplo, durante a visita do presidente finlandês, Sauli Niinistö, a Estocolmo. Entretanto, nem o governo finlandês nem o sueco apresentaram, até o momento, um cronograma oficial.
Finlândia: 1.300 km de fronteira com a Rússia
A Finlândia vai "definitivamente" aderir à OTAN, disse o ex-primeiro ministro da Finlândia, Alexander Stubb, à DW, no final de março. "Não é uma questão de se, mas de quando". Ele disse esperar um pedido de filiação da Finlândia "dentro de alguns meses".
Como na Suécia, o apoio à adesão da Finlândia à OTAN ganha cada vez mais adeptos, apontam pesquisas. Trata-se de uma consequência direta da agressão beligerante de sua grande vizinha Rússia, com a qual a Finlândia compartilha uma fronteira de 1.300 quilômetros.
A Finlândia declarou sua independência do Império Russo em 1917. "Os finlandeses foram capazes de manter essa independência com uma relação sempre benevolente com Moscou", diz o historiador Gehler: "Mesmo a União Soviética não questionou a integridade territorial finlandesa durante a Guerra Fria."
"A Rússia não é o vizinho que pensávamos que fosse", diz agora a primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, que defende a adesão do país à OTAN. A Finlândia assumiu claramente o lado ucraniano no conflito e apoia Kiev com o fornecimento de armas.
Chipre e Malta: influência russa em declínio
A história do Chipre é cheia de reviravoltas. A parte norte da ilha no Mediterrâneo está sob o controle da República Turca do Norte de Chipre desde 1974, mas só é reconhecida pela Turquia, país da OTAN. O Chipre é membro da UE desde 2004 − aderindo como ilha dividida.
Esse status complicado impede o país de entrar na OTAN. Com relação à guerra na Ucrânia, o Chipre inicialmente relutou mais do que outros Estados da UE a condenar a agressão russa. A razão disso é que muitos milhares de russos vivem no Chipre e muitos oligarcas russos investiram bilhões de euros na ilha. Mas agora Nicósia passou a pegar pesado contra os russos que estão nas listas de sanções da UE.
E também está revogando a cidadania de alguns oligarcas russos que até 2020 puderam comprar um chamado "passaporte de ouro" do Chipre − e, portanto, a cidadania da UE. Desde o início do ataque russo, Chipre tem fornecido ajuda humanitária à Ucrânia, mas não com equipamento militar.
O mesmo se aplica a Malta, outro membro neutro da UE. A ilha de 500 mil habitantes está agora também cada vez mais debatendo um afastamento da neutralidade e deixou de vender "passaportes de ouro" aos russos.
Moldávia e a região separatista Transnístria
Em 1994, três anos após conquistar a independência da União Soviética, a República da Moldávia escreveu em sua Constituição um status neutro. Com isso, o país esperava se livrar das tropas russas.
Mas elas continuam estacionadas na parte separatista do país, a Transnístria, que está sob o controle de separatistas pró-Rússia. Após explosões na Transnístria esta semana, existe agora o medo de que o presidente russo, Vladimir Putin, esteja procurando um pretexto para atacar a Moldávia.
O pequeno país faz fronteira com a Ucrânia ao leste e já acolheu muitos refugiados de guerra. A oeste, a Moldávia faz fronteira com a Romênia, membro da OTAN. O governo da presidente, Maia Sandu, está orientado para o Ocidente.
Em 3 de março de 2022, a República da Moldávia apresentou um pedido de adesão à UE. Entretanto, a adesão à OTAN parece fora de questão, tendo em vista as tropas russas na região separatista da Transnístria.
Bósnia e Herzegovina: medo de interferência russa
Diante da agressão russa, o secretário-geral da OTAN prometeu, no início de abril, apoio aos países que se sentem ameaçados pela Rússia. Stoltenberg mencionou especificamente Bósnia e Herzegovina. Mesmo 30 anos após o ataque da Sérvia à Bósnia, a situação no país não é estável, e há medo da interferência russa.
Bósnia e Herzegovina é parceiro da OTAN e aspira à adesão no longo prazo. No entanto, a chamada República Sérvia (República Srpska), uma região autônoma do país orientada para a Sérvia e a Rússia, rejeita isso. Milorad Dodik, do partido sérvio bósnio SNSD, disse após o início da guerra na Ucrânia: "Viva a Sérvia, viva a Rússia, viva a República Sérvia na Bósnia." Muitos bósnios esperam agora que seu país entre na UE em breve.
Sérvia: na corda bamba entre Moscou e Bruxelas
A Sérvia é oficialmente considerada neutra, mas realiza manobras conjuntas com a Rússia. Em junho de 2021, por exemplo, cerca de 100 soldados sérvios participaram da manobra Irmandade Eslava perto da costa russa do Mar Negro, onde foi treinada uma operação aérea.
"Para o presidente Aleksandar Vuèiæ, aderir à OTAN está obviamente fora de questão", diz o historiador Gehler. No país, as lembranças do bombardeio da OTAN em 1999 e da subsequente independência do Kosovo ainda estão presentes.
"Por outro lado, eles se esforçam para ser admitidos na União Europeia. Portanto, é um ato de equilíbrio que Vuèiæ está tentando realizar. Mas acho que ele não mudará muito a postura pró-Rússia num futuro próximo." No longo prazo, no entanto, Belgrado provavelmente terá que decidir se se orientará para Bruxelas ou para Moscou.