Ministros da Defesa dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) devem acertar nesta quinta-feira um novo plano para defender seus países de qualquer possível ataque da Rússia em frentes múltiplas, reafirmando o objetivo central da aliança de deter Moscou, apesar de um foco cada vez maior na China.
A estratégia confidencial visa preparativos para qualquer ataque simultâneo nas regiões dos Mares Báltico e Negro, que poderiam incluir armas nucleares, invasões de redes de computador e ataques do espaço. "Ele reconhece uma ameaça mais típica do século 21 e como lidar como ela", disse o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, aos repórteres. Autoridades enfatizam que não acreditam em um ataque russo iminente.
Moscou nega qualquer intenção agressiva e diz que é a OTAN que cria o risco de desestabilizar a Europa com tais preparativos. Mas diplomatas dizem que o "Conceito de Dissuasão e Defesa na Área Euro-Atlântica" e seu plano estratégico de implantação são necessários agora que a Rússia desenvolve sistemas avançados de armas e mobiliza soldados e equipamentos mais perto das fronteiras dos aliados. "Este é o caminho da dissuasão", disse a ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, sobre o plano.
A aprovação permitirá planos regionais mais detalhados até o final de 2022, disse uma autoridade dos Estados Unidos, habilitando a OTAN a decidir quais armas adicionais precisa e como posicionar suas forças. A Rússia está atualizando ou substituindo sistemas espaciais militares soviéticos para possivelmente atacar satélites em órbita e desenvolvendo tecnologias baseadas em inteligência artificial para gerar transtornos em sistemas de comando aliados, além de "super armas".
OTAN se concentra em seu próprio território¹
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) decidiu concentrar seus esforços na proteção dos territórios aliados contra ameaças da Rússia e da China, com novos planos discutidos na quinta-feira e sexta-feira pelos ministros da Defesa do bloco.
Trata-se de uma oportunidade de alto nível na OTAN para analisar o desastre da retirada das tropas aliadas do Afeganistão e o retorno do Talibã ao poder naquele país após 20 anos de intervenção armada.
"Há uma transformação em andamento. Reduzimos significativamente o envio de missões fora dos territórios da aliança e estamos fortalecendo a defesa coletiva", disse o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, antes do início da reunião.
"Os ministros da Defesa aprovarão novas metas de capacidade e novos planos de defesa para a área euro-atlântica", disse Stoltenberg.
"O objetivo é ter as forças adequadas nos lugares adequados e no momento adequado", insistiu.
A reunião teve início às 13h00 (10h00 de Brasília) em Bruxelas, após a chegada do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, e terá duração de dois dias.
Na sexta-feira, os debates serão dedicados aos laços com a União Europeia e espera-se uma difícil discussão sobre a vontade de alguns países em adquirir capacidade de ação militar autônoma quando a OTAN não puder ou não quiser participar.
A modernização dos arsenais da Rússia e da China – dois países que se equipam com mísseis hipersônicos, investem no espaço e são acusados de realizar ataques cibernéticos contra interesses ocidentais – estão impulsionando essa revisão de estratégia, disse Stoltenberg.
"Devemos fortalecer nossa vantagem tecnológica com os meios do novo fundo de inovação em segurança, dotado de 1 bilhão de dólares, e com a estratégia de inteligência artificial", apontou.
Liderança americana questionada
A reunião na sede da OTAN será "a primeira oportunidade de aprender as lições da retirada" do Afeganistão, disse o funcionário norueguês.
Stoltenberg expressou seu desejo de que "as diferenças de opinião" sobre a retirada do Afeganistão não provoquem "dissidência entre os Estados Unidos e os europeus", defendeu.
De sua parte, Austin disse estar pronto para discutir as "lições a serem aprendidas" com o fiasco no Afeganistão, onde o Talibã rapidamente preencheu o vácuo deixado pela OTAN e tomou o poder em poucos dias.
"A discussão com certeza será muito acalorada", previu o representante de um país europeu.
Vários países criticaram abertamente o acordo alcançado entre os Estados Unidos e o Talibã, bem como a recusa dos Estados Unidos em adiar a saída das tropas aliadas para facilitar a retirada de colaboradores afegãos.
"A missão no Afeganistão não foi um fracasso", opinou Stoltenberg nesta quinta-feira. "Mas a forma como foi organizada a consulta sobre a retirada não foi satisfatória", afirmam vários aliados.
Assim, o secretário dos Estados Unidos e o próprio Stoltenberg serão cobrados.
"Não foi organizada nenhuma consulta sobre a implementação da decisão de retirada; nenhum calendário foi discutido; o secretário-geral e seu adjunto estavam de férias durante a retirada", reclamou um diplomata europeu.
Stoltenberg admitiu que a falta de uma estratégia de saída contribuiu para as dificuldades e "isso tem que fazer parte da análise do que deu errado".