O chefe do Parlamento venezuelano, o opositor Julio Borges, pediu neste domingo (14) a abertura de um diálogo com as Forças Armadas, que juraram "lealdade incondicional" ao presidente Nicolás Maduro, em meio a crise que atinge o país.
"Faço um pedido ao ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, para que abra as portas para um debate sincero com as Forças Armadas", declarou em uma coletiva de imprensa o chefe do Legislativo, único poder público controlado pela oposição.
De acordo com dirigentes opositores, Maduro e dois de seus delegados mantiveram um diálogo nesta semana com Padrino López e generais para promover a iniciativa de convocar uma Assembleia Constituinte.
Isso aconteceu em meio a uma crescente violência que já deixou 38 mortos e centenas de feridos em seis semanas de manifestações contra o governo, que eles exigem eleições gerais.
"Se Jaua, Escarrá e Maduro têm direito de falar com os generais sobre sua visão partidária sobre o caos que vive a Venezuela, nós também temos direito", expressou Borges.
Maduro está diante de um sistema em que ao menos metade dos 500 constituintes serão eleitos por setores sociais nos quais o chavismo tem forte influência. O que busca, de acordo com seus críticos, é fugir do "voto universal".
As Forças Armadas, em um comunicado assinado por Padrino, consideraram a Constituinte como "uma proposta revolucionária, constitucional e profundamente democrática".
"Nós não queremos uma Força Armada que se submeta à oposição, e sim uma Força Armada que se submeta à Constituição", afirmou Borges, ao repudiar a "repressão" contra manifestantes.
O legislador descartou retomar um diálogo já falido entre o governo e a oposição, que teve o acompanhamento do Vaticano e de uma comissão da União de Nações Sul-americanas (Unasul), liderada pelo ex-chefe do governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero.
"O diálogo com Zapatero (…) está morto", indicou, ressaltando que "o Vaticano disse: eleições na Venezuela".
Ele se referiu às recentes declarações do secretário de Estado da Santa Sé, o cardeal Pietro Parolin, que considerou que "as soluções (para a crise) são as eleições".
No final do mês passado, o papa Francisco confirmou que o Vaticano está disposto a mediar a crise "com condições claras".
Carolina Herrera repudia assassinato de sobrinho na Venezuela
A famosa estilista venezuelana Carolina Herrera repudiou neste sábado o assassinato de um sobrinho em Caracas por sequestradores e aproveitou para fazer críticas ao governo, que chamou de "ditadura".
"Nossa única esperança é que os trágicos assassinatos de nosso jovem sobrinho, Reinaldo, e seu colega Fabrizio sirvam para mitigar a terrível carniceria e os assassinatos que se cometem contra nossa juventude na Venezuela", escreveu Herrera na rede social Instagram.
A estilista de 78 años, radicada em Nova York, prestou uma homenagem com fotografias em preto e branco em que aparece com seu sobrinho, assassinado aos 34 anos na noite de quinta-feira junto com seu colega Fabrizio Mendoza, de 31.
A empresária agradeceu pelas mensagens de solidariedade recebidas e criticou duramente o governo do presidente Nicolás Maduro.
"A ditadura comunista deve acabar", afirmou.
Os corpos de Herrera e Mendoza foram encontrados na noite de quinta-feira em um veículo na rodovia que liga Caracas à localidade costeira de La Guaira.
Sócios em uma empresa de serviços de arquitetura, os dois haviam sido sequestrados horas antes no estacionamento do prédio onde tinham seu escritório, afirmou o diretor da Polícia do município de El Hatillo, delegado Einer Giulliani.
Segundo o oficial, os familiares dos empresários não denunciaram o caso de imediato, mas negociaram com os sequestradores e pagaram um resgate.
Giulliani comentou que Mendoza estava sob investigação do Parlamento por suspeita de ter recebido US$ 11 milhões do governo a uma taxa preferencial, por meio de uma "empresa de malote, de forma fraudulenta".
UE pede à Venezuela que investigue incidentes violentos e libere opositores¹
Os ministros de Exteriores da União Europeia (UE) pediram nesta segunda-feira à Venezuela para "investigar todos os incidentes violentos", bem como liberar os opositores políticos e respeitar os direitos constitucionais.
"A violência e o uso da força não resolverão a crise do país. Devem ser respeitados os direitos fundamentais do povo venezuelano, incluindo o direito a se manifestar pacificamente", disseram os ministros da UE, em conclusões que aprovaram hoje em um Conselho em Bruxelas.
No primeiro texto ao qual dão sinal verde os países da UE sobre a situação em Venezuela desde julho do ano passado, pediram a "todos os agentes políticos e às instituições" do país para trabalharem "de forma construtiva em prol de uma solução" que respeite plenamente o Estado de direito e os direitos humanos, bem como as instituições democráticas e a separação de poderes.
Eles também solicitaram que se"fixe um calendário eleitoral para que o povo de Venezuela possa expressar sua vontade de forma democrática".
A UE considerou "fundamental" que todas as partes se abstenham de cometer atos violentos, pelo que viu "preocupante" o anúncio de ampliação e reforço dos grupos civis armados, lembrando que o recurso aos tribunais militares para julgar civis "é contrário ao Direito Internacional".
Os ministros expressaram sua "preocupação" com os mais de 600 mil cidadãos europeus que vivem na Venezuela e se ofereceram para "cooperar com as autoridades venezuelanas" para que garantam sua assistência, proteção e segurança.
As conclusões, aprovadas como um ponto sem debate no Conselho, vieram precedidas por um discurso da alta representante da UE para a Política Exterior, Federica Mogherini, no qual alertou da preocupação com os cidadãos e considerou a situação na Venezuela "desestabilizadora para a região", segundo fontes diplomáticas.
Chefe do parlamento venezuelano acusa Maduro de "destruir" forças armadas
O presidente da Assembleia Nacional (AN, parlamento) da Venezuela, o opositor Julio Borges, acusou neste domingo o presidente do país, Nicolás Maduro, de "destruir" a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), e rejeitou as acusações que o responsabilizam pela violência nas ruas.
"Que fique claro para as Forças Armadas que quem as estão destruindo é Nicolás Maduro", disse o presidente da AN em uma coletiva de imprensa oferecida na sede de seu partido, Primeiro Justiça, cujo foco foi a mensagem enviada à instituição militar.
Esta não é a primeira vez que Borges se dirige às forças armadas da Venezuela. Durante vários meses, especialmente nas últimas semanas, Borges concentrou seu discurso sobre o papel dos militares na defesa da Constituição que, na sua opinião, está sendo violada pelo governo venezuelano.
O governo chavista "está levando os senhores, como instituição, a desconhecer a ordem constitucional da Venezuela e os senhores tem que frear essa situação", disse o opositor, que afirmou que Maduro "os chama de aliados, mas, na verdade, os está destruindo".
A convocação de um assembleia constituinte para redigir uma nova Constituição, a suposta existência de grupos civis armados para defender o chavismo, as Milícias, e a "repressão" por parte da Guarda Nacional, a corporação militar que se ocupa da ordem pública nos protestos, "é o mesmo que destruir as Forças Armadas".
"Nós não queremos as Forças Armadas na oposição, queremos Forças Armadas que defendam a Constituição", acrescentou o deputado opositor.
Ao ser questionado sobre os processos judiciais abertos em jurisdição militar contra civis detidos nos protestos antigovernamentais, Borges reiterou que "esse é outro exemplo muito claro" da destruição "da instituição".
"A utilização de tribunais militares para julgar civis quando a Constituição é clara quando diz que isto só pode acontecer com militares ativos e para crimes militares, é para mim outra prova de que o governo, junto com a constituinte, com os coletivos, com o fato de armar os milicianos, está destruindo e degradando as Forças Armadas", disse Borges.
O parlamentar rejeitou também as acusações feitas ontem por Maduro sobre sua suposta responsabilidade nos atos de violência registrados nas últimas semanas de protestos, que deixaram um saldo de 39 mortos.
"Somos os primeiros a nos afastarmos da violência, porque toda a violência se chama Nicolás Maduro", concluiu o deputado.
¹com agência EFE