A eliminação do líder dos talibãs afegãos em um ataque com "drones" (veículo aéreo não tripulado) americanos foi uma boa notícia para o governo de Barack Obama, que agora é pressionado a manter além do previsto suas tropas no Afeganistão, contradizendo suas promessas eleitorais.
No ataque americano de sábado (21) na província do Baluchistão, no Paquistão, morreu o mulá Akthar Mansour, líder dos talibãs desde o anúncio, no ano passado, da morte do mulá Omar, fundador do movimento.
Este ataque sem precedentes "demonstra para os talibãs que só há uma opção: buscar uma solução pacífica para o conflito", disse na segunda-feira (23) o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner.
Considerado inicialmente como favorável às negociações de paz com o governo afegão, o mulá Mansour, ao assumir o comando dos talibãs, se recusou a sentar-se à mesa de negociações.
Os talibãs "podem se sentar com o governo afegão e dar início às negociações (…) Apoiamos um processo realizado pelos próprios afegãos", acrescentou Toner.
Apesar das esperanças de conseguirem alcançar uma solução pacífica, Obama – eleito presidente com o compromisso de pôr fim ao envolvimento militar americano no Iraque e Afeganistão – está sob pressão.
Os Estados Unidos retiraram grande parte de suas tropas do Afeganistão, presentes desde 2001. Porém, ainda mantêm cerca de 9.800 soldados, que oficialmente cumprem tarefas de conselheiros para apoiar e treinar seus aliados.
Mais uma vez o presidente deverá decidir se continua com a retirada de suas tropas do país, promessa de sua campanha eleitoral em 2008.
Já em outubro de 2015, diante dos avanços dos talibãs frente às forças afegãs, Obama anunciou que deixaria os 9.800 soldados no terreno durante 2016, ao invés de realizar a prevista retirada progressiva.
Somado a isso, há alguns meses os militares americanos tentam conservar mais do que os 5.500 efetivos previstos para 2017 em solo afegão.
Ainda serão necessários "anos" para aperfeiçoar o exército afegão, considerou o general John Nicholson, comandantes das forças americanas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão, em fevereiro, diante do Congresso.
"Creio que existam muitos entre os militares que pensam que 5.000 ou 6.000 efetivos seja pouco", disse à AFP o especialista do centro de estudos CSIS, Anthony Cordesman.
"A maioria dos militares que conheço prefere continuar próximo ao nível atual" de 9.800 soldados "ao invés de baixar para 5.500 no próximo ano", acrescentou Michael O'Hanlon, especialista militar em Brookings, um centro de estudos em Washington, que recomenda, por sua vez, manter em torno de 10.000 homens no local.
Os militares americanos pedem também mais liberdade para bombardear os talibãs.
No momento, os aviões americanos não tem direito de voar para socorrer as forças afegãs em dificuldades. Apenas podem intervir quando existir alguma ameaça contra as forças americanas ou da Otan.
Tempo limite
Os dias passam e o calendário aperta. Se os Estados Unidos decidirem finalmente colocar mais homens do que o previsto no Afeganistão no próximo ano, terá que anunciar antes do verão. Caso isso ocorra, a Otan terá que tomar decisões a tempo, como alertou em fevereiro o general John Campbell, antecessor de Nicholson no comando das forças da Otan no país.
Nicholson – que assumiu o novo posto no início do ano – tem até o começo de junho para avaliar a situação. O oficial se reuniu esta semana em Bruxelas com os chefes de Estado Maior dos países da Otan, mas nada disse sobre seu diagnóstico ou planos.
Para Anthony Cordesman, tradicionalmente crítico com as decisões militares tomadas pelo governo Obama, é impossível prever como o presidente resolverá este dilema, entre reforçar a presença militar contrariando suas promessas eleitorais ou prejudicar o futuro do governo afegão.
Por um lado "não quer ser considerado como um presidente que privou seu sucessor de opções", deixando um dispositivo militar enfraquecido no Afeganistão, "por outro é um presidente que avalia suas opções quase indefinidamente", suspirou.