Quando o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, fez seu discurso anual em Pyongyang em 1° de janeiro e declarou que seu país estava no estágio final do desenvolvimento de um míssil balístico intercontinental (ICBM), capaz de transportar uma ogiva nuclear em direção a alvos nos Estados Unidos, muitos viram a alegação do regime com ceticismo.
Mas em 4 de junho, o jornal estatal norte-coreano Rodong Sinmun informou que os militares do país estarão prontos para testar um ICBM no futuro próximo. Isso deixou governos e analistas na região mais preocupados. Segundo o diário, qualquer lugar nos EUA está dentro da faixa de alcance dos mísseis norte-coreanos.
"O grande sucesso do teste de um míssil balístico intercontinental, que certamente conseguiremos, marcará um momento histórico, uma divisão de águas no fracasso da política hostil dos EUA contra nós", afirmou um editorial do jornal. "Historicamente, os EUA nunca ousaram entrar em guerra com um país que possui armas nucleares ou ICBMs."
EUA na mira
Em 8 de junho, a Coreia do Norte disparou uma salva de foguetes que pareciam ser mísseis antinavio em direção a alvos fora de sua costa leste. Os lançamentos foram o quinto desde que Moon Jae-in tomou posse como presidente da Coreia do Sul, em 10 de maio.
O mais significativo dos testes recentes de Pyongyang, no entanto, ocorreu apenas quatro dias após a posse de Moon e demonstrou os avanços que os cientistas de Kim fizeram em um tempo incrivelmente curto.
Autoridades do setor de defesa da Coreia do Sul e dos EUA confirmaram que o lançamento do míssil Hwasong-12 de combustível líquido foi um sucesso. A Coreia do Norte afirmou que a arma atingiu uma altitude de mais de 2 mil quilômetros e percorreu uma distância de 787 quilômetros, antes de cair no Mar do Japão. O míssil teria percorrido uma rota parabólica acentuada, que testou sua capacidade de resistir à reentrada na atmosfera.
A mídia estatal da Coreia do Norte informou que o míssil – capaz de transportar uma "ogiva nuclear pesada e grande" – passou pela "pior situação de reentrada" e atingiu o objetivo pretendido.
Essa afirmação foi confirmada por fontes do governo sul-coreano, que disseram ao jornal JoongAng Daily que a análise dos dados de comunicação do centro de controle de mísseis da Coreia do Norte confirmou que a ogiva sobreviveu aos 5.000 graus Celsius e à vibração severa que sofreu na reentrada.
Controle dominado
Após inúmeros lançamentos, os cientistas norte-coreanos já dominam as capacidades de controle de longo alcance, enquanto uma série de testes subterrâneos demonstrou que o regime de Kim Jong-un adquiriu armas nucleares.
Analistas dizem que o último obstáculo restante que os mísseis norte-coreanos têm a superar é sobreviver consistentemente à reentrada, o que provavelmente será o motivo do lançamento do ICBM que Pyongyang está planejando.
"A velocidade com que eles desenvolveram a capacidade de lançar uma ogiva nuclear a uma longa distância é extremamente preocupante", avalia Kim Jae-chang, ex-general do Exército sul-coreano e presidente adjunto do Conselho sobre Estudos de Segurança Coreia-EUA. "Os desenvolvimentos técnicos exatos que eles fizeram são apenas estimados, mas muitos especialistas agora acreditam que eles serão capazes de lançar um ICBM até o final deste ano", afirma, em entrevista à DW. "E essa é uma preocupação muito séria para a Coreia do Sul."
Em paralelo com a ameaça de um lançamento de ICBM, existem indicações de que a Coreia do Norte está se preparando para realizar um novo teste nuclear subterrâneo em suas áreas de teste de Punngye-ri.
Relatos da mídia sugerem que satélites registraram nova atividade no local, com cientistas se reunindo nas instalações, mais veículos nas proximidades e estradas nas áreas circundantes tendo sido fechadas ao tráfego não militar.
Teste de 10 quilotons
A Coreia do Norte realizou seu último teste nuclear em setembro, com especialistas afirmando que a explosão foi de 10 quilotons, a maior que o país já realizou. "As ações e demandas de Pyongyang têm sido surpreendentemente consistentes por muitos anos", diz Garren Mulloy, professor de relações internacionais na Universidade Daito Bunkyo, do Japão. "Eles querem um diálogo de igual para igual com os EUA, porque querem ser respeitados e querem extrair concessões do resto do mundo. E eles concluíram que a maneira mais provável de ter sucesso com esses objetivos é ameaçar os EUA no mais alto grau possível", acredita.
A maneira mais eficaz de ameaçar os EUA é através do desenvolvimento de sistemas de armas múltiplas, incluindo ogivas nucleares, mísseis balísticos lançados por submarinos e ICBMs, segundo Mulloy.
E os recentes lançamentos de mísseis de longo alcance que sobrevivem à reentrada na atmosfera e descem com precisão sobre o alvo seriam, diz ele, motivo de séria preocupação em Seul, Tóquio e Washington, já que a velocidade em que eles viajam dificulta o trabalho de qualquer sistema de defesa antimísseis, conforme o especialista.
"É claro que eles colocaram uma enorme quantidade de recursos nesses programas de desenvolvimento de armas e fizeram avanços muito mais rápidos do que eu e a maioria dos outros analistas acreditavam ser possível", acrescenta. "Eles podem ter investido tão fortemente em armas nucleares e ICBMs por não acharem que têm outro meio de barganha ".