WASHINGTON – O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, disse neste domingo que a maior parte do programa nuclear e dos mísseis balísticos da Coreia do Norte pode ser desmantelada "em um ano", apesar de o país asiático não ter dado detalhes ao governo dos Estados Unidos sobre seu arsenal atômico.
No entanto,os serviços de inteligência americanos têm, segundo a imprensa americana, informações de que a Coreia do Norte está tentando ocultar parte de seu arsenal nuclear.
Bolton, que esteve presente no encontro do dia 12 em Cingapura entre o presidente americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, fez a estimativa de um ano em uma entrevista à rede de televisão "CBS News", mas ressaltou que a Casa Branca encara as negociações com cautela e não é "ingênua".
"Não há nenhum sentimento iludido no grupo responsável por elas. Somos muito conscientes do que os norte-coreanos fizeram no passado", ressaltou.
Bolton afirmou ainda que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, falará em breve com dirigentes norte-coreanos "sobre como desmantelar todos os programas de armas de destruição em massa e de mísseis balísticos em um ano".
"Se já tomaram a decisão estratégica de fazê-lo e cooperarem, podemos avançar muito rápido, e convém à Coreia do Norte que estes programas sejam desmantelados muito rápido, pois então pode começar a fluir a eliminação de sanções e a ajuda (financeira) de Coreia do Sul, Japão e outros", argumentou.
Bolton reconheceu que para que o plano funcione, a Coreia do Norte deve "revelar totalmente todos os seus programas nucleares, químicos e biológicos, e as situações dos seus mísseis balísticos", o que ainda não ocorreu.
O canal NBC e o jornal The Washington Post informaram neste fim de semana, ambos citando fontes do governo, que o regime de Kim tomou medidas para continuar ocultando alguns locais nucleares secretos, mesmo após a cúpula em Cingapura, na qual o líder norte-norte-coreano se comprometeu a desnuclearizar a Península Coreana.
Segundo a NBC, o regime aumentou a produção de urânio enriquecido nos últimos meses, paralelamente aos contatos que levaram ao histórico encontro entre ambos os líderes.
Segundo os relatórios, os serviços de espionagem americanos obtiveram pistas que permitem concluir que Kim tem a firme intenção de conservar parte de sua reserva nuclear.
A Casa Branca não comentou oficialmente esta informação, mas Bolton não a negou durante uma entrevista neste domingo.
"Simplesmente direi isto: usamos todas nossas capacidades para entender o que a Coreia do Norte está fazendo", disse à Fox News.
"Nenhum dos envolvidos nestas negociações é ingênuo. O presidente disse que não repetirá os erros dos governos anteriores", acrescentou.
A frase possivelmente faz referência aos acordos negociados pelos governos de Bill Clinton e George W. Bush com a Coreia do Norte nos anos 1990 e 2000, que nunca impediram que o país asiático desenvolvesse seu programa nuclear.
Em uma entrevista gravada antes da publicação desta informação e transmitida no domingo, Trump renovou sua confiança no processo.
"Fiz um trato com ele, apertamos as mãos, realmente acredito que está falando sério", disse o presidente sobre o líder norte-coreano na entrevista da Fox News.
"Acredito que querem fazer isso, temos muito boa química", acrescentou em referência a um acordo de desnuclearização.
Provas inequívocas. A reunião de Cingapura conseguiu reduzir as tensões não apenas entre os dois países, mas também na região, como demonstra a recente decisão do Japão de reduzir seu nível de defesa contra possíveis mísseis da Coreia do Norte.
Tóquio decidiu, segundo publicou neste domingo o jornal Asahi Shimbun, não enviar navios equipados com sistemas antimísseis Aegis ao Mar do Japão. O país também suspendeu suas simulações públicas de retirada contra possíveis mísseis norte-coreanos.
Mas o aperto de mãos entre Kim e Trump não levou nem a um cronograma nem a termos específicos para o desmantelamento do arsenal nuclear norte-coreano.
Citando funcionários de inteligência não identificados, a NBC informou que a Coreia do Norte tinha a intenção de "obter qualquer concessão" dos Estados Unidos em vez de abandonar suas armas atômicas.
"Não há evidência de que (os norte-coreanos) estejam reduzindo suas reservas, ou detendo sua produção nuclear", disse um funcionário americano citado pela NBC.
"Há uma evidência absolutamente inequívoca de que estão tentando enganar os Estados Unidos", acrescentou a fonte, embora a Coreia do Norte tenha cessado seus testes nucleares e de mísseis balísticos há vários meses.
O principal centro nuclear da Coreia do Norte é Yongbyon. O local de referência no estudo da Coreia do Norte 38 North anunciou há alguns dias, com base em imagens de satélite, que Pyongyang continuava as operações em sua instalação de enriquecimento e estava em processo de melhorar o centro de pesquisa.
No entanto, adverte o 38 North, este trabalho "não deve ser visto" em relação com a "promessa norte-coreana de desnuclearização". É possível, segundo o meio, que as equipes nucleares "estejam fazendo o habitual enquanto esperam ordens específicas do regime de Pyongyang".
A Coreia do Norte explodiu, no fim de maio, Punggye-ri, onde realizou seus seis testes atômicos, em um gesto de boa vontade antes da reunião com os Estados Unidos.
A próxima reunião de alto nível será entre o líder norte-coreano e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. "Há muito trabalho aqui e lá. Minha equipe já está trabalhando nisso, e voltarei a Pyongyang em breve", disse Pompeo recentemente.