A China revezou tropas na guarnição do Exército Popular de Libertação (PLA) em Hong Kong nesta quinta-feira, dias antes de uma marcha planejada por manifestantes para pedir democracia plena na cidade sob controle chinês depois de três meses de manifestações às vezes violentas.
A mídia estatal chinesa descreveu a movimentação de tropas como rotineira, e diplomatas asiáticos e ocidentais que acompanham a mobilização do PLA na ex-colônia britânica já a esperavam.
Mesmo sendo rotineira, seu cronograma provavelmente causará tensão na “região administrativa especial” de Hong Kong, que foi devolvida à China em 1997.
Os militares chineses farão contribuições ainda maiores para manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong, disse a guarnição do PLA no território, segundo citação da agência estatal de notícias Xinhua.
Os militares finalizaram um revezamento de rotina de forças aéreas, terrestres e marítimas, relatou a agência de notícias. A Xinhua e o Diário do Povo divulgaram fotos e vídeos de veículos blindados de transporte de soldados circulando em comboio por Hong Kong antes do amanhecer com as luzes piscando.
Observadores estimam a guarnição de Hong Kong entre 8 mil e 10 mil soldados divididos em bases do sul da China e uma rede de antigos quartéis do Exército britânico em Hong Kong.
Caminhões cheios de soldados do PLA com luvas brancas entraram em Hong Kong poucas horas após a devolução territorial de 1997, provocando questionamentos sobre seu papel. Eles realizam exercícios com frequência, mas desde então foram vistos fora de suas bases raramente.
Testemunhas da Reuters viram nesta quinta-feira uma atividade consideravelmente maior dentro e no entorno da base militar do PLA em Shek Kong, no interior dos Novos Territórios, do que foi aparente nos últimos meses.
A China criticou os protestos e acusou os Estados Unidos e o Reino Unido de interferirem em seus assuntos em Hong Kong, emitindo sinais claros de que uma intervenção vigorosa é possível.
Neste mês, centenas de agentes da Polícia Popular Armada realizaram exercícios em um estádio esportivo de Shenzhen, que faz divisa com Hong Kong, um dia depois de o Departamento de Estado dos EUA se dizer “profundamente preocupado” com sua movimentação.
O comunicado chinês do ano passado sobre as tropas rotativas disse que o número de soldados em Hong Kong “foi mantido sem alteração”.
Isso não constava do comunicado desta quinta-feira. O porta-voz do Ministério da Defesa, Ren Guoqiang, disse em um boletim mensal de rotina à imprensa que o cronograma da troca de tropas foi semelhante ao de anos anteriores “para atender às exigências da defesa de Hong Kong”.
China rejeitou plano de líder de Hong Kong para apaziguar manifestantes, dizem fontes
No início do segundo semestre, a executiva-chefe de Hong Kong, Carrie Lam, enviou um relatório ao governo chinês avaliando as cinco principais exigências dos manifestantes e revelou que retirar um projeto de lei de extradição polarizador poderia ajudar a desarmar a crise política crescente no território.
O governo central da China rejeitou a proposta de cancelar o projeto de lei de extradição e ordenou que Lam não cedesse a nenhuma das outras exigências dos manifestantes na ocasião, disseram três fontes com conhecimento direto da questão à Reuters.
O papel da China no direcionamento de como Hong Kong lida com os protestos já era suspeitado por muitos, e justificado por comunicados severos a respeito da soberania do país e dos objetivos “radicais” dos manifestantes na mídia estatal.
A rejeição da China à proposta de Lam para resolver a crise, detalhada pela primeira vez à Reuters, representa indícios concretos da extensão do controle chinês sobre a reação do governo de Hong Kong aos tumultos.
O governo central da China repreendeu os protestos e acusou potências estrangeiras de atiçarem a revolta. O Ministério das Relações Exteriores alertou outras nações a não interferirem em Hong Kong diversas vezes, reiterando que a situação no local é um “assunto interno”.
O relatório de Lam sobre os tumultos foi redigido antes de uma reunião sobre Hong Kong em Shenzhen no dia 7 de agosto a cargo de autoridades chinesas de alto escalão, que examinaram a viabilidade das cinco exigências dos manifestantes, e analisou como ceder a algumas delas poderia acalmar os ânimos, disseram os indivíduos com conhecimento direto do tema.
Além da retirada do projeto de lei de extradição, as outras exigências analisadas no relatório foram: um inquérito independente sobre os protestos; eleições totalmente democráticas; o fim do termo “rebelião” na descrição dos protestos; e o fim das acusações apresentadas contra as pessoas que já foram presas.
A retirada do projeto de lei e um inquérito independente foram vistos como os mais viáveis politicamente, de acordo com uma autoridade governamental graduada de Hong Kong, que pediu anonimato para falar. Ele disse que a medida foi vista como uma forma de ajudar a pacificar alguns dos manifestantes mais moderados que se revoltaram com o silêncio de Carrie.
Ela disse que o projeto de lei está “morto”, mas se recusou a dizer explicitamente que ele foi “retirado”.
Outro dos três indivíduos afirmou que “eles disseram ‘não’ a todas as cinco exigências. A situação é muito mais complicada do que a maioria das pessoas percebe”.