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Nota 3 – Os Antecedentes da Guerra

 

Notas de Geopolítica e Estratégia

pelo Prof. Fernando G. Sampaio©

Conferencista e Professor de Pensamento Geopolítico e Estratégico, Escola Superior de Geopolítica e Estratégia (ESGE)

Terror Global – A 4ª Guerra Mundial

Textos publicados originalmente em Outubro de 2001

Nota 1 – Terror Global . A 4ª Guerra Mundial

Nota 2 – O Cenário da Guerra

Nota 3 – Os Antecedentes da Guerra

Nota 4 – O aspecto Religioso da Guerra

(X) Conferencista e Professor de Pensamento Geopolítico e Estratégico, Escola Superior de Geopolítica e Estratégia, Porto Alegre/RS – Brasil

 

Terror Global . A 4ª Guerra Mundial – ( III )

Prof. Fernando G. Sampaio (x)

Nota 3 – Os Antecedentes da Guerra

O Cenário sempre instável do oriente Médio ( ou Oriente Próximo ) vai ser muito agravado, entre 1979/1980, por duas grandes ordens de fatores:

A – A queda do Xá do Irã e o ulterior desenvolvimento do fundamentalismo mais agressivo;

B – A penetração soviética no Afeganistão e a complicação do cenário local pela emergência da crise na Ásia Central,

O que estamos apreciando, é o resultado direto destas ações , em que se destaca a luta interna ( islamita ), que opõe Irã contra Iraque e vai levar este último a uma aventura no Kuwait.

Esta crise, conhecida como Guerra do Golfo ( 1990 ) só foi possível porque o Xá foi derrubado pela oposição esquerdista em frente unida com os aiatólás.

Julgando o Irã muito enfraquecido, o ditador do Iraque atacou com ajuda velada dos estados Unidos, que acharam que poderiam, desta forma, limitar o avanço dos fundamentalistas.

O que se viu foi o oposto. Não foi levado em consideração que, além de muçulmanos ( ou, até, na verdade antes disto ), os iranianos são de orgulhosa e velha nacionalidade persa. Portanto, se opuseram ao avanço iraquiano, que é árabe.

A união nacional disto resultante, fortaleceu o regime fundamentalista em Teerã e lhe emprestou mais vida do que teria, normalmente, uma vez terminados os excessos contra os servidores do Xá e a classe média ocidentalizada.

A emergência de uma guerra entre os dois países, levou todo o mundo muçulmano a se colocar de um ou outro lado e terminou por favorecer o avanço do Império Soviético, em sua última arrancada, que julgou que o enfraquecimento do Irã ( antigo guardião na aliança americana contra a expansão comunista na região), lhe sinalizava momento propício para atingir, quem sabe, as águas quentes do Oceano Índico, através de uma via pelo Paquistão.

Entretanto , isto movimentou todo um complexo jogo de influências, alianças e poderios pela Ásia: a China, aliada ao Paquistão, que lhe serve de contrapeso na retaguarda em sua luta contra a Índia, resolveu apoiar a resistência ao invasor soviético no Afeganistão, duplicando seus fundos, conselheiros e remessas de armas para os campos de treinamento no Paquistão. Imediatamente, contaram com a participação de um estranho aliado, os Estados Unidos, que via na aventura afegã o pântano, onde os soviéticos se desgastariam mais uma vez, uma guerra periférica, novamente travada por procuração.

Assim, nasceu o Talibã e o exército dos mujhaedhins, sendo que o conflito foi escalado, por uma ofensiva ideológica, religiosa e militar do Islã na repúblicas islâmicas soviéticas da Ásia Central, que serviam de rota de acesso e base de suprimentos para as forças soviéticas desdobras no Afeganistão.

A crise ganhou, assim, dimensões asiáticas e serviu para organizar de forma militar o Islã em toda a região, numa ofensiva para ganhar adeptos e lealdade por toda a parte.

Foi nesta situação confusa que o Iraque atacou o Kuwait, em meio a uma trajetória que visava posterior domínio sobre os Emirados do golfo Pérsico e, finalmente, a própria Arábia Saudita.

Os sauditas, extremamente conservadores e detentores de inestimável patrimônio místico -religioso que são as cidades sagradas de Meca e Medina, viram ameaçadas todas as suas heranças e conquistas e não tiveram outra opção senão concordar com uma aliança com os Estados Unidos os demais países ocidentais, sob a bandeira fictícia das Nações Unidas, que mal encobria, na verdade, a presença detestada e temida da Civilização Ocidental intervindo, novamente e diretamente, sobre os territórios mais sagrados do Islamismo.

Foi esta presença de tropas dos "cruzados", dos "francos", que levou os fundamentalistas a se organizarem, ao redor de Bin-Laden e outros líderes, para atacar, uma vez derrotados os soviéticos no Afeganistão, os ocidentais.

O que ocorreu foi um choque religioso e civilizacional,. Foi considerado que a casa dos Saud, apesar de sua correção e puritanismo, haviam traído a herança do "profeta" deixando os ocidentais acamparem seus exércitos no meio do caminho para Meca e Medina.

Esta é a razão não só da defecção e expulsão de Bin-Laden, que perdeu a cidadania saudita. Já antes grupos fanáticos haviam tomado a Grande Mesquita e o Santuário em Meca e tiveram de ser exterminados, com grande baixa para todos.

A posse dos santuários pela casa dos Saud ( os sauditas, descendentes de Abd-al-Aziz ( 1926-1953 ) lhes permitiu, com efeito, dar prosseguimento a uma seita muito conservadora, fundada por Muhammad ibn Abd al-Wahhab ( 1703-1792 ), conhecida como Wahhabita que se tornou instrumento de dominação da maioria da imensa Península Arábica e dando nascimento ao Reino da Arábia Saudita.

Como se trata de conquista recente, ela é contestada por muitos sauditas, para defender sua posição, abriram caminho às bases americanas, o que os permitiu vencer Sadan Hussein, mas os expôs, agora, a uma espécie de maldição, pois os mais fundamentalistas, fanáticos e reacionários entre as lideranças do Islã , os chamam de traidores.

Isto, como se pode verificar, vai trazer complicadores novos para uma reação americana contra os santuários do terror no Afeganistão, com seus desdobramentos e bases nas antigas repúblicas soviéticas (em especial no Tadjquistão, mas também no Uzbequistão, Turcomequistão e Quirquistão) mas também no Paquistão, peça importante, no jogo de poder entre a Índia e a China.

Observamos, assim, que o movimento guerrilheiro, agora transformado em movimento terrorista internacional, com fundamentação religiosa islamita anti-ocidental, afeta, em sua movimentação variados atores do cenários geopolítico:

A- Os árabes ricos em petróleo ( sauditas, emirados, etc.);

B – Os muçulmanos menos ricos em recursos naturais e que ambicionam se apoderar destas riquezas e da herança religiosa, pela posse dos locais de peregrinação;

C- A Comunidade Européia, que enfrenta não só suas comunidades islâmicas muito extensas, como a Guerra Étnica e Religiosa nos Balcãs;

D – Os americanos, que são o alvo primeiro dos atentados fundamentalistas;

E – A Rússia, objeto de subversão, terrorismo e que já trava guerra sangrenta, em seu próprio território, contra o fundamentalismo e apóia sua antigas repúblicas na Ásia Central contra os ataques dos fundamentalistas;

F- o Paquistão, principal base e santuário ( e também, cada vez mais fundamentalista), que precisa de alianças para fazer frente à Índia;

G – A Índia, que tem ambos os lados países islâmicos que lhe criam problemas ( Paquistão e Bangladesh ) e trava uma luta histórica de fronteiras com o Paquistão, mas também com a China;

H – A China, que faz fronteira com o Afeganistão e as repúblicas islâmicas da Ásia Central e que já contra as suas regiões fronteiriças, com movimento terroristas separatistas muçulmano e tem que auxiliar o Paquistão, contrapeso em sua oposição aos indianos.

Como se observa, os interesses imediatos no conflito são imensos, mas os Fundamentalistas não contaram com um fator-chave, essencial: todos estes países, em sua maioria ditaduras ou extremamente autoritária (exceção aos EUA – Comunidade Européia, parcialmente a Índia, que é parlamentar e o Japão, o mais afetado por sua dependência do petróleo do Oriente Médio) tenderão a uma união de esforços, na medida em que o terrorismo fundamentalista ameaça sua estabilidades internas, planos de governo, ambições e alianças e, também, afeta poderosamente suas economias.

Assim a própria grandeza dos interesses envolvidos e afetados pela ofensiva terrorista mundial, acaba por criar um ambiente, também mundial, favorável ao seu extermínio, custe o que custar.

(X) Conferencista e Professor de Pensamento Geopolítico e Estratégico, Escola Superior de Geopolítica e Estratégia, Porto Alegre/RS- Brasil

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