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Negociação suspensa não apaga esperança de fim do conflito armado na Colômbia

Um passo para a frente, dois para trás: as negociações de paz entre o governo colombiano e os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) avançam de forma hesitante.

Depois do progresso promissor no início do mês, a terceira rodada, que deveria começar nesta segunda-feira (18/11) na capital cubana, Havana, foi adiada por tempo indeterminado. Segundo a imprensa local, o adiamento se deve aos preparativos para discutir os sensíveis temas "drogas ilegais" e "desarmamento", que necessitariam de mais tempo, segundo relatos publicados no último fim de semana.

Ainda no início de novembro, o país estava cheio de esperança com as negociações que têm como objetivo acabar com a guerra civil colombiana, que já dura cerca de 50 anos. "Não tenham medo de reveses", exortou o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em discurso na televisão, logo após o acordo sobre as possíveis formas de participação política dos integrantes das Farc.

Há já um ano, em Cuba, representantes do governo colombiano e integrantes das Farc estão negociando a paz. Em maio, eles chegaram a um acordo abrangente sobre a reforma agrária. Deste modo, já estão resolvidos dois dos seis blocos temáticos em discussão. Além do narcotráfico e do desarmamento dos rebeldes, os outros temas são a indenização das vítimas e a implementação concreta do acordo de paz.

Povo quer a paz

Segundo uma pesquisa do "Observatório da Democracia nos Andes", da Universidade de Bogotá, a maioria da população colombiana aprova as negociações de paz em Havana. Dos 1.500 entrevistados nas regiões de conflito, 59% se declararam a favor dos encontros – no restante do país, essa porcentagem é de 53%. A parcela das vozes contrárias fica entre 27% e 33%.
 

Mas quando se trata da aplicação prática, a situação muda de figura: 69% dos entrevistados são contra a participação política de ex-integrantes das Farc; nas regiões atingidas pelos conflitos, essa rejeição sobe para 83%.

Porém, segundo o acordo entre os negociadores firmado no dia 6 de novembro, ex-guerrilheiros poderão representar, na Câmara dos Deputados, as regiões especialmente afetadas pelo conflito, munidos de um mandato "provisório".

"Essa etapa é importante, pois houve um consenso sobre as regras para uma participação política das Farc – para além da criação de um partido político", comentou Sabine Kurtenbach, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo, em entrevista à DW Brasil. Segundo a especialista, o Estado colombiano se comprometeu a garantir a participação de regiões e setores que antes não tinham quase nenhuma representação.

Desde já, as negociações de paz dominam o debate político e também a campanha para a eleição presidencial, marcada para maio de 2014. O atual presidente, Juan Manuel Santos, precisa decidir até o dia 25 de novembro se irá concorrer à reeleição. Seu interesse é concluir o mais breve possível as negociações em Cuba.

Opiniões divergentes

Ao contrário de Santos, nem todos os partidos concordam com a integração das Farc na política nacional. "É repugnante negociar com as Farc sobre um futuro democrático", disse o ex-presidente Álvaro Uribe, acrescentando que a guerrilha é o maior cartel de drogas, sequestros e assassinatos em todo o mundo.
 

O repúdio de Uribe ao grupo guerrilheiro tem longo histórico: em 1983, seu pai foi morto pelos rebeldes, após uma tentativa frustrada de sequestro. Na última semana, essa hostilidade atingiu mais um ápice, quando o ministro da Defesa Juan Carlos Pinzón acusou os guerrilheiros de planejar um atentado contra Uribe.

Como afirmou à imprensa em 12 de novembro, o governo descobriu os planos e aumentou a segurança do ex-presidente. Nesta terça-feira, as FARC negaram os planos numa entrevista à rádio Caracol, dizendo que se trata de uma "informação falsa".

O padre Alberto Franco, da Comissão Ecumênica de Justiça e Paz, espera que as negociações ponham fim ao profundo ódio de ambos os lados. "Nós precisamos criar um clima para que a luta social da guerrilha seja travada sem armas no nível político. Uma coisa é pegar em armas para mudanças sociais, outra é a colaboração de paramilitares com o Exército e a polícia por motivos econômicos", diz o religioso. Suas críticas aos grupos que combatem as Farc inoficialmente já lhe acarretaram diversas ameaças de morte.

Movimento perde força

Contudo, 50 anos após o início da guerra civil, começam a surgir sinais de um possível fim do conflito entre rebeldes e tropas do governo. Cada vez menos colombianos estão dispostos a lutar nas alas da Farc. Segundo o Ministério da Defesa, nos últimos dois anos, quase 5.400 guerrilheiros desertaram, e atualmente o contingente do grupo rebelde se limitaria a cerca de 7 mil homens.

Além disso, o país inteiro parece estar cansado de guerra. Desde a criação das Farc, em 1964, o combate aos latifundiários já fez mais de 200 mil vítimas fatais, segundo uma comissão do governo, e cerca de 3 milhões foram expulsos de suas terras. Outras estimativas falam em 600 mil mortos em meio século de conflito.

No entanto, enquanto as negociações transcorrem em Havana, a luta continua na Colômbia. O governo recusa um cessar-fogo, temendo que os rebeldes se aproveitem para se armar. As Farc só se comprometeram a "depor as armas", não a entregá-las definitivamente.

 

 

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