MINUSTAH – Seminário confirma sucesso do Brasil nos 13 anos de Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti
Nelza Oliveira
Especial para DefesaNet
Nota DefesaNet A parte do Seminário que tratava dos possíveis cenários de Missões de Paz para o Brazil foi publicada em separado, com o título: |
Uma análise em vários aspectos que levaram o Brasil ao sucesso nos longos anos de atuação no Haiti foi feita durante o Seminário Internacional "13 anos do Brasil na MINUSTAH: Lições aprendidas e novas perspectivas", realizado nos dias 28 e 29 de novembro, no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC), na Ilha do Governador, Rio de Janeiro.
O evento, promovido pelo Ministério da Defesa, por meio da Marinha do Brasil, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), a Academia Brasileira de Letras (ABL) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), reuniu militares das três Forças (Marinha, Exército e Força Aérea Brasileira – FAB), autoridades nacionais e internacionais, além de personalidades do mundo acadêmico.
O Seminário foi dividido em sete painéis com temas como os primeiros desafios, planejamento da missão, ajuda humanitária, uso da força e futuro das Operações de Paz.
“A MINUSTAHrepresenta o principal marco da participação brasileira em operações de paz, assim como o maior emprego de forças militares pelo Brasil desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Um indiscutível sucesso da atuação brasileira envolvendo mais de 37 mil militares de nossas Forças Armadas por si só já representa um grande feito, sendo motivo de orgulho para todos nós”, disse o Comandante da Marinha, o Almirante-de-Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, na abertura do evento.
Como o Comandante da Marinha, quase todos os palestrantes enalteceram o trabalho dos militares brasileiro.
“O Haiti estava à beira de uma guerra civil e, passados esses 13 anos, deixamos um país melhor. Tivemos, pela primeira vez na história do país, uma sequência de dois presidentes democraticamente eleitos. Antes era raríssimo um presidente conseguir concluir um mandato, quanto mais dois. Fizemos o melhor que podíamos para melhorar aquele país e a missão foi cumprida. Em termos de Brasil, também foram muitas as lições aprendidas, as Forças Armadas brasileiras estão mais treinadas e capacitadas para assumir novos desafios, bem como adquiriram um preparo maior para a própria defesa do país, que é a nossa missão precípua”, destacou o Contra-Almirante (FN) Carlos Chagas Vianna Braga, Comandante do CIASCe Assistente do Primeiro Force Commander MINUSTAH, o General de Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira.
Durante o período que o Brasil esteve no Haiti, o país atravessou pelo menos três grandes catástrofes: furacão Mathew, em outubro do ano passado, causando cerca de 900 morte; o terremoto, em 2010, que deixou mais de 200 mil mortos; e o surto de cólera, matando mais de 4,5 pessoas. O papel dos brasileiros foi imprescindível na ajuda humanitária nos eventos.
Embaixador do Brasil no Haiti na época em que houve o terremoto, Igor Kipman lembrou que o hospital da Força Aérea Brasileira (FAB) realizou 36.028 procedimentos médicos e mais 1.145 cirurgias num prazo de pouco mais de quatro meses.
“Nós trouxemos um aprendizado muito grande sobre a integração das Forças Armadas com a comunidade”, disse o diplomata.
Em alguns momentos, principalmente no início, foi preciso usar a força. O embaixador José Viegas Filho, antigo Ministro da Defesa à época do início da MINUSTAH, lembrou que naquele período o mundo ainda se ressentia muito com as dúvidas e problemas estratégicos que afetaram as missões de manutenção da paz das Nações Unidas como no anos 90 e em especial do massacre dos Bósniosna cidade de Srebrenica, na antiga Iugoslávia, quando as tropas da Força de Proteção das Nações Unidas (UNPROFOR) não conseguiram evitar o massacre que matou mais de 8 mil muçulmanos por sérvios da Bósnia.
“Foi absolutamente lamentável e provocou uma mudança muito cara e profunda na condução das operações de paz. A causa principal foi a estrutura de comando da missão de paz na Iugoslávia que requeria autorização dupla do país cujos representantes militares na operação participariam da ação e da ONU ao mesmo tempo. Isso provocou um atraso nas tomadas de decisão e uma possibilidade de divergência entre a direção do país membro da operação e o comando da ONU. A questão deixou marcas muito profundas e prejudicou a imagem das operações de paz”, disse o embaixador.
Ele acredita que a realização da MINUSTAH trouxe para o Brasil uma oportunidade que foi rigorosamente bem desenvolvida pelos militares do país de recuperar tanto quanto possível a doutrina da ONU sobre operações de paz.
“Respeitando a situação política que o país vivia e aumentando de maneira significativa as operações de socorro da população, além de ter voltado a reforçar o caráter doutrinário original das operações de paz. Isso fortaleceu e muito o prestígio do Brasil. Uma oportunidade para nós mostrarmos essa competência que nós temos na área, o que deixa a todos muito orgulhosos e eleva o Brasil para um patamar de confiabilidade respeitável”, acrescentou.
Além das palestras e debates, houve exposição com viaturas utilizadas nas missões no Haiti e demonstrações operativas de simulações de vivência no país caribenho em terra e no mar na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), onde o Brasil comanda, desde 2011, a Força-Tarefa Marítima. A demonstração no mar mostrava a abordagem e ajuda a refugiados e também de repressão a ilícitos. Já as ações em terra foram divididas em demonstração do uso gradual da força, pista de tiro em combate e ajuda à vítimas em evento de desastre natural. O público do seminário chegou ao local da demonstração terrestre embarcado em viaturas blindadas Piranha usadas no Haiti.
A MINUSTAHfoi criada por Resolução do Conselho de Segurança da ONU em fevereiro 2004. O objetivo era restabelecer a segurança e a normalidade após sucessivos episódios de turbulência política e violência que culminaram com a partida para o exílio do então presidente Jean Bertrand Aristide. A missão foi encerada em outubro passado. Durante os 13 anos, o Brasil foi responsável pelo comando militar, que teve ainda a participação de tropas de outros 15 países.