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Merkel perde apoio em meio à crise de refugiados

Além da questão migratória, preocupação com segurança após ataques em Colônia afeta popularidade da chanceler federal entre alemães, aponta pesquisa. Mesmo assim, Merkel ainda é a favorita como chefe de governo.

O apoio da população alemã à chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e ao seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), caiu na última semana. Uma pesquisa do Instituto Forsa divulgada nesta quarta-feira (20/01) aponta que a preferência por Merkel como chefe do governo, no caso de uma votação fictícia nos moldes de uma eleição presidencial, caiu 4 pontos percentuais em relação à semana passada, ficando em apenas 44%.

Já a CDU perdeu um ponto percentual de apoio em uma semana, ficando com 37% – o pior índice de aprovação da legenda do governo desde novembro passado.

A queda na popularidade de Merkel e da CDU é registrada em meio à crise de refugiados e à maior preocupação dos alemães com segurança após a série de ataques a mulheres na noite de réveillon em Colônia .

"Após o Ano Novo em Colônia e o ataque a turistas alemães em Istambul , muitos cidadãos estão pensando não somente sobre a crise de refugiados, mas também sobre o combate ao terrorismo e à criminalidade", disse presidente do Forsa, Manfred Guellner.

Apesar da queda na popularidade, os resultados da pesquisa mostraram que Merkel continua sendo a favorita para o governo. Um possível concorrente, o vice-chanceler federal e ministro da Economia da Alemanha, Sigmar Gabriel, do Partido Social Democrata (SPD), foi o preferido de apenas 16% dos entrevistados, tendo subido um ponto percentual.

Para a pesquisa, o Forsa entrevistou 2.501 eleitores entre os dias 11 e 15 de janeiro.

Áustria limita drasticamente entrada de refugiados

Governo austríaco aprova teto para requerentes de asilo e pretende acolher apenas 37 mil em 2016, menos da metade do que em 2015. Presidente alemão defende que limite seja discutido.

O chanceler federal austríaco, Werner Faymann, anunciou nesta quarta-feira (20/01) que a Áustria planeja reduzir o número de refugiados que receberá em seu território neste ano. Em 2016, o país pretende acolher 37,5 mil, menos da metade dos 90 mil aceitos em 2015.

"Não podemos acolher todos os requerentes de asilo na Áustria, nem a Suécia e nem a Alemanha", disse Faymann, em Viena, após uma cúpula nacional sobre o tema. O chefe de governo afirmou ainda que o país pretende acolher no máximo 127,5 mil refugiados nos próximos quatro anos, o equivalente a 1,5% da população austríaca.

Faymann disse que essa decisão foi debatida minuciosamente com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. O governo austríaco pretende ainda intensificar o controle nas fronteiras.

A Alemanha não quis comentar a decisão da Áustria. "O governo alemão continua defendendo uma solução europeia que vise a enfrentar as causas da fuga, para reduzir o número de refugiados significativamente e de maneira duradoura", afirmou o porta-voz Steffen Seibert.

Gauck faz alerta

A crise de refugiados também foi tema no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Durante o discurso de abertura, o presidente da Alemanha, Joachim Gauck, alertou nesta quarta-feira sobre a ameaça de rachas na União Europeia (UE) diante do problema e defendeu um limite no número de refugiados.

"Queremos realmente que uma grande obra histórica, que trouxe paz e prosperidade para a Europa, seja destruída com a questão dos refugiados?", questionou Gauck. "Ninguém, realmente, ninguém pode querer isso", completou.

O presidente criticou duramente a falta de solidariedade na Europa com a crise. Segundo ele, uma limitação do fluxo de refugiados é moralmente justificável e pode ajudar na obtenção de aceitação.

"Se os democratas não quiserem falar sobre um limite, eles estarão cedendo espaço para populistas e xenófobos", disse o presidente.

Gauck afirmou ainda que a segurança das fronteiras externas não significa isolamento, mas controle e monitoramento. Além disso, ele criticou a retomada de controles nas fronteiras internas da Europa e reforçou que a perda da liberdade de circulação não é a solução.

"Schengen em perigo"

Com o avanço do fluxo migratório, vários países europeus que fazem parte do espaço Schengen retomaram o controle de passaportes em suas fronteiras, para tentar conter a migração. Na terça-feira, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, alertou sobre a ameaça à zona de livre-circulação, caso a crise de refugiados não seja solucionada em dois meses.

"As estatísticas do período natalino não são animadoras, com mais de 2 mil migrantes chegando à União Europeia por dia", afirmou Tusk para parlamentares em Estrasburgo. Segundo o polonês, a cúpula europeia que acontecerá em meados de março será o último momento para verificar se a estratégia do bloco está funcionando.

"Se não estiver, enfrentaremos consequências graves, como o colapso da Schengen", completou Tusk. O espaço de livre-circulação abrange 26 países do bloco e existe desde 1985.

TV russa instrumentaliza refugiados em propaganda anti-UE

Aproveitando a onda da crise migratória, Canal 1 noticia sobre suposto estupro de garota de origem russa por migrantes em Berlim. Polícia local desmente. Episódio evoca notícias falsificadas no conflito da Ucrânia.

É de arrepiar os cabelos a história que Canal 1 da televisão russa apresentou a seus telespectadores no noticiário principal da noite do sábado (16/01). Uma menina de 13 anos de origem russa foi supostamente raptada em Berlim, colocada num carro e levada a um apartamento, onde foi estuprada durante todo um dia. Uma mulher, apresentada pela reportagem como tia da vítima, descreveu detalhes terríveis.

Nem os pais nem a garota foram entrevistados. Em vez disso, diversos russos residentes da capital alemã tomaram a palavra para desabafar sua ira. "Se é assim, vamos responder à violência com violência", ameaçou um homem. Outro, suposto tio da menina estuprada, acusou a polícia de encobrir os criminosos.

No fim de semana uma porta-voz da polícia berlinense desmentiu à Deutsche Welle a versão das mídias russas: não houve nem rapto nem estupro. Nesta segunda-feira, em comunicado, o órgão de segurança reiterou o desmentido: no início da semana, uma garota fora dada como desaparecida no bairro de Marzahn-Hellersdorf, mas foi localizada pouco depois.

Solo fértil para imagens apocalípticas

Como fonte de sua reportagem, a TV russa indicou o pouco conhecido portal de internet Genosse.su, que se autodefine como "site dos alemães soviéticos". Dedicado especialmente à vida dos alemães de origem russa, ele representa a Convenção Internacional dos Alemães da Rússia. Essa associação baseada em Berlim anunciou seu apoio à manifestação de "alguns alemães de origem russa" em 23 de janeiro, em que se pretende protestar "contra a violência" diante do prédio da Chancelaria Federal.

Tudo indica que para parte dos russos tais notícias caem em solo fértil, sendo muito debatidas nas mídias sociais. Nos últimos meses os meios de comunicação do país têm informado amplamente sobre a crise de refugiados na Alemanha, pintando um quadro sombrio, apocalíptico da situação.

A notícia de que refugiados também estariam supostamente envolvidos nas agressões sexuais contra mulheres na noite de réveillon em Colônia foi divulgada como uma confirmação dos piores temores; muitos especialistas da Rússia consideram a Alemanha e a União Europeia condenadas ao ocaso.

Também os cerca de 6 milhões com raízes russas ou soviéticas que vivem na Alemanha assistem à TV russa. Até agora não houve nenhum estudo científico sobre sua posição relativa aos refugiados. Fato é que, depois dos acontecimentos em Colônia, alguns russos da Alemanha procuram, em seus blogs, acirrar os ânimos contra os migrantes.

O escritor russo residente em Berlim Wladimir Kaminer afirma não acreditar, no entanto, que seus compatriotas na Alemanha sejam particularmente críticos quanto aos refugiados. "Sim, russos na Alemanha assistem à TV russa", disse o autor à DW. "Mas eles sempre têm uma alternativa, como olhar para as ruas ou escutar os relatos das mídias alemãs."

"Fim da Europa" – o filme

O noticiário do Canal 1 sobre o suposto estupro em Berlim lembra os relatos parcial ou completamente falsos das mídias russas no conflito da Ucrânia. O exemplo mais conhecido é o assim chamado "menino crucificado".

Numa reportagem da mesma emissora em julho de 2014, afirmava-se que, na cidade de Sloviansk, no leste da Ucrânia, soldados do país teriam fixado a pregos sobre uma tábua – "como Jesus" – um garoto de três anos de idade. Posteriormente, a emissora admitiu não ter verificado a história contada por uma "testemunha ocular". Não houve pedido de desculpas.

Para o editor e especialista em mídia baseado em Londres Peter Pomerantsev, a emissora russa em questão não faz jornalismo no sentido ocidental do termo. "Não creio que Canal 1 se interesse particularmente por fatos", comentou à DW.

"O que os russos fazem está mais próximo do gênero do filme de ficção, é uma espécie de cinema". O tema central dessa película seria "o fim da Europa". "Esse é um tema muito importante, pois o poder do presidente russo Vladimir Putin se alicerça na ideia da total falta de alternativa: se a nossa situação é ruim, ela está mal por toda parte."

Para Pomerantsev, notícias como a da garota em Berlim se destinam principalmente ao público na Rússia, visando apresentar a Europa sob uma luz pouco atraente. Wladimir Kaminer concorda: "Acho que essa notícia da televisão russa foi pensada, em primeira linha, para o público doméstico, a fim de apresentar aos cidadãos os 'horrores' da vida na Europa. As piores notícias sobre a Alemanha nós sempre ficamos sabendo na Rússia", ironiza o escritor russo.

 

 

 

 

 

 

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