Por Gina Harkins
(publicado originalmente por Marine Corps Times)
As lições de duros combates enfrentados no Iraque e no Afeganistão estão sendo usadas nas selvas montanhosas do Peru, onde Fuzileiros Navais dos EUA têm ajudado as forças militares daquele país a combater insurgentes e traficantes de drogas.
Uma pequena equipe de cooperação em segurança do Corpo de Fuzileiros Navais do Comando Sul retornou aos Estados Unidos no final de novembro após uma missão de treinamento de seis semanas em Villa Rica, um distrito na província de Oxapampa, na região central do Peru. Trata-se de uma área montanhosa repleta de florestas densas, semelhante à que há no Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro (VRAEM), uma região peruana que permanece como um local de resistência para o grupo terrorista Sendero Luminoso.
Os Fuzileiros Navais peruanos enfrentam uma luta contínua contra o grupo insurgente, que ressurgiu nos últimos anos desde que estabeleceu parcerias com cartéis de drogas em um país que se transformou no principal produtor mundial de cocaína.
Os peruanos recorreram aos Fuzileiros Navais americanos para obter dicas sobre contrainsurgência para enfrentar essas e outras ameaças locais. O Almirante Luis De La Flor Rivero, comandante do Corpo de Fuzileiros navais peruanos, disse ao Marine Corps Times que combater a insurgência e os cartéis no VRAEM era sua prioridade nº 1. A cada seis meses ele designa aproximadamente 600 de seus fuzileiros para atuarem naquela região.
Em um movimento similar ao que os Fuzileiros Navais americanos viram durante os enfrentamentos no Iraque e no Afeganistão, De La Flor Rivero afirmou que está trabalhando para aumentar o tamanho de sua força de 3.500 para 6.500 Fuzileiros Navais, com o propósito de elevar o tempo de permanência de suas tropas no período entre missões. À medida que mais Fuzileiros Navais são enviados para lutar no VRAEM, o treinamento feito por eles junto aos Fuzileiros Navais americanos é essencial, afirmou o almirante.
O Almirante de Esquadra John Kelly, comandante do Comando Sul dos EUA, visitou o VRAEM em setembro para discutir com líderes peruanos como os Estados Unidos poderiam aprimorar a parceria com eles e trocar conhecimentos de combate. Kelly disse ao Marine Corps Times, durante uma entrevista em Lima, que os peruanos estavam interessados em reagir ao crescente uso de artefatos explosivos improvisados (IEDs) por insurgentes e cartéis para ataque às suas tropas.
De La Flor Rivero afirmou que os insurgentes estão constantemente desenvolvendo novas técnicas de fabricação de IED, porém, por meio do aprimoramento do conhecimento, seus Fuzileiros Navais podem combater melhor esta ameaça.
"Que forma melhor de fazer isso do que unir as experiências vivenciadas por nossos fuzileiros no VRAEM com as experiências dos Fuzileiros Navais americanos em seus conflitos? Ao colocá-los juntos e trocar essas ideias, aumentamos nosso conhecimento sobre o problema e encontramos melhores maneiras de evitar esse tipo de arma."
O Sargento de Artilharia, Tim Lynch, um técnico em descarte de material bélico explosivo, afirmou que trabalhou com os peruanos para ajudá-los a identificar e lidar com os tipos de artefatos explosivos improvisados que provavelmente encontrarão em suas missões. As ameaças que enfrentam incluem uma combinação de aspectos que os Fuzileiros Navais americanos viram em todo o mundo, incluindo armadilhas explosivas que mutilaram e mataram seus militares nas selvas do Vietnã.
Lynch disse que o terreno era totalmente oposto ao que os Fuzileiros Navais dos EUA estavam acostumados no Afeganistão ou Iraque e que isso representa desafios únicos aos peruanos. Eles percorrem matas com facões e abrem caminho pela vegetação, o que pode levar muito tempo. No entanto, escolher rotas mais curtas e mais utilizadas significa que terão mais probabilidade de encontrar IEDs, afirmou.
Eles treinaram com aproximadamente 120 Fuzileiros Navais, logo enviados ao VRAEM, e cerca de 50 comandos peruanos. Lynch disse que os comandos têm técnicos em descarte de materiais explosivos (EODs), treinados para lidar com as ameaças, contudo, as informações eram novas para muitos deles.
Em setembro, Fuzileiros Navais americanos com a Força Tarefa Aeroterrestre dos Fuzileiros Navais para Objetivos Especiais do Sul, uma unidade que navegou pela América do Sul a bordo do navio de assalto anfíbio America, ensinou aos peruanos outro fator relacionado a IEDs: métodos de salvamento em combate.
"Com a experiência de combate que vivenciamos, ensinamos a eles como controlar uma hemorragia, o que pode salvar vidas," afirmou o Sargento Médico de 1ª Classe, Clarence Perry. "Eles lidam com infecções devido ao ambiente da selva, então querem saber como podem usar as plantas em seu redor."
Perry afirmou que os peruanos não têm acesso aos equipamentos médicos que os Fuzileiros Navais e membros das forças médics EUA utilizam, então queriam aprender sobre como podem usar seus materiais para ajudar a salvar as vidas dos seus colegas.
"Nem sempre eles têm macas para carregar seus pacientes, então nos ensinaram alguns modos de transporte e como usar uniformes para improvisar e levar seus colegas de volta à área segura", afirmou.
O Segundo Sargento Edgar Alvarado, instrutor de treinamento de guerra em áreas montanhosas, que acabou de retornar de Villa Rica, disse que o terreno com o qual os peruanos lidam faz com que seja vital que os equipamentos sejam bons e resistentes para retirar militares feridos. Desse modo, demonstrou a eles como assegurar que os cabos usados para rapel e criação de pontes estejam firmes.
"Eu disse a eles para pensar da seguinte maneira: "Quando um cabo fica ruim?", "Quando você perde a fé em um cabo? Porque há uma vida em risco."
Alvarado disse que ver a atuação dos peruanos no terreno da selva deu a ele ideias sobre como os Fuzileiros Navais americanos realizam treinamento de guerra em áreas montanhosas. Os peruanos são inovadores, afirmou, e demonstram que há mais de uma maneira de fazer algo. Ele disse que planeja compartilhar algumas das dicas com sua cadeia de comando para treinar os Marines dos EUA para operar em terreno montanhoso.