Nicolás Maduro disse nesta quarta-feira (1º/05) que a Justiça está em busca dos responsáveis pela revolta militar que foi contida na terça-feira pelo governo, e que estes, "mais cedo ou mais tarde", pagarão com a prisão pelo crime de traição.
"Estão fugindo de embaixada em embaixada", disse Maduro diante de milhares de simpatizantes, que se reuniram nos arredores do Palácio Presidencial de Miraflores para celebrar o Primeiro de Maio, em referência ao líder opositor Leopoldo López, a quem não mencionou diretamente.
"A Justiça está em busca dos responsáveis e, mais cedo ou mais tarde, eles pagarão com prisão por sua traição e seus crimes", acrescentou o ditador. "Aqui não são as balas nem os fuzis que vão impor um presidente marionete em Miraflores, é absolutamente inviável", afirmou Maduro. "Nos próximos dias mostrarei todas as provas de quem conspirou e como conspirou para que o povo saiba quem são os traidores e que a Justiça faça a sua parte", acrescentou.
López burlou a pena de quase 14 anos que cumpria em seu domicílio e acompanhou o presidente do Parlamento venezuelano, Juan Guaidó, que é reconhecido por mais de 50 países como presidente interino da Venezuela, em seu discurso aos militares, no qual pediu que se voltassem contra Maduro.
Durante a manhã de quarta-feira, o opositor compareceu em várias concentrações da oposição no leste de Caracas e depois se refugiou na residência do embaixador da Espanha em Caracas, Jesús Silva. As palavras de Maduro também faziam alusão a Guaidó, que liderou as manifestações da oposição em Caracas e cujo paradeiro é desconhecido.
A Justiça venezuelana já tem duas linhas de investigação contra o líder do Parlamento: uma por ter proclamado um governo interino e outra pelos apagões que deixaram quase todo o país paralisado e às escuras em março passado.
Maduro também acusou o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, de ter conduzido pessoalmente a revolta de uns 20 militares, que classificou de "escaramuça golpista". "Assim denuncio e peço que se averiguem nos Estados Unidos as ações ilegais e golpistas de John Bolton contra a democracia venezuelana", disse Maduro.
Guaidó disse nesta quarta-feira que continuará libertando os presos políticos, depois que intercedeu pela libertação de López. "Vamos seguir libertando os presos políticos, (como) Juan Requesens, Gilber Caro", afirmou o líder opositor diante de centenas de simpatizantes no leste de Caracas próximo a Petare, a maior favela do país.
"Estamos mais fortes, mais determinados", insistiu o deputado, que recebeu apoio nas ruas depois da revolta militar fracassada que liderou na terça-feira ao lado de alguns militares.
Guaidó afirmou que López, que cumpria em casa uma pena de quase 14 anos de prisão, foi libertado por funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) que cumpriram sua ordem de presidente interino, depois que ofereceu a eles "anistia e garantia de indultos".
De acordo com a ONG Foro Penal, desde o início deste ano 1.693 pessoas foram detidas na Venezuela por crimes de consciência ou por se manifestarem contra o governo de Maduro, mas a maior parte já foi libertada ou está cumprindo medidas cautelares.
A ONG acrescentou que 755 pessoas permanecem atrás das grades por razões políticas, entre elas os opositores Roberto Marrero, o principal colaborador de Guaidó, e o deputado Juan Requesens, acusado de participar do atentado com bombas contra Maduro em agosto do ano passado.
Guaidó também assinalou que falará "com qualquer funcionário" que o ajude a derrubar Maduro do poder e a instalar um governo de transição que convoque eleições livres, uma ideia que ele vem repetindo desde que chegou à presidência da Assembleia Nacional, em janeiro.
No discurso aos seus seguidores, Guaidó anunciou que os trabalhadores públicos venezuelanos iniciam a partir desta quinta-feira uma greve escalonada, até chegar a uma paralisação geral no país. "Amanhã [quinta-feira] vamos acompanhar a proposta que nos fizeram de greves progressivas, até conseguir uma greve geral. Todos os setores vão se integrar nesse processo", disse.
Guaidó falou para milhares de venezuelanos em El Marquês, no leste de Caracas, durante uma das concentrações convocadas pela oposição para assinalar o Dia Internacional do Trabalho.
A organização não governamental Observatório de Conflitos (OVCS) afirmou nesta quarta-feira que uma mulher de 27 anos foi morta com um tiro na cabeça durante o segundo dia de protestos contra Maduro. Na terça-feira, um homem de 24 anos foi morto durante os protestos ocorridos no estado de Aragua, no centro. As duas mortes não foram confirmadas oficialmente.
A Venezuela vive uma enorme tensão política desde janeiro deste ano, quando Maduro tomou posse de um novo mandato que não é reconhecido pela oposição e por parte da comunidade internacional, e Guaidó se autoproclamou como presidente de um governo interino que conta com o apoio de mais de 50 países.
Paralelamente, o país sul-americano vive a pior crise econômica de sua história, o que gera protestos diários para denunciar a escassez severa de alimentos e remédios e a péssima prestação de serviços públicos. EFE