O governo Nicolás Maduro confiscou nesta quarta-feira (19/04), sem qualquer aviso prévio, a única fábrica da General Motors (GM) na Venezuela. A montadora americana reagiu com indignação e anunciou o cancelamento de suas operações no país.
Caracas não se manifestou sobre o motivo do confisco. Mas, no passado, tanto Maduro como seu antecessor, Hugo Chávez, usaram expropriações para provocar os Estados Unidos e desviar a atenção da grave crise econômica e da tensão política interna- o governo Maduro enfrenta uma série de protestos nos últimos dias.
Em comunicado, a montadora denunciou que carros e outros bens da empresa foram levados, causando um prejuízo irreparável.
A GM tem mais de 2.700 funcionários no país, onde é líder no mercado automotivo há 35 anos, e chamou a decisão de arbitrária.
"A fábrica da GMV (General Motors Venezuelana) foi tomada de forma inesperada pelas autoridades, impedindo um funcionamento normal. Também outros bens da companhia, como veículos, foram retirados ilegalmente de suas instalações", afirmou a empresa.
Maduro com frequência acusa os Estados Unidos de estarem por trás de planos golpistas para derrubá-lo. Mas não está claro se a expropriação seria uma retaliação a isso. A General Motors opera na Venezuela desde 1948.
A fábrica da GM fica na cidade de Valencia, no norte do país, e nos últimos anos teve a linha de produção seguidas vezes interrompida por falta de peças e restrições à importação.
Em geral, a produção de carros na Venezuela está praticamente interrompida em meio à grave crise. A GM, por exemplo, não produzia um carro completo desde 2015.
A economia venezuelana teve contração de 18% no último ano, tem uma das taxas de inflação mais altas do mundo, e sua população vive com constante falta de alimentos e medicamentos.
Cerca de 70 distribuidoras da GM continuarão a oferecer assistência e fornecer peças dos veículos. As operações da GM na América Latina representam uma parcela pequena das atividades da empresa. No ano passado, a montadora avaliou que países latino-americanos continuam a apresentar desafios macroeconômicos e problemas políticos.
Empresas têm encerrado negócios na Venezuela como resultado da inflação crescente e a grave crise econômica do país. Companhias como a Bridgestone, a maior fabricante de pneus do mundo, Ford Motor e Procter & Gamble abandonaram os investimentos na Venezuela devido às práticas autoritárias do regime de Maduro.
Maduro acusa empresa de telefonia de incentivar protestos
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusou a operadora de telefonia móvel Movistar de incentivar os clientes a aderirem aos protestos antigoverno da quarta-feira (19/04), na capital Caracas, convocados pela oposição venezuelana.
Segundo Maduro, Movistar teria sido subornada para convocar protestos da oposição
"Eu denuncio (a Movistar) e pedi a abertura de uma investigação", disse Maduro em pronunciamento televisivo. "Eles se juntaram à chamada pelo golpe contra o país."
Segundo o presidente, subornada por políticos da oposição, a subsidiária da companhia espanhola Telefónica S.A. enviou mensagens de texto aos clientes pedindo que participassem da "mãe de todas as marchas".
Nesta quinta-feira, milhares de venezuelanos voltaram às ruas em protesto contra Maduro, um dia depois da jornada de manifestações que terminou com três mortes, vários feridos e mais de 500 detidos.
A convocação foi feita pelo ex-candidato presidencial Henrique Capriles, que exige libertação de presos políticos, realização de novas eleições e abertura de um canal humanitário para a entrada de alimentos e medicamentos no país.
Os protestos contra o regime de Maduro se intensificaram há três semanas, depois da divulgação de duas sentenças em que o Supremo Tribunal de Justiça concede poderes especiais ao chefe de Estado, limita a imunidade parlamentar e assume as funções do parlamento. A decisão foi revertida após pressão internacional.
Desde então, pelo menos nove pessoas foram assassinadas, dezenas ficaram feridas e centenas foram detidas pelas autoridades venezuelanas durante as manifestações, que têm sido fortemente reprimidas pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB, a polícia militar) e a Polícia Nacional Bolivariana (PNB).
Países latino-americanos condenam violência
Nesta quinta-feira, nove governos da América Latina condenaram em comunicado conjunto a violência na Venezuela e lamentaram as mortes ocorridas nos protestos a favor e contra Maduro.
"Condenamos energicamente a violência desencadeada na Venezuela e lamentamos a perda de mais vidas", diz o documento divulgado em Bogotá, assinado pelos governos da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Paraguai, Peru e Uruguai.
"Juntamo-nos à declaração feita pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, instando à adoção de medidas concretas de todas as partes para reduzir a polarização e criar as condições necessárias para enfrentar os desafios do país, em benefício do povo venezuelano", diz o comunicado.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou preocupação com os crescentes confrontos na Venezuela. "A ONU insta o governo e a oposição da Venezuela a se esforçarem para reduzir as atuais tensões e evitar mais confrontos."
Ataque contra hospital infantil
Nesta quinta-feira, grupos armados atacaram um hospital infantil na área de El Valle, em Caracas, durante confrontos entre manifestantes e forças de segurança. O governo e a oposição trocaram acusações sobre a autoria do ataque.
Confrontos entre forças de segurança e oposição em Caracas deixaram mortos e feridos
A ministra das Relações Exteriores da Venezuela, Delcy Rodríguez, escreveu no Twitter que "grupos armados contratados pela oposição" atacaram o hospital, que atendia 54 crianças. Ela acrescentou que Maduro "deu a ordem de esvaziar o hospital para proteger as crianças e recém-nascidos".
Já o deputado da oposição José Manuel Olivares desmentiu a versão da ministra. "Crianças do Hospital Materno Infantil Hugo Chávez foram afetadas pelas bombas lacrimogêneas lançadas pela GNB", publicou no Twitter.
Na região de El Valle, registraram-se vários saques a estabelecimentos comerciais e confrontos entre forças de segurança e grupos de manifestantes, que montaram barricadas nas ruas, ateando fogo em pneus. Agentes da PNB e da GNB empregaram gás lacrimogêneo para dispersar os protestos.