Um tribunal russo condenou nesta segunda-feira (21/03) a militar ucraniana Nadezhda Savchenko pelo assassinato dos jornalistas Igor Kornelyuk e Anton Voloshin. Ela também foi considerada culpada pela morte de civis e por cruzar ilegalmente a fronteira com a Rússia. O julgamento é considerado como "uma farsa política" por Kiev e pelo Ocidente.
Savchenko "cometeu o assassinato premeditado e por motivos de ódio e inimizade", considerou um juiz na cidade de Donetsk, citado por agências de notícias russas. A piloto de aviação pode pegar pena de prisão de até 23 anos.
Segundo o veredicto, ela teria agido por ordens de um comandante de um batalhão localizado na cidade de Schastye, na região de Lugansk. De acordo com o texto, Savchenko, "com treinamento militar e experiência militar em ações no Iraque", teria escolhido por vontade própria participar do batalhão Aidar, que combate a insurgência separatista em Lugansk, no leste da Ucrânia.
A ucraniana negou as acusações, afirmando que o caso "se baseia em mentiras". No início do mês, ela iniciou uma greve de fome em protesto contra o julgamento.
Em agosto, seu advogado Ilya Novikov afirmou que o processo se tornava "cada vez mais absurdo". "A acusação do assassinato de dois jornalistas foi alterada para incluir a travessia ilegal da fronteira. Este é um sinal claro de que a promotoria tem muito pouco para prosseguir."
Kiev contesta a acusação de que ela teria entrado no país ilegalmente, afirmando que a ex-piloto foi sequestrada por separatistas pró-Rússia envolvidos no conflito no leste da Ucrânia e, posteriormente, entregue às autoridades na Rússia.
Em 2014, Savchenko – considerada uma heroína de guerra em seu país – deixou seu posto nas Forças Armadas ucranianas para aderir voluntariamente ao batalhão Aidar.
Segundo os promotores russos, ela teria fornecido às forças ucranianas informações sobre a localização de separatistas próximos a Lugansk. Diversas pessoas, inclusive os dois jornalistas russos, morreram quando a região foi alvo de ataques pelas forças de Kiev.
Aumenta tensão militar
Após avanço de militantes com armamento russo no leste da Ucrânia, Kiev acusou Moscou de conduzir uma "guerra". A Rússia começou então, em março de 2014, a tomar bases militares na Crimeia. A Ucrânia preparou a retirada de seus cidadãos da península e disse que autoridades do governo não puderam entrar no território. O Ocidente começava aumentar a pressão sobre Moscou com sanções.
República Popular de Donetsk
Em abril de 2014, os separatistas proclamaram a República Popular de Donetsk e ampliaram o domínio sobre o leste do país, ocupando Horlivka. O líder separatista ucraniano Vyacheslav Ponomaryov rejeitou negociações sobre a libertação de sete inspetores da OSCE enquanto vigorassem as sanções da União Europeia contra personalidades públicas russas e ucranianas.
Leste busca anexação à Rússia
Depois de um controverso “referendo”, líderes de Donetsk e Lugansk passaram a buscar a integração ao território russo. No dia 12 de maio de 2014, as duas regiões declararam independência. Insurgentes pediram que Moscou anexasse as regiões, mas o governo de Putin se distanciou da ideia. Pró-russos ignoraram acordo para paz e não entregaram armas.
A queda do MH17
Um avião da Malaysia Airlines, que partiu de Amsterdã com destino a Kuala Lumpur, foi alvejado por separatistas pró-Rússia no dia 17 de julho de 2014. No voo MH17 havia 280 passageiros e 15 tripulantes. A maior parte era de nacionalidade holandesa. Dez dias depois, peritos ainda não tinham acesso aos destroços do avião devido aos combates.
Leste empossa líder pró-Moscou
Em novembro de 2014, o chefe interino da chamada República Popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko, venceu por ampla maioria as eleições na região rebelde. Lideranças políticas e militares ignoraram que Kiev e grande parte do Ocidente não reconheciam a votação. Kiev acusou a Rússia de estar movimentando tropas e enviando equipamentos às regiões separatistas do Leste.
Negociações em Minsk
No fim de 2014, o número de deslocados internos chegaram a 460 mil segundo a ONU. Após seis meses de acordos de cessar-fogo violados, i governo da Ucrânia e rebeldes separatistas retomaram negociações de paz em 24 de dezembro de 2014 em Minsk, capital de Belarus. Além do cessar-fogo duradouro, estiveram em pauta a retirada de armas pesadas, a ajuda humanitária e a troca de prisioneiros.
Acumulando fracassos
No início de fevereiro de 2015, confrontos entre as tropas do governo da Ucrânia e separatistas pró-russos intensificaram-se em Donetsk, Lugansk e Debaltseve, na sequência do fracasso das negociações de um cessar-fogo para a região. Debaltseve, sob controle de Kiev, interliga por via ferroviária Donetsk e Lugansk, ocupadas pelos rebeldes.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, fizeram em fevereiro uma viagem surpresa a Kiev e Moscou antes da Conferência de Munique, em um novo esforço diplomático. Eles levaram uma proposta baseada no respeito à integridade territorial da Ucrânia. Novos números do conflito foram divulgados: mais de 5.100 mortos e 900 mil deslocados desde abril de 2014.
Longas negociações levam ao cessar-fogo
Depois de horas de negociação em Minsk, chefes de governo da Ucrânia, Rússia, Alemanha e França, além de líderes separatistas, chegaram a um acordo sobre o cessar-fogo no leste da Ucrânia. Foi definida a retirada das armas pesadas da linha de frente dos combates. A Europa aumentou os esforços para a paz especialmente depois de os EUA avaliarem a possibilidade de enviar armas e munição à Ucrânia.