Reportagem publicada esta semana pelo jornal alemão Die Zeit compara a atual crise política brasileira com as intrigas da série americana House of Cards, onde o inescrupuloso político Frank Underwood faz de tudo para acumular e manter poder, chegando até a presidência dos EUA.
"Por estes dias, é difícil entender por que ainda há pessoas que se interessam por House of Cards. Elas não acompanham as notícias da política brasileira?", pergunta o correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Thomas Fischermann.
"Há um promotor que quer meter na cadeia um ex-presidente, cuja metade de sua equipe já está atrás das grades. Um presidente parlamentar que teria colocado milhões em propinas em contas na Suíça, mas que, mesmo assim, continua no cargo e, com acusações de corrupção, quer afastar outros políticos do poder. E há protestos nas ruas, nos quais pessoas pedem o retorno da ditadura militar. Elas dizem: num sistema político falido como esse, qual a diferença?", diz a reportagem.
Em seguida, Fischermann lembra que, recentemente, a revista americana Americas Quarterly comparou a crise política brasileira com a popular série do serviço de streaming Netflix – e concluiu que a política brasileira é bem mais interessante. Desde então, mais coisas aconteceram, escreve o jornalista. Segundo ele, os acontecimentos "cheios de aventuras" dos últimos dias são fora do normal até mesmo para os padrões brasileiros.
A reportagem afirma que a oposição tenta, desde a eleição de outubro de 2014, derrubar Dilma e tentou incriminá-la no escândalo da Petrobras. "Só que, para decepção deles, Dilma não tinha nada que ver com isso", escreve o correspondente.
"Nem mesmo as determinadas equipes de promotores nem a imprensa investigativa (frequentemente ligada à oposição, pois financiada por oligarcas) conseguiu comprovar algo de concreto. E isso não se deu por falta de afinco", afirma.
Em seguida é relatado o andamento do processo de impeachment, o "bloqueio total do parlamento pela oposição" e as recentes ações da Justiça contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reportagem lembra até a polêmica nas redes sociais por causa da equivocada referência a "Marx e Hegel" no pedido de prisão preventiva de Lula.
Para o autor, a única coisa que falta nessa história da política brasileira é uma moral. "Claro que se pode afirmar categoricamente – como fazem alguns manifestantes por esses dias – que todos os políticos suspeitos de corrupção deveriam ser varridos para fora. Mas aí não sobraria quase ninguém em Brasília. A única possível exceção seria justamente Dilma Rousseff."
Manifestações contra Dilma superam atos anteriores
A maior das cinco jornadas de protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff e o PT reuniu mais de 3 milhões de pessoas em todo o Brasil, segundo cálculos da PM, de organizadores e do Instituto Datafolha, e as manifestações transcorreram de forma pacífica.
Além de criticar o governo e o PT, os manifestantes também expressaram apoio ao juiz federal Sérgio Moro, responsável por julgar os processos resultantes da Operação Lava Jato, e à Polícia Federal, que executa as operações de busca e apreensão da operação.
A ampla maioria dos manifestantes vestia verde e amarelo ou carregava símbolos nacionais, como a Bandeira do Brasil. Os bonecos infláveis de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em trajes de presidiários também estavam presentes na versão reduzida, vendida por camelôs.
Em meio a uma crise política cada vez mais profunda, a grande participação popular ns protestos eleva ainda mais a pressão sobre a presidente, que enfrenta uma tentativa de impeachment, no momento parada por ação da Justiça na Câmara dos Deputados.
Como nas quatro vezes anteriores, o maior de todos os protestos aconteceu em São Paulo, onde meio milhão de pessoas se reuniram na Avenida Paulista e imediações, segundo cálculos do Instituto Datafolha. Com isso, a manifestação na capital paulista é maior do que a da Diretas Já, em 1984. A PM calculou que 1,4 milhão de pessoas compareceram.
Pelo menos seis movimentos ocuparam a Avenida Paulista com carros de som para pedir a saída de Dilma. O Vem Pra Rua, um dos movimentos que liderou e convocou os protestos deste domingo, deu início ao ato às 15h, com o Hino Nacional e a liberação de balões. Os manifestantes, porém, já ocupavam a avenida desde as 10h. O principal ponto de encontro das lideranças oposicionistas foi o palco montado pelo Movimento Brasil Livre, em frente ao Masp.
Diversos políticos e parlamentares de partidos de oposição estiveram presentes no ato. Ao se aproximarem do Masp, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador mineiro Aécio Neves foram vaiados pelos manifestantes. "Nós estamos aqui como cidadãos, respeitando a pluralidade nessa sociedade tão múltipla como a nossa e na busca daquilo que nos une, o fim desse governo", disse o senador.
No Rio de Janeiro, a manifestação durou cerca de cinco horas e ocupou vários quarteirões nas duas faixas da Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, zona sul da cidade. A Polícia Militar acompanhou a manifestação com viaturas e um helicóptero. Não foram registrados confrontos nem incidentes graves.
A PM não divulgou número de manifestantes, mas os organizadores estimaram que de 750 mil a 1 milhão de pessoas participaram do protesto, que ocupou cerca de dez quarteirões da orla. A apresentação do Hino Nacional encerrou a manifestação. A multidão começou a se dispersar por volta das 15h.
Em Brasília, a manifestação de apoio ao combate à corrupção e a favor do impeachment de Dilma foi realizada na Esplanada dos Ministérios e terminou ao som do Hino Nacional e gritos de "Fora, PT". Segundo a Polícia Militar, 100 mil pessoas estiveram presentes, e não houve registro de atos violentos. O percurso dos manifestantes começou no Museu da República e foi até o Congresso Nacional, em um total de dois quilômetros.
No Recife, a PM calculou que 120 mil pessoas participaram do ato contra o governo, que aconeceu na orla da capital pernambucana, no bairro de Boa Viagem. Sob um sol intenso, três trios elétricos e um carro de som puxaram o ato.
Em Belo Horizonte, os manifestantes se concentraram às 10h na Praça da Liberdade, na região centro-sul da capital mineira. De dois carros de som eram organizados os discursos pelos líderes dos grupos Patriotas, Movimento Brasil Livre e Vem pra rua, entre outros. O senador Aécio Neves também compareceu e fez coro aos pedidos de impeachment de Dilma. De acordo com a Polícia Militar, o protesto reuniu cerca de 30 mil pessoas. A manifestação começou a se dispersar por volta das 13h.
Em Salvador, os manifestantes se reuniram às 10h na Barra, bairro de classe média. O ato acabou no meio da tarde. Segundo a Polícia Militar, cerca de 20 mil pessoas participaram do protesto, que se encerrou no Farol da Barra, onde houve dispersão dos participantes por volta das 13h.
Em Curitiba, a manifestação contra o governo reuniu 120 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. Em Porto Alegre, os manifestantes contrários ao governo se reuniram no Parcão, enquanto os apoiadores de Dilma e Lula se concentraram no parque da Redenção.