O ataque fatal em Paris serve como um lembrete claro de que os jihadistas estão em guerra contra aqueles com quem discordam e o mundo deve confrontá-los, disse o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, nesta quinta-feira.
"O movimento jihadista internacional declarou guerra. Eles declararam guerra contra qualquer um que não pense e aja exatamente como eles desejam”, disse Harper a jornalistas quando perguntado sobre o ataque de quarta-feira.
"Podemos não gostar e desejar que isso desapareça, mas isso não vai desaparecer, e a realidade é que nós teremos que confrontá-lo.”
Harper fez os comentários enquanto na França continua a caçada aos dois irmãos suspeitos de serem os agressores islâmicos que mataram 12 pessoas no ataque a um jornal semanal em Paris.
Harper disse que as dúvidas no Canadá sobre a realidade da ameaça que os extremistas representam deveriam ter desaparecido em 22 de outubro, quando um homem matou um soldado e invadiu o Parlamento.
Suspeito procurado por ataque em Paris treinou no Iêmen, dizem fontes
Um dos dois irmãos suspeitos de cometerem um ataque contra um jornal satírico francês visitou o Iêmen em 2011 para treinar com militantes de um grupo ligado à al Qaeda, disseram fontes europeias e norte-americanas próximas à investigação nesta quinta-feira.
As fontes afirmaram que Said Kouachi, de 34 anos, esteve no Iêmen durante alguns meses para treinar com a al Qaeda na Península Arábica (AQAP), uma das afiliadas mais ativas do grupo extremista rebelde.
Ele e seu irmão Cherif, de 32 anos, são procurados em toda a França depois que 12 pessoas foram mortas por atiradores islâmicos na redação do jornal semanal Charlie Hebdo em Paris na quarta-feira.
Os dois suspeitos nasceram na França, de pais argelinos. Ambos haviam estado sob vigilância policial. Cherif foi preso por 18 meses por tentar viajar ao Iraque uma década atrás para lutar como parte de uma célula islâmica.
Uma autoridade iemenita familiarizada com o assunto disse que o governo do Iêmen estava ciente da possibilidade de uma conexão entre Said Kouachi e a AQAP e estava investigando essa possível ligação.
As fontes disseram que depois que Said Kouachi voltou para a França vindo do Iêmen, os dois irmãos pareciam ter recuado de quaisquer atividades que pudessem ter atraído a atenção das agências francesas de segurança ou espionagem.
Elas disseram que nos meses que antecederam o ataque de quarta-feira, os homens não eram tratados como alvos prioritários pelas agências francesas de combate ao terrorismo.
Na época em que Said Kouachi foi para o Iêmen, um dos principais líderes inspiradores e organizacionais da AQAP era Anwar al Awlaki, um pregador de destaque nascido nos EUA responsável por difundir a mensagem militante do grupo para o público europeu e de língua inglesa.
Não se sabe se Said Kouachi teve algum contato com Awlaki, que foi morto em setembro de 2011 num ataque com veículo aéreo não tripulado atribuído à Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês).
Alguns investigadores acreditam que a morte de Awlaki pode ter contribuído para a decisão dos irmãos de recuarem de suas intenções, mas outros investigadores dizem que ainda é muito cedo para chegar a tal conclusão.
Investigadores estão tentando estabelecer o significado, se houver, das ligações dos irmãos com a AQAP ou qualquer outro grupo islâmico radical.
Um dos mortos no ataque de Paris foi o editor do Charlie Hebdo, Stéphane Charbonnier, que desenhou caricaturas sob a rubrica "Charb".
Na primavera passada, a "Inspire", uma revista em língua inglesa publicada pela AQAP, estampou um gráfico intitulado "Procurado vivo ou morto" que incluía o nome e a fotografia de Charbonnier. Não houve evidência de imediato de que isso teria inspirado o ataque de Paris.