O Japão pode suspender o financiamento à Unesco devido à decisão da agência da ONU de incluir em um programa oficial documentos relacionados ao Massacre de Nanquim em 1937, disse uma autoridade do governo japonês, o que motivou uma resposta ácida da China, qualificando a ameaça de "chocante e inaceitável".
O legado amargo da agressão militar do Japão à China antes e durante a Segunda Guerra Mundial ainda assombra os laços entre as duas maiores economias da Ásia, 70 anos após o fim do conflito.
A Unesco, agência encarregada da proteção do patrimônio mundial, incluiu o processo apresentado por organizações chinesas na última listagem de seu programa "Memória do Mundo", destinado a preservar materiais históricos importantes.
O secretário-chefe do gabinete japonês, Yoshihide Suga, disse nesta terça-feira ser "problemático" que a Unesco tenha tomado essa decisão, apesar das visões conflitantes do Japão e da China.
O Japão diz haver dúvidas sobre a autenticidade dos documentos. O painel que tomou a decisão consistiu de especialistas em preservação de documentos, não historiadores que possam verificar a veracidade do conteúdo, disse uma fonte do governo japonês.
"O governo gostaria de pedir justiça e transparência no programa Memória do Mundo, para que não seja usado com fins políticos", disse Suga. "Quanto à contribuição (financeira) do Japão (à Unesco), pretendemos olhar para todas as possibilidades e revisões, incluindo a suspensão dos pagamentos", disse ele em entrevista coletiva.
O Japão contribuiu com 3,72 bilhões de ienes (31 milhões de dólares) para a Unesco em 2014, cerca de 10,8 por cento de seu orçamento total.
Em Pequim, a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, disse não haver nada de errado com os documentos ou o processo de candidatura.
"O Japão pode ameaçar retirar o financiamento para o órgão competente das Nações Unidas, mas não pode apagar as suas manchas na história. Quanto mais ele esfrega, mais escuras ficam", disse ela em seu encontro diário com a imprensa.
A China diz que as tropas japonesas mataram 300 mil pessoas no massacre. Um tribunal dos Aliados no pós-guerra estimou os mortos em metade desse número.