A Justiça italiana condenou à prisão perpétua 24 políticos e militares sul-americanos por mortes e desaparecimentos de 23 opositores de origem italiana no âmbito da Operação Condor, aliança entre ditaduras militares da América do Sul nas décadas de 1970 e 1980.
Os magistrados do Tribunal de Apelação de Roma consideraram o grupo composto por militares e policiais desses países responsáveis por intervir na operação militar acordada entre as ditaduras sul-americanas para sequestrar e executar dissidentes.
Todos os 24 repressores foram sentenciados à revelia, com exceção do ítalo-uruguaio Jorge Tróccoli, ex-capitão e portador de passaporte italiano, que compareceu à primeira audiência do julgamento realizado em fevereiro de 2015 e é o único que reside livremente na Itália.
"Exijo que a Itália prenda Tróccoli. Ele era um assassino em série, executava pessoas. Ele deve ser detido. Nós esperamos 41 anos para obter justiça. Nunca é tarde demais", disse Nestor Gomez, irmão de Celica Gomez, desaparecida em 1978 e que trabalhava na agência estatal argentina de notícias Telam.
A lista de condenados pelo tribunal italiano à prisão perpétua inclui os nomes de Luis García Meza, ditador boliviano que morreu em abril e 2018, e seu ministro do Interior, Luis Arce Gómez, além do ex-presidente peruano Francisco Morales Bermúdez, seu primeiro-ministro Pedro Richter Prada, morto em julho de 2017, o ex-militar peruano Germán Ruiz e o ex-ministro do Exterior uruguaio Juan Carlos Blanco.
Somam-se a eles sete ex-militares chilenos e 11 ex-militares uruguaios. Todos foram condenados por homicídio voluntário com agravantes e deverão também arcar com os custos do julgamento. A sentença foi proferida após quatro anos de audiências, às quais compareceram parentes, especialistas e companheiros de cela das vítimas.
Os juízes do Tribunal de Apelação de Roma revertam parte da decisão de 2017, que estabeleceu oito penas de prisão perpétua e absolveu 19 acusados sob a alegação de que os crimes estavam prescritos. A nova sentença foi saudada por autoridades sul-americanas e provocou emoções entre familiares e representantes das vítimas, que assistiram à leitura da sentença.
"É uma sentença muito importante e estimulante para o Uruguai e para as vítimas", afirmou Miguel Toma, secretário da Presidência do Uruguai.
"Viemos até Roma para apoiar a luta contra a impunidade e porque temos a obrigação de não esquecer", disse o vice-ministro da Justiça da Bolívia, Javier Moncada.
As investigações sobre a estratégia dos regimes militares sul-americanos começaram há mais de 15 anos, em consequência de queixas apresentadas na Itália por familiares de italianos mortos ou desaparecidos. Entre eles estava a italiana Aurora Melloni, viúva de Álvaro Daniel Banfi, metralhado junto com outros militantes de esquerda em outubro de 1974, na Argentina.
"A condenação dos principais responsáveis por este plano é uma enorme satisfação. Com esforço e perseverança é possível obter justiça. Isso é importante para os jovens, para as gerações futuras, ante aos ventos que sopram agora", disse Melloni.
Após uma longa investigação, o promotor italiano Giancarlo Capaldo entrou com uma ação contra um grupo de 34 ex-oficiais e civis, policiais e agentes de serviços secretos de Chile, Uruguai, Bolívia e Peru, vários dos quais já morreram.
Devido a uma série de impedimentos burocráticos, a Justiça italiana decidiu julgar separadamente 50 argentinos, assim como vários paraguaios e brasileiros pelos mesmos crimes.