Qualquer conflito na região do Golfo poderia se espalhar descontroladamente e ameaçar as vidas de tropas norte-americanas, disse um importante comandante militar iraniano neste domingo, depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que imporá mais sanções à República Islâmica.
Ao sinalizar mais sanções, Trump também afirmou no sábado que quer um acordo para impulsionar a economia do Irã, em uma aparente ação para aliviar as tensões após o abate de um avião não-tripulado dos EUA na semana passada pela República Islâmica.
Trump disse que abortou um ataque militar em retaliação à derrubada do drone pelo Irã porque a medida poderia ter matado 150 pessoas.
“Nem o Irã nem qualquer outro ator hostil deve confundir a prudência e discrição dos Estados Unidos com fraqueza. Ninguém deu a eles uma licença de caça no Oriente Médio”, disse o assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton, durante uma visita a Israel neste domingo.
O Irã afirmou que responderá com firmeza a qualquer ameaça contra o país e advertiu também neste domingo sobre os riscos de um confronto militar.
“Se for disparado um conflito na região, nenhum país conseguirá administrar seu alcance e duração”, disse o major general Gholamali Rashid, segundo a agência de notícias semioficial Fars.
“O governo americano deve agir de forma responsável para proteger as vidas das tropas americanas, evitando condutas impróprias na região”, acrescentou.
As tensões na região começaram a piorar significativamente quando Trump deixou um acordo nuclear de 2015 entre o Irã e seis potências e voltou a impor sanções ao país. As sanções haviam sido suspensas sob o pacto em troca de promessas dos iranianos de restringir seu programa nuclear.
O Irã está sentindo os efeitos das sanções, disse Bolton a jornalistas, acrescentando que o Irã jamais será autorizado a ter armas nucleares.
“A contínua busca de armas nucleares pelo Irã, suas ameaças de exceder os limites estabelecidos no fracassado acordo nuclear iraniano nos próximos dias … não são sinais de uma nação buscando a paz”, disse Bolton.
“As sanções estão machucando (o Irã), e outras foram adotadas na noite passada”, disse ele. “O Irã nunca pode ter armas nucleares – não contra os EUA e não contra o mundo”.
Israel, aliado dos EUA que durante muito tempo ameaçou ataques contra o programa nuclear do Irã, sinalizou o apoio à posição de Trump.
“Com o devido respeito ao fato de que 150 iranianos foram poupados de um destino cruel, a grande questão é a política americana, (que) serve absolutamente os interesses do mundo e de Israel ao evitar que o Irã obtenha armas nucleares”, afirmou o ministro da Cooperação Regional, Tzachi Hanegbi, à Rádio Israel.
PRAZO NUCLEAR
As tensões no Golfo só podem ser tratadas politicamente e a prioridade deveria ser a redução das tensões e o diálogo, disse uma autoridade sênior dos Emirados Árabes Unidos (EAU) neste domingo.
“Essa crise há muito exige atenção coletiva, principalmente para desescalar e encontrar soluções políticas por meio do diálogo e das negociações”, escreveu no Twitter o ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros do EAU, Anwar Gargash.
O Irã pode reduzir ainda mais o cumprimento de seu acordo nuclear em duas semanas, a menos que os países europeus o protejam das sanções dos EUA por meio de um mecanismo comercial, disse o chefe do Conselho Estratégico de Relações Exteriores de Teerã.
“Se os europeus não tomarem medidas dentro do prazo de 60 dias (anunciado pelo Irã em maio), daremos novos passos”, disse Kamal Kharazi, ex-ministro das Relações Exteriores, à agência de notícias semioficial ISNA.
“Seria um passo positivo se eles colocarem recursos no Instex (o planejado mecanismo comercial europeu) e …tornassem o comércio possível”, disse Kharazi. “Temos que ver nas próximas duas semanas se eles apenas prometem ou tomam medidas práticas.”
Kharazi falou depois de se encontrar com o ministro da Grã-Bretanha para o Oriente Médio, Andrew Murrison, que visitou Teerã para conversas “francas e construtivas” e pediu uma desescalada urgente na região, segundo o Ministério das Relações Exteriores.
Enquanto isso, legisladores iranianos gritavam “morte à América” durante uma sessão parlamentar neste domingo, depois que um orador acusou os Estados Unidos de serem um “verdadeiro terrorista”.
“A América é um verdadeiro terrorista no mundo, espalhando o caos em países, dando armas avançadas a grupos terroristas, causando insegurança. E ainda assim diz ‘venha, vamos negociar’”, disse o vice-presidente do parlamento, Masoud Pezeshkian, no início de uma sessão transmitida ao vivo pela rádio estatal.
“Morte à América”, cantavam muitos parlamentares durante a sessão.
Os cantos, muitas vezes repetidos desde a revolução islâmica de 1979, que derrubou o xá apoiado pelos Estados Unidos, vieram semanas depois de Trump dizer em uma entrevista à televisão norte-americana: “Eles (iranianos) não têm gritado ‘morte à América’ ultimamente”.