Um relatório divulgado nesta quarta-feira (06/07) em Londres criticou o ex-primeiro-ministro Tony Blair e seu governo pela decisão de se unir à invasão do Iraque, liderada pelos EUA, sem que houvesse base legal satisfatória ou planejamento adequado.
Com base numa investigação iniciada há sete anos, o chamado relatório Chilcot conclui que o Reino Unido se uniu à invasão sem esgotar as alternativas pacíficas e subestimou as consequências de sua participação na guerra.
"Concluímos que as circunstâncias em que se decidiu que havia uma base legal para a ação militar eram longe de satisfatórias", disse John Chilcot, que presidiu a comissão de inquérito, ao apresentar os resultados.
O inquérito concluiu que Saddam Hussein não representava uma ameaça iminente em março de 2003 e que o caos que se instaurou no Iraque e na região após a deposição do ex-ditador deveria ter sido previsto.
Até 2009, a invasão e a subsequente instabilidade no país haviam resultado na morte de ao menos 150 mil iraquianos, a maioria deles civis, e 179 soldados britânicos, além de terem desalojado mais de 1 milhão de pessoas, afirma o documento. Alguns dos parentes dos soldados mortos compareceram ao evento de divulgação dos resultados do inquérito.
Apoio incondicional
O relatório contém 2,6 milhões de palavras – cerca de três vezes mais que a Bíblia – e inclui detalhes das conversas sobre a invasão entre Blair e o então presidente americano, George W. Bush. Segundo Chilcot, em 2002, Blair prometeu a Bush apoio incondicional para invadir o Iraque.
O chefe da comissão de inquérito também afirmou que Blair superestimou sua habilidade de influenciar as decisões dos EUA sobre o Iraque. Além disso, a avaliação do governo de Blair sobre a ameaça representada pelas supostas armas de destruição em massa do Iraque foi "apresentada com uma certeza injustificada".
"Ficou claro que a política sobre o Iraque foi adotada com base em informações e avaliações falhas", afirmou Chilcot.
Os efeitos da invasão americana e britânica, ocorrida em 2003, são sentidos até hoje no Iraque. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) controla grande áreas do país, e no último sábado mais de 200 pessoas morreram em Bagdá no pior ataque com carro-bomba desde que a coalizão liderada pelos EUA derrubou Saddam.
Trump elogia Saddam por matar terroristas
O magnata e provável candidato republicano à Casa Branca Donald Trump elogiou nesta terça-feira (05/07) Saddam Hussein por matar "terroristas", voltando a manifestar apoio a ditadores do Oriente Médio.
"Saddam Hussein foi um cara do mal, certo? Mas sabe o que ele fez bem? Ele matou terroristas. Ele fez isso muito bem", disse Trump num comício em Raleigh, na Carolina do Norte. "Eles não liam os direitos para eles, não conversavam. Eram terroristas, e ponto."
Trump disse anteriormente que o mundo seria "100% melhor" se ditadores como Saddam, do Iraque, e Muammar Kadafi, da Líbia, ainda estivessem no poder.
Antes de ser invadido pelos EUA, o Iraque havia sido listado pelo governo americano como um financiador do terrorismo. Para Trump, os EUA não deveriam, porém, ter "desestabilizado" o Iraque, que agora serve de viveiro para o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI).
"Hoje o Iraque é Harvard para o terrorismo", afirmou, se referindo à prestigiada universidade americana. "Se você olhar para o Iraque de anos atrás, não estou dizendo que ele era um cara bonzinho, ele era um cara terrível, mas [o país] era muito melhor do que agora."
"Lições distorcidas"
Pouco depois dos comentários de Trump, a campanha da rival democrata Hillary Clinton se manifestou sobre o apoio a Saddam, que foi enforcado no Iraque em 2006 por ordenar a morte de cerca de 150 xiitas duas décadas antes. O ditador também foi acusado de cometer uma série de atrocidades e matar centenas de milhares de pessoas, usando inclusive gás venenoso contra curdos.
"Hoje Trump voltou a louvar Saddam Hussein como um grande assassino de terroristas […] Na realidade, o regime de Saddam financiava o terrorismo", afirmou Jake Sullivan, conselheiro político de Hillary, em comunicado.
"Os elogios de Trump a ditadores brutais e as lições distorcidas que ele parece ter aprendido com a história deles voltam a demonstrar quão perigoso ele seria como líder e quão indigno ele é para o cargo que busca", disse Sullivan.
O republicano Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes, não apoiou Trump quando questionado sobre os comentários do magnata. "Saddam foi uma das piores pessoas do século 20. Ele cometeu genocídio contra seu próprio povo usando armas químicas", disse Ryan à emissora Fox News.