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Indígenas amazônicos multiplicam ações para defender seus territórios

LIMA, 7 Out 2011 (AFP) -Os indígenas bolivianos que marcham há mais de um mês contra a construção de uma estrada seguem os passos de nativos de Brasil, Equador e Peru para defender a Amazônia, que tem concentrado nos últimos anos vários projetos de extração e infraestrutura, os quais consideram uma ameaça para sua sobrevivência.

No Brasil, a principal mobilização indígena na Amazônia é contra a construção da faraônica hidrelétrica de Belo Monte, no estado amazônico do Pará, que suscita a oposição das comunidades vizinhas do rio Xingu.

A represa está destinada a ser a terceira maior do mundo, avaliada em 11 bilhões de dólares e deve ter potencial para produzir 11.200 MW (cerca de 11% da capacidade instalada brasileira).

Diretor do filme arrasa-quarteirões "Avatar", o canadense James Cameron deu eco internacional à campanha contra a represa, assim como o cantor britânico Sting.

Indígenas e colonos "vão até as últimas consequências para evitar que este desastre se concretize", afirmou a ativista Antônia Melo à AFP.

A urgência do Brasil em conseguir energia elétrica com base em represas na Amazônia é uma das grandes preocupações atuais dos nativos da região.

Analistas destacam que nos próximos 10 anos o Brasil precisará de uma capacidade adicional de produção de 50.000 MW (50% de sua demanda atual), pelo qual promove a construção de hidrelétricas na Bolívia e especialmente no Peru.

Em 2009, Brasil e Peru assinaram um acordo para a implantação de 6 hidrelétricas nos rios da selva peruana para abastecer o Brasil, das quais as maiores são Inambari e Pakitzapango, que gerarão 2.000 MW cada.

Mesmo sem terem sido aprovados ainda, já existe no Peru uma forte mobilização contra os dois projetos.

A indígena Olga Cutipa, presidente da Frente de Defesa do Inambari, e Ruth Buendía, ''ashaninka'' que luta contra a construção da represa Pakitzapango, destacam as razões pelas quais se opõem aos projetos, que resumem a filosofia dos amazônicos.

"Não somos ciganos, não vão nos levar a qualquer lugar", disse Cutipa, enquanto Buendía se pergunta, "por que sempre somos os mesmos a pagar o custo do progresso?".

Na Bolívia, os nativos rejeitam um projeto defendido pelo governo do presidente Evo Morales e financiado pelo Brasil para construir uma estrada que ligará os Andres à Amazônia, passando por uma reserva natural protegida.

As tensões entre governo e indígenas na Bolívia ocorreram em outros países – inclusive com saldos trágicos – no que analistas percebem como uma luta entre um modelo extrativista e outro que respeita o meio ambiente defendido pelos nativos.

Este confronto chegou ao clímax no Peru em 5 de junho em 2009: 34 pessoas – 24 policiais e 10 indígenas – morreram próximo ao povoado amazônico de Bagua, quando as autoridades tentaram desobstruir uma estrada tomada fazia meses por nativos que pediam para ser consultados sobre os projetos de mineração e petróleo impulsionados pelo governo.

Foram os indígenas amazônicos equatorianos os primeiros a se mobilizar contra os projetos que afetavam seus territórios.

Em 1996, o povo Sarayaku iniciou um processo de resistência depois que o Estado deu em concessão e sem consulta 60% de seu território a um consórcio petroleiro argentino-americano. Ao fim, a oposição dos indígenas impediu que se explodisse a reserva.

Em meados de setembro, a Conaie – principal organização indígena do Equador – anunciou que prepara uma marcha em Quito para exigir que seus membros sejam consultados sobre a execução de projetos de mineração.

A Conaie apoiou a ascensão de Correa ao poder, mas depois o acusou de liderar uma "política extrativista pós-neoliberal", crítica que ele, por sua vez, rotulou de "ecologismo infantil".

"Nós pensamos que o desenvolvimento é a exploração de recursos naturais, como gás, petróleo e mineração, e custamos a entender que haja outro tipo de desenvolvimento, por exemplo, cuidando do meio ambiente, mas que seja possível", disse à AFP em La Paz Ivan Arias, especialista boliviano em temas amazônicos.

Já "para os indígenas, a terra é um fator de vida; não têm a visão de gerar desenvolvimento explorando o próprio meio ambiente. Não é que queiram continuar vivendo em palhoças ou nas cavernas, mas têm uma visão diferente da nossa", acrescentou.

Em Lima, o analista político Mirko Lauer alertou que "um cálculo conservador indica que cerca de 200 etnias desapareceram na Amazônia, 30 delas no Peru".

"Os amazônicos demonstraram que podem se mobilizar juntos, estão gerando uma corrente mundial de apoio entre organismos similares; os interesses da globalização e a possibilidade de assediar cidades amazônicas são o tipo de alavancas para negociar que não tinham antes", informou.

jlv/rm/jb/mvv/dm

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