José Quintero construiu um pequeno estande logo atrás da passagem de fronteira entre a Venezuela e a Colômbia, apenas um pedaço de pano fornece sombra contra o sol dos trópicos. Ele é um dos milhares de venezuelanos que atravessam quase diariamente a hoje famosa ponte Simon Bolívar, a fim de trabalhar em Cúcuta, do outro lado.
O pagamento é em pesos colombianos, bem aceitos também no país vizinho, assolado pela hiperinflação. "Eu ficaria feliz se não só a Colômbia, mas também outros países ajudassem a Venezuela", comenta Quintero à DW. "Essa ajuda é urgentemente necessária, devido ao mau trabalho de governo Nicolás Maduro."
Em Cúcuta, o principal tema de conversas é a assistência anunciada pela oposição venezuelana. O autoproclamado presidente interino Juan Guaidó, reconhecido como tal entre outros por EUA, potências europeias e o Brasil, prometera fornecimentos humanitários no contexto de seu plano de resgate Plan País, declarando-os prioridade.
O interesse da mídia também é grande na cidade fronteiriça. Equipes de TV nacionais e internacionais montam suas câmeras, mas ainda não há caminhões atravessando a ponte carregados de mantimentos. Pelo contrário: na terça-feira (05/02) o departamento de imigração colombiano divulgou fotos em que um contêiner e um carro-tanque bloqueiam as pistas.
A passagem de fronteira, com inauguração programada para 2016, até agora não está em funcionamento. A crônica crise diplomática entre Caracas e Bogotá impediu até agora sua entrada em funcionamento. Atrincheirado no poder, Maduro rejeita a ajuda anunciada, dizendo: "Não somos mendigos." Em vez disso, critica os Estados Unidos severamente: se os americanos quisessem ajudar seu país, diz, deveriam suspender as sanções e os bloqueios bancários.
As ONGs participantes dessa ação, como a Cruz Vermelha, ficaram mais reticentes e só aceitam assumir a distribuição dos mantimentos se houver um acordo entre as partes rivais. A conferência episcopal venezuelana exigiu que o governo emita as licenças necessárias. A Caritas nacional, que no passado informou sobre a subnutrição aguda das crianças venezuelanas, deverá distribuir os mantimentos juntamente com a Cruz Vermelha e outras ONGs, caso eles sequer cheguem ao país.
No momento, não parece que esse vá ser o caso. Guaidó tenta coordenar a ajuda e procurou contato com os prefeitos locais. Devido à vitória eleitoral controversa de Maduro em 2018, toda a oposição se recusa a reconhecer seu segundo mandato, iniciado em janeiro.
Guaidó necessita do apoio das forças de segurança para implementar seu plano, porém não o obteve até o momento. O carro-tanque e o contêiner na estrada são uma indicação de que o longo braço do regime de Maduro ainda chega até a região da fronteira.
As notícias sobre a perspectiva de apoio humanitário trazem esperanças a muitos venezuelanos. Alguns se reuniram durante o dia na passagem bloqueada. Em resposta, o diretor do departamento de imigração colombiano, Christian Krüger, frisou que a ajuda não será distribuída em território colombiano. Aparentemente as autoridades temem que uma distribuição diretamente em Cúcuta provoque um afluxo de necessitados da Venezuela.