Durante um evento nesta quinta-feira na Casa Branca, Hillary Clinton disse sua viagem a Brasília tratará de "temas globais".
"Quando eu for ao Brasil na semana que vem, minhas conversas serão sobre os grandes desafios da atualidade, da Síria e o Irã ao crescimento e desenvolvimento", afirmou.
A abertura de Hillary Clinton para falar do assunto contrasta com o silêncio sobre essas questões mantido durante a visita da presidente Dilma Rousseff a Washington nesta semana.
Brasil e EUA se opõem nos dois temas, sendo que em ambos Brasília rejeita medidas de sanções defendidas por Washington.
Em relação à Síria, o governo brasileiro chegou a votar na ONU a favor de uma declaração pedindo a renúncia do presidente Bashar Al-Assad, no fim de fevereiro. No entanto, o Brasil não adota sanções, como fazem EUA e União Europeia.
Já a posição brasileira em relação ao Irã – acusado pelos EUA e a UE de usar seu programa nuclear para fins militares – é a de que as sanções aplicadas sobre o petróleo iraniano são "extremamente perigosas", como disse a presidente Dilma Rousseff no mês passado.
Existe, entre os diplomatas brasileiros, um ressentimento com o tratamento recebido da maior potência mundial quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu chanceler, Celso Amorim, negociaram junto com a Turquia um acordo com o Irã para troca de combustível nuclear, em 2010.
Hillary Clinton supostamente soube do acordo em primeira mão. Mas nas horas seguintes ao anúncio, a secretária de Estado desestimou a ação brasileira e turca e pressionou por uma nova rodada de sanções no Conselho de Segurança da ONU.
Defendendo em ambos os casos o que Dilma Rousseff chamou em Washington de "diplomacia determinada", ou seja, disposta a encontrar soluções negociadas, os diplomatas brasileiros dão a entender que as tratativas levadas adiante pelas potências mundiais não têm o objetivo real de chegar a um acordo.
Ator global
Do ponto de vista brasileiro, o envolvimento em questões relativas ao Oriente Médio diz respeito ao reconhecimento do papel global do país.
Embora reconheça e inclusive coopere com o Brasil em várias questões globais – por exemplo, em biocombustíveis e agricultura na África – o governo americano nunca expressou apoio firme a um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
Nesta semana, Dilma fez uma visita considerada de baixo perfil a Washington e a Boston. Em conversa com jornalistas, a presidente disse que o Irã não foi assunto do encontro entre ela e Barack Obama.
Não comentado oficialmente, analistas notaram que o Brasil não recebeu o status de visita de Estado conferido pelos EUA à China e à Índia.
Entretanto, os dois países insistem que possuem um diálogo global, expressado pela agenda de Hillary Clinton no Brasil.
Na próxima segunda-feira, em Brasília, ela encabeçará a delegação americana no Diálogo de Parceria Global Brasil-Estados Unidos, um fórum bilateral que discute temas que vão desde desenvolvimento e educação, a política global e a situação econômica.
Na terça-feira, a secretária americana participará do primeiro encontro anual de alto nível da Parceria Governo Aberto, uma iniciativa para promover a transparência e a prestação de contas entre 54 governos, um quarto deles latino-americanos.
Hillary Clinton também deve se reunir com representantes do setor privado.
Antes da viagem ao Brasil, ela e o presidente americano, Barack Obama, estarão entre as autoridades que farão parte da 6ª Cúpula das Américas, em Cartagena, no fim de semana.