Em 1991, a União Soviética estava em queda livre. A produção industrial caía, o desemprego aumentava e uma inflação galopante devorava a poupança dos cidadãos. Conflitos étnicos irrompiam por todos os lados, e, na Geórgia e no Azerbaijão, manifestações oposicionistas haviam sido reprimidas com violência meses antes.
A Lituânia fora a primeira das repúblicas socialistas soviéticas a declarar sua independência, em março de 1990. Em janeiro de 1991, Moscou enviou um comando especial da KGB para Vilnius, e 14 pessoas morreram durante a invasão à torre da televisão local. A ação não conseguiu trazer o país de volta ao império soviético. O presidente Mikhail Gorbatchov perdia cada vez mais o controle sobre seu país.
"A União Soviética poderia e deveria ter sido salva", diz Gorbatchov hoje. Na época, ele tentou criar uma espécie de "URSS 2.0", na qual as repúblicas tivessem mais autonomia. Em março de 1991, Gorbatchov convocou um referendo. Segundo dados oficiais, mais de 70% dos votantes foi favorável à "manutenção da União Soviética como uma federação renovada, formada por repúblicas soberanas e iguais em direitos".
Mas como deveria ser essa nova União Soviética? As negociações na residência Novo Ogariovo, de Gorbatchov, foram difíceis – apenas 9 das 15 repúblicas soviéticas participaram das reuniões. Mesmo assim os presidentes ainda conseguiram negociar um novo tratado para manter o país unido. A assinatura do acordo foi marcada para 20 de agosto de 1991, mas nunca aconteceu.
Tentativa de golpe
Um dia antes da data marcada para a assinatura do tratado, em 19 de agosto de 1991, aconteceu o que muitos no Ocidente temiam: um golpe contra Gorbatchov. Um grupo da linha dura comunista – do qual faziam parte o ministro da Defesa e o chefe do serviço secreto KGB – formou um "comitê para o estado de emergência". Os velhos comunistas desconfiavam das reformas de Gorbatchov. "Eles perceberam que não alcançariam nada pelos meios políticos tradicionais. E por isso decidiram-se pelo golpe", lembra Gorbatchov.
Com a justificativa de que Gorbatchov estaria doente, os conspiradores isolaram o chefe de Estado e sua família na residência de férias deles, na Crimeia, e cortaram todas as conexões com o mundo exterior. Foi declarado estado de emergência em toda a União Soviética, e tanques de guerra ocuparam as ruas de Moscou. Os autores do golpe diziam que queriam salvar a URSS de uma catástrofe.
Mas o golpe de Estado falhou. Agosto de 1991 foi o grande momento do recém-eleito presidente da Rússia, Boris Ieltsin, que se declarava adversário dos comunistas. Dezenas de milhares de pessoas reuniram-se em frente ao edifício Casa Branca, sede do governo Ieltsin em Moscou, para protestar contra o golpe. A manifestação foi pacífica, mas a situação era confusa. Três pessoas morreram durante a noite, quando um tanque de guerra passou pelo centro da cidade.
Depois de três dias, o estado de emergência foi revogado, e Gorbatchov, visivelmente abatido, retornou a Moscou no dia 22 de agosto. Os autores do golpe foram presos, alguns deles cometeram suicídio. O Partido Comunista foi proibido no dia 29.
A linha dura comunista pretendia salvar a União Soviética, mas o golpe acabou tendo um efeito catalisador entre as repúblicas. Ainda durante a situação de exceção, a Estônia declarou sua independência da União Soviética, seguida pela Ucrânia e logo por outras repúblicas. Gorbatchov tentava em vão fazer valer o novo tratado.
Três meses após o golpe, os presidentes da Rússia, da Ucrânia e de Belarus formaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI). No dia 26 de dezembro de 1991, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi oficialmente dissolvida, e Gorbatchov renunciou.
Erro primário
Mais de duas décadas depois, o especialista em Leste Europeu Gerhard Simon, da Universidade de Colônia, na Alemanha, ainda considera "intrigante" que o colapso da URSS tenha se dado de forma tão rápida e relativamente não violenta.
"Uma potência mundial pode sair de cena dessa maneira, como no teatro, onde se desce a cortina e todos vão para casa?", questiona. Para ele, a força da União Soviética era superestimada. "Em relação às armas atômicas eles eram realmente fortes, mas, no que se refere ao poder econômico, a União Soviética nunca esteve em condições de competir com os Estados Unidos."
A concorrência entre o comunismo e o capitalismo teve papel central na queda da URSS, opina Simon. "O sistema soviético também foi à ruína porque existia o Ocidente, com uma economia melhor, mais liberdade, a fascinação pelo 'Ocidente dourado'". Milhões de cidadãos da União Soviética sonhavam com os produtos do mundo capitalista, como carros, sapatos ou cosméticos que eles não podiam ter, argumenta o especialista. "O 'maior erro' da propaganda e da ideologia soviéticas foi ter se comparado com o mundo capitalista desde o início. Eles colocaram a corda no próprio pescoço", diz Simon.
Ieltsin queria o fim da URSS
O especialista em Leste Europeu considera espantosa a situação no país central da União Soviética. "Na história internacional é muito raro isso, de grupos de sustentação do Estado – como a classe política russa – não quererem mais a União Soviética." Simon refere-se a Ieltsin, que teria tomado gosto pelo poder.
O então presidente havia impulsionado a soberania da Rússia e mais tarde ordenado que as autoridades soviéticas em Moscou não recebessem mais pagamentos. "Ieltsin queria acabar com a União Soviética – sobre isso não há a menor dúvida", afirma Simon.
Ieltsin teria, no entanto, agido de maneira pouco altruísta frente às outras repúblicas soviéticas, em 1991. O presidente russo pensava que Moscou conseguiria manter sua influência na CEI, diz Simon. O fato de as coisas terem sido diferentes mostra, diz o especialista, que Ieltsin – assim como Gorbatchov – não teria avaliado bem as consequências de seus atos.