O ataque foi chamado de "declaração de guerra dos garimpeiros brasileiros contra a França" por um senador pela Guiana Francesa, Jean-Etienne Antoinette, em artigo assinado na edição desta terça-feira no jornal Le Monde.
No final de junho, garimpeiros brasileiros atacaram um helicóptero francês na Guiana Francesa (que não causou vítimas) e mataram dois soldados franceses em uma emboscada na Floresta Amazônica.
As autoridades francesas transferiram a lista dos brasileiros suspeitos à polícia do Suriname – país vizinho à Guiana Francesa -, onde eles podem estar foragidos.
"Esses criminosos serão perseguidos e levados à Justiça", declarou o ministro dos territórios franceses ultramarinos, Victorin Lurel.
Segundo a imprensa francesa, 30 garimpeiros brasileiros ilegais foram presos na semana passada no Suriname.
Mas o principal suspeito do ataque que matou dois militares franceses não foi ainda detido, afirmou o coronel Bruno Phalippou, da polícia militar de Cayena, na Guiana Francesa.
Nova Etapa
O senador Antoinette diz no artigo do Le Monde que o ataque marca uma "nova etapa" no problema dos garimpeiros brasileiros ilegais na Guiana Francesa.
"Ao matar dois militares e ferir dois outros que estavam em missão, os garimpeiros criaram um precedente e deixaram de ser somente criminosos ambientais para se tornar um novo tipo de bandidos fortemente armados", escreve ele.
"A violência dos garimpeiros não apenas ganhou maior intensidade, como também mudou de natureza. Ataque de helicóptero que estava pousando, emboscada na floresta, tiros contra operações de barragem, uso de armas de guerra!", diz o senador.
As atividades clandestinas de garimpeiros brasileiros na Guiana Francesa, que é território ultramarino da França, ganharam força a partir do início da década de 90 e desde então são uma grande preocupação para as autoridades francesas.
O governo francês acusa esses garimpeiros de causar inúmeros danos ambientais, sobretudo a poluição dos rios com mercúrio, e também problemas de segurança e violência para as populações da região.
Operação Harpie
Em 2008, durante uma visita dos ex-presidentes Lula e Nicolas Sarkozy à Guiana, foi firmado um acordo de cooperação entre o Brasil e a França para prevenir e lutar contra a exploração ilegal de ouro em áreas protegidas da floresta.
A operação Harpie, como é chamada a cooperação entre autoridades judiciárias, administrativas e militares francesas e brasileiras, utiliza entre 400 e 500 soldados para lutar contra o garimpo ilegal de ouro na Guiana Francesa.
Os soldados mortos, identificados como Stephane Moralia e Sebastien Pissot, integravam a operação Harpie.
O senador diz no seu texto que uma "grave lição" deve ser tirada desse ataque contra soldados franceses e defende a necessidade de se reformular a operação Harpie "em função da natureza real do fenômeno na Guiana Francesa".
Para ele, o governo francês deveria "se interrogar sobre a vontade real do Congresso brasileiro de pôr fim ao problema", já que o acordo firmado em 2008 ainda não foi ratificado pelo Brasil (o Parlamento francês ratificou o texto no ano passado).
O senador diz que as autoridades francesas devem "questionar com firmeza o Brasil em relação à sua responsabilidade nas ações armadas de brasileiros no território francês".