Nota DefesaNet
A matéria abaixo da Folha de São Paulo pode pegar o leitor desavisado. Mas, para aquele, que tem o mínimo de informação sobre o país Austral, nada mais é que uma grande brincadeira. Depois do sucesso da missão do Alm Esq Flávio Rocha, títular da Secretaria de Assuntos Estratégicos, à Argentina e a visita do Presidente Jair Bolsonaro, à Buenos Aires, programada para 26MAR2021. Em sua peroração na quarta-feira(10MAR2021), Lula agradeceu expressamente ao Presidente Alberto Fernández. O artigo se inclui em uma peça de desinformação para constranger Alberto e atrapalhar a visita de Jair Bolsonaro. Ver a matéria BR-AR – Ministro da Defesa Rossi se reuniu com o Alm Esq Flavio Rocha (SAE) Link |
Argentina vira alvo de bolsonaristas com campanha sobre o fim do país 'comunista'
(Título original da Folha de São Paulo)
Sylvia Colombo
Fabio Zanini
Folha de São Paulo
11 Março 2021
Um casal de bailarinos de tango dança elegantemente até que, no movimento final, a dançarina torce o pé.
A imagem é usada na apresentação do vídeo “A Queda Argentina”, da produtora conservadora Brasil Paralelo, cujo objetivo, segundo se formula no próprio programa, é “proteger o Brasil dos mesmos erros”.
O filme em formato de documentário, com três episódios, foi lançado em 22 de fevereiro e somava mais de 1,1 milhão de acessos no YouTube até esta quinta-feira (11).
Sua popularidade é exemplar de um movimento que vem ganhando força na direita brasileira, de transformar o país vizinho, governado pelo centro-esquerdista Alberto Fernández desde 2019, em uma espécie de símbolo de decadência moral e econômica.
Isso inclui diversas manifestações em redes sociais de apoiadores de Jair Bolsonaro, incluindo deputados como seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
No imaginário de alguns bolsonaristas, os argentinos já ocupam um lugar semelhante ao que foi de Cuba ou Venezuela —com o agravante de ser um país maior e mais influente política e culturalmente.
O documentário tenta relacionar a origem da atual recessão argentina a um projeto "comunista" associado a uma radicalização esquerdista do general Juan Domingo Perón (1895-1974) a partir de seu período de exílio e seguido, até hoje, por Fernández.
A produção, sofisticada, conta com várias imagens de momentos históricos desde o começo do século 20, incluindo de protestos anarquistas, do bombardeio por parte dos militares da Praça de Maio em 1955, de discursos de Perón, da ditadura e da crise de 2001, entre outros.
Além disso, há boa música, editada para dar um tom trágico aos fatos relatados, contando com tangos e a marcha peronista, que soa em alguns momentos como marcha fúnebre.
“Em geral, a Argentina é vista pelos conservadores como um caso de falência institucional. Não chega a ser percebida como uma Venezuela ainda, mas está no caminho de ser”, diz Lucas Ferrugem, diretor do documentário.
Um objetivo declarado do documentário é ressuscitar o fantasma do “efeito Orloff”, referência a uma propaganda de vodca do século passado em que o slogan dizia “eu sou você amanhã”.
Ou seja, a crise argentina pode chegar ao Brasil em breve, culminando na volta da esquerda ao poder.
“Os paralelos da Argentina com o Brasil são bem claros. É como se a Argentina estivesse dois anos na frente nessa história política”, afirma Ferrugem.
Um ponto bastante explorado no documentário, e pelos conservadores brasileiros em geral, é a aprovação de lei que facilitou o aborto, no fim do ano passado.
Esse foi um dos motivos, aliás, que levaram a Brasil Paralelo a optar pelo tema do documentário.
“Viralizou no fim do ano a questão da legalização do aborto, isso circulou como uma pauta muito negativa”, diz o diretor.
O contexto político tem estimulado essa animosidade da direita brasileira com os argentinos. Bolsonaro e Fernández trocam rusgas desde 2019, e ainda não se encontraram pessoalmente, o que deve ocorrer finalmente neste mês em reunião do Mercosul.
O presidente argentino é um aliado assumido do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que contribui para sua rejeição pelos bolsonaristas.
O cientista político argentino Andrés Malamud, que assistiu ao documentário a pedido da Folha, chama a atenção para o que vêm significando, na prática, as faíscas trocadas entre Fernández e Bolsonaro.
"Hoje temos o contrário do que nos anos 2000. Naquela época, havia uma retórica de amizade, mas uma competição na prática. Hoje parece que está ocorrendo o contrário. Na prática há colaboração, mas a retórica de um mandatário a outro é agressiva. Ambos estão falando com seu eleitorado interno. A Bolsonaro convém essa retórica da 'Argentina comunista', assim como a Fernández, aproximar-se de Lula e posar de esquerdista, algo que ele não é", afirma.
Para Malamud, a associação entre peronismo e comunismo presente no documentário é forçada. "É uma mistura que não faz nenhum sentido, parecem colocados juntos para confundir. A esquerda foi derrotada na história da Argentina, ou seja, o contrário do que se mostra no filme ", diz.
O estudioso afirma que há um elemento que dá um fundo de verdade para o filme: o longo período de decadência econômica do país desde 1930. "Mas há um equívoco fundamental, no filme e nos discursos recentes de Bolsonaro, de que o peronismo é de esquerda e é anticapitalista. Isso é falso."
Além do filme da Brasil Paralelo, outras iniciativas de apoiadores de Bolsonaro atacando a Argentina têm viralizado.
São comuns, por exemplo, as mensagens de WhatsApp em grupos de amigos com "depoimentos" de brasileiros que estiveram na Argentina e contam que "há pobres esperando sobras e ossos na porta dos açougues", que "somente caminhões possuem permissão para rodar" durante a pandemia e que há "70% da população desempregada" —na verdade essa cifra é de 11,7%.
É fato que a situação econômica do país é difícil. A inflação anual está em 38,5%, o país tem poucas reservas e dificuldade em cumprir seus compromissos internacionais. Conseguiu, no ano passado, renegociar sua dívida em moeda estrangeira, porém ainda falta reestruturar outra, com o FMI (Fundo Monetário Internacional), de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 244 bi).
Para aliviar o impacto da pandemia, o governo ofereceu ajuda a pessoas físicas e jurídicas, mas para isso teve de imprimir 1,2 bilhão de pesos (R$ 73 mi), o que pode acarretar uma alta na inflação.
Mesmo assim, algumas áreas vêm recuperando o crescimento, como a construção e a indústria, e se prevê uma recuperação do PIB —que caiu 10% em 2020— de pelo menos 2%. E não há, como no Brasil, colapsos de hospitais por conta da pandemia.
A pobreza está em 44%, mas a ajuda governamental durante a pandemia e a proibição temporária das demissões têm contido explosões sociais.
Para o empresário e influenciador digital conservador brasileiro Leandro Ruschel, “a Argentina foi tomada pela esquerda, talvez de forma irremediável”.
“Lá temos o equivalente à volta do PT ao comando do Brasil, com a implementação de uma agenda econômica socialista, além de outras como implementação de ideologia de gênero e aprovação do aborto. Resumindo, é um aviso sobre o que pode acontecer com o nosso país”, afirma.
Outro que enxerga uma ameaça de contágio argentino sobre o cenário brasileiro é o deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), apoiador de Bolsonaro.
Para ele, a esquerda pode se aproveitar do fracasso de um governo de direita, como ocorreu com o ex-presidente argentino Mauricio Macri, derrotado por Fernández.
“Há uma ligação fortíssima, umbilical, da esquerda argentina com a brasileira. O Lula é o candidato deles. Vão trabalhar para elegê-lo”, diz.
Segundo Nunes, Macri não teve pulso. “Faltou um pouco de Bolsonaro nele. E daí a esquerda voltou. Aqui pode voltar também, evidentemente”, diz.
A QUEDA ARGENTINA
Primeio episódio da trilogia sobre a Argentina
Série de 3 episódios – A Ressaca / A Festa / A Conta. Todos já lançados
O primeiro episódio foi lançado em 22FEV2021, e já tem 550.000 visualizações (12Mar2021).
O Brasil Paralelo tem cerca de 1,63 milhão de inscritos.
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