Editorial de O Globo
publicado em 25 Novembro 2019
O Chile decidiu expulsar trinta cidadãos de Cuba e nove da Venezuela presos sob a acusação de incitar e participar de violentas manifestações de rua que imobilizam o país há um mês.
A Bolívia expulsou todos os funcionários da Embaixada da Venezuela em La Paz e rompeu relações com o regime ditatorial de Nicolás Maduro. Ao mesmo tempo, anunciou a repatriação de 725 cubanos do programa de assistência médica.
O Equador, também, resolveu encerrar os acordos com Cuba, sobretudo na área médica, que permitiram a residência temporária de 3.565 funcionários cubanos.
Governos desses três países indicaram uma suposta interferência de Caracas e de Havana em assuntos domésticos, durante a convulsão social já controlada no Equador, mas que ainda aflige o Chile e a Bolívia.
Líderes da esquerda nostálgicos da Guerra Fria logo creditaram aos Estados Unidos influência nas iniciativas dos governos do Chile, da Bolívia e do Equador. É inegável a coincidência de tais decisões com os interesses de Donald Trump, que batalha pela reeleição de olho no peso específico do eleitorado conservador latino-americano. Porém, essa visão mais oculta do que explica.
Há evidências sobre a interferência de agentes da Venezuela e de Cuba nos protestos em curso na América do Sul. Embora os objetivos sejam obscuros, a intervenção tem até um porta-voz em Caracas.
Diosdado Cabello, um dos mais influentes personagens do condomínio de poder chavista, há semanas ocupa a rede oficial de televisão e rádio para incitar o avanço daquilo que define como “grande furacão bolivariano” na América do Sul. “Bolívia é a faísca que vai incendiar tudo”, discursou na semana passada.
Oportunismo e fanfarronice têm sido características dos líderes da cleptocracia venezuelana, responsáveis pela tragédia humanitária. A retórica de Cabello sugere autodefesa, pois está acossado por acusações judiciais de envolvimento no narcotráfico e em lavagem de capitais subtraídos do Tesouro de seu país.
À margem das bravatas, sobram fatos como as prisões de venezuelanos e cubanos em Santiago e em La Paz, em atos de violência nas ruas. Não se deve abstrair, também, a detenção na Bolívia de integrante de grupo da narcoguerrilha colombiana, que migrou para a Venezuela sob patrocínio do governo Maduro. Foi flagrado ferido, depois de provocar explosões numa zona urbana.
Esses métodos de interferência externa, indevida, são antigos e conhecidos. A novidade é que começam a ser expostos à luz do dia.
Nota DefesaNet
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Gen Ex Pinto Silva – Estados de Poder de Combate Equiparado ao dos EUA
A capacidade dos Estados Unidos e de seus aliados de defender seus interesses está sendo confrontada com resultados positivos para as ameaças.
DefesAnet 25 Novembro 2019 Link