Um porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China insinuou no Twitter que o novo coronavírus pode ter sido introduzido no país pelo exército americano.
Zhao Lijian mencionou a hipótese na quinta-feira à noite, retomando assim as teorias da conspiração que circulam pela internet.
No início da crise, o diretor do Centro Chinês para o Controle e a Prevenção de Doenças afirmou que o novo coronavírus foi detectado em um mercado da cidade de Wuhan (centro).
Citing conspiracy website articles, China’s foreign ministry spokesman Zhao Lijian claims that the US military “brought the #Covid19 epidemic to Wuhan” https://t.co/f2JMXN0B0c pic.twitter.com/fOXuS2ea07
— SCMP News (@SCMPNews) March 13, 2020
Mas nas últimas semanas, Zhong Nanshan, um especialista chinês em doenças respiratórias e veterano na luta contra a epidemia de Síndrome Respiratória Agudo Grave (SARS, 2002-2003) mencionou a possibilidade de que a fonte do vírus que provoca a COVID-19 não se encontre na China.
Uma hipótese retomada por Pequim.
Em sua mensagem no Twitter, Zhao Lijian publicou um vídeo do diretor dos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos no qual ele declara ao Congresso que as autoridades descobriram que alguns americanos que acreditavam ter sido vitimados pela gripe, na verdade eram portadores do novo coronavírus
"Os CDC pegos em flagrante delito. Quando apareceu o paciente zero nos Estados Unidos? Quantas pessoas foram infectadas?", questionou Zhao.
"É possível que o exército americano tenha sido o responsável por trazer a epidemia em Wuhan. Estados Unidos devem ser transparentes! E devem publicar seus dados! Estados Unidos nos devem uma explicação", completou.
sssssssssssssss
Pleased to sign a Memorandum of Understanding with the Government of #China on the support and financial contribution of USD20 M they are providing for the global #COVID19 response. I thank Ambassador Chen for his partnership with @WHO. Together, for a safer world. pic.twitter.com/f28vMvDJMN
— Tedros Adhanom Ghebreyesus (@DrTedros) March 10, 2020
Uma contribuição suspeita. China "doa U$ 20 Milhões", Contribuição para a OMS por seu trabalho em travar as ações do Ocidente e passar pano nas políticas e dados suspeitos da China.
Zhao Lijian não se baseia em nenhum estudo científico. Nesta sexta-feira ele se limitou a tuitar links para dois artigos do site Global Research, conhecido por divulgar teorias da conspiração.
De acordo com algumas teorias que circulas nas redes sociais chinesas, a delegação americana dos Jogos Militares Mundiais, uma competição disputada em outubro em Wuhan, poderia ter transportado o vírus para a China.
As autoridades chinesas foram acusadas de ocultar a epidemia no início. A polícia de Wuhan repreendeu os médicos que fizeram o alerta em dezembro.
Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha escolhido deliberadamente um nome para a doença, COVID-19, que não menciona nenhum país em particular, Washington utiliza com frequência termos relativos à origem "chinesa" do coronavírus.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, o chamou de "vírus de Wuhan". Uma expressão considerada "desprezível" pelo ministério das Relações Exteriores da China.
Mais de 130.000 pessoas contraíram o novo coronavírus no mundo, uma doença que provocou quase 5.000 mortes.
Coronavírus: estudo revela fatores de risco e sintomas em pacientes mortos em hospital na China¹
Um paciente com idade avançada que chega ao hospital com covid-19, doenças crônicas como hipertensão e diabetes, além de sinais de sepse (inflamação sistêmica do organismo contra uma infecção) deve acender um alerta pois, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira (9), estes são traços de um perfil mais vulnerável à morte pela nova doença.
Os autores do artigo no periódico médico Lancet dizem que se trata do primeiro estudo a mapear a evolução do quadro de pacientes infectados pelo vírus Sars-Cov-2 sobre os quais se sabe que houve um desfecho — ou seja, faleceram ou receberam alta do hospital. O estudo também se destaca por analisar casos tratados em Wuhan, cidade chinesa onde o vírus começou a infectar pessoas.
Foram considerados quadros de 191 pacientes do Hospital Jinyintan e Hospital do Pulmão de Wuhan internados entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020. Destes, 137 receberam alta e 54 morreram nos hospitais, considerados referência para o tratamento do novo coronavírus.espeito à amostra de Wuhan, portanto não podem ser automaticamente generalizados para outras partes do mundo.
Os pesquisadores, filiados a instituições chinesas, buscaram juntar os pontos do início, percurso e desfecho da doença nessas pessoas. Para isso, usaram informações de prontuários, exames e dados demográficos. Em seguida, construíram modelos matemáticos para identificar os fatores de risco que levaram à morte.
Uma das conclusões é a de que, como vêm mostrando outras pesquisas, a idade avançada é um fator de risco para a covid-19. Comparados com aqueles que sobreviveram, pacientes que morreram eram, em geral, mais velhos — em média 69 anos em comparação com a média de 52 entre os que sobreviveram.
Dos 191 pacientes analisados, cerca de metade (48%) tinha doenças crônicas — a mais comum, hipertensão (30% da amostra) e diabetes (19%). Após cálculos matemáticos, os autores consideram que estas comorbidades são também fator de risco para casos mais graves da covid-19.
"Diabetes, doença arterial coronariana, doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência renal são todos fatores que independentemente do tipo de infecção, serão potenciais agravadores dela. Um indivíduo com diabetes que adquire uma pneumonia tem potencialmente um quadro mais grave do que um indíviduo de mesma idade e características — mas sem diabetes", explica à BBC News Brasil Rafael Jácomo, diretor técnico e médico do Laboratório Sabin de Análises Clínicas e título de doutorado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP).
"A publicação confirma que isto ocorre também com a covid-19 — o artigo tem esse valor, de confirmar uma impressão teórica (que poderia ser pressuposta pelo conhecimento sobre outros tipos de infecção)."
Em todos os pacientes, a complicação mais comum decorrente da covid-19 foi a sepse (detectada em 100% dos pacientes mortos e 42% dos sobreviventes), seguida de insuficiência respiratória (98% versus 36%). A frequência de complicações como essas foi maior em pessoas que morreram do que as que tiveram alta.
É importante lembrar que a amostra em questão envolve pessoas não só infectadas como internadas — portanto, um recorte com casos mais avançados de infecção por Sars-Cov-2. Dois terços dos pacientes analisados tinham manifestações graves ou muito graves da doença.
Conforme lembram os autores em seu artigo, à semelhança de outras infecções respiratórias virais, o conjunto de manifestações possíveis da covid-19 é bem amplo, incluindo desde infecções assintomáticas e moderadas a pneumonias graves com insuficiência respiratória e até morte.