O governo francês vai enviar armamento pesado à Ucrânia para ajudar o país a se defender da invasão russa. Os equipamentos militares incluem canhões Caesar e mísseis antitanques Milan. O anúncio foi feito pelo presidente Emmanuel Macron, em entrevista ao jornal Ouest-France, publicada nesta sexta-feira (22).
O Caesar é o carro-chefe da artilharia francesa e é único dentro das forças da Otan. O equipamento de artilharia, de 155 mm e alcance de 40 quilômetros, fica posicionada em um caminhão. O armamento foi usado com bons resultados no Afeganistão ou, em 2017, na reconquista de Mossul, no Iraque. Cinco homens são suficientes para manobrar esse tipo de canhão.
Ao identificar um alvo, basta o militar escanear a posição com um ponteiro a laser para transmitir automaticamente as suas coordenadas. Não há mais nada a ser feito. Um canhão Caesar pode disparar seis tiros por minuto e recomeçar a atirar, novamente, para escapar dos tiros de uma contrabateria.
Sem detalhes sobre o número de armas entregues
Até agora, Paris teve o cuidado de não especificar os tipos de armamentos entregues a Kiev. Em meados de abril, foram anunciados "€ 100 milhões em doações de equipamentos" e o fornecimento de "capacidades militares adicionais".
“Entregamos equipamentos substanciais, entre eles armamento do tipo Milan e Caesar, e vários outros modelos”, disse o presidente Emmanuel Macron ao Ouest-France, que lhe perguntou sobre o fornecimento de armas pesadas por parte da Europa à Ucrânia.
“Acho que temos de continuar nesse caminho. Sempre tendo uma linha vermelha que é de não entrar em cobeligerância”, acrescentou Macron.
A França não indicou o número exato de armas entregues, mas confirmou que os carregamentos estão em andamento e que o armamento estará disponível, com munição, em poucos dias.
Cerca de 40 soldados ucranianos também devem ser treinados na França para utilizar esse tipo de armas pesadas, a partir deste sábado (23), acrescentou a presidência, sem dar mais detalhes.
O envio de armas francesas acontece no momento em que a decisão do chanceler alemão, Olaf Scholz, de não enviar armas pesadas à Ucrânia, vem gerando críticas da oposição e dos membros de sua coalizão de governo. Scholz tem sido acusado de demonstrar fraqueza e hesitação em um momento crucial: o que está em jogo não é só o futuro da Ucrânia, mas também a segurança do continente europeu, afirmam alguns parlamentares alemães.
Thales, cujo maior acionista é o Estado francês, negou ter violado as sanções que foram impostas após a Rússia anexar em 2014 a península ucraniana da Crimeia.
Um assessor da presidência ucraniana acusou nesta sexta-feira (22) o grupo francês de equipamentos de defesa Thales de contornar sanções e vender para a Rússia equipamentos usados para matar civis, alegações negadas pela empresa.
"Uma família estava tentando escapar, mas foi morta por assassinos russos", tuitou o assessor presidencial Mikhailo Podoliak. "Assassinada, como está sendo mostrado agora, com armas francesas vendidas burlando as sanções em 2015", acrescentou.
Contactado pela AFP, o grupo Thales, cujo maior acionista é o Estado francês, negou ter violado as sanções que foram impostas após a Rússia anexar em 2014 a península ucraniana da Crimeia.
"A Thales sempre cumpriu rigorosamente as regulamentações francesas e internacionais, inclusive no que diz respeito às sanções europeias de 2014 contra a Rússia", disse.
"Nenhum contrato de exportação de equipamentos de defesa foi assinado com a Rússia desde 2014 e nenhuma entrega foi realizada para a Rússia desde o início do conflito na Ucrânia", afirmou a empresa, que decidiu parar de operar na Rússia.
Em sua mensagem no Twitter, Podoliak reproduz o vídeo de um blogueiro ucraniano, Pavlo Kashchuk, em que ele analisa os danos causados a um carro em que foi encontrado o corpo de uma mulher assassinada em Bucha, perto de Kiev.
"Como soldados russos mal treinados conseguiram atirar com tanta precisão com antigos equipamentos pós-soviéticos?", questionou Kashchuk.
O blogueiro disse que encontrou a resposta para essa pergunta na cidade vizinha de Vorzel, onde as forças ucranianas capturaram quatro veículos blindados BMD-4 da Rússia.
Segundo Kashchuk, esses veículos estavam equipados com sofisticados sistemas de controle de incêndio, tecnologia que havia sido vendida à Rússia pela Thales.
Em seu vídeo, o blogueiro também mostrou uma câmera térmica supostamente recuperada de um tanque russo abandonado. É possível ver o logotipo da Thales com a data 16/06 e as palavras "made in Russia". Kashchuk disse que o dispositivo foi montado na Rússia com componentes da Thales.
"Este é apenas um dos muitos esquemas que permitem às empresas francesas contornar o embargo", declarou.