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O presidente Juan Manuel Santos, caiu numa armadilha das negociações de paz propostas pelas FARC. Próximas da extinção pela política de eliminação das suas lideranças iniciada pelo ex-presidente Uribe, o presidente Santos caiu na armadilha de negociação de paz.
O editor
Mariana Timóteo da Costa
SÃO PAULO
O possível fracasso nas negociações de paz entre o governo colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) – que se tornou palpável no fim da semana que passou com a retomada dos sequestros pela guerrilha e a morte de um de seus líderes pelo Exército – pode ter como principal vítima o presidente Juan Manuel Santos, que apostou todo o seu capital político no diálogo.
Se obtiver progressos, segundo analistas e políticos de seu país, Santos tem grandes chances de se reeleger para um novo mandato de quatro anos, em 2014. Caso contrário, sofrerá ainda mais ataques de seu antigo mentor, o ex-presidente Álvaro Uribe. Políticos e analistas apostam: virá do uribismo o grande rival de Santos no ano que vem. O ex-presidente, que articula a criação de um novo partido, não só é contra qualquer diálogo com as FARC (chama todo o grupo de terrorista) como ressente-se publicamente pelo fato de Santos ter abandonado o uribismo, optando por formar um governo de coalizão, mais ao centro. Pela Constituição, Uribe não pode mais se candidatar à Presidência, mas pode voltar, e com força, à cena política: ou ao Senado ou como líder poderoso capaz de lançar novos nomes.
As negociações com a guerrilha em Cuba ocorrem num cenário complexo e cada vez mais dividem os colombianos. Como o próprio Santos declarou, elas são difíceis porque "colocar de acordo dois polos que mataram uns aos outros durante muito tempo não é uma tarefa fácil". E a questão vai muito além, segundo o economista Daniel Mejía Londoño, da Universidad de Los Andes em Bogotá e autor de um dos livros mais elogiados sobre a questão do narcotráfico no país:
– O ponto mais difícil é o vínculo da guerrilha com o narcotráfico. Atualmente, 60% da produção e distribuição colombiana de cocaína são controlados pelas Farc, que movimentam US$ 4 bilhões por ano. A guerrilha não pode ser levada a sério enquanto não se pronunciar de forma objetiva a respeito, mostrar que está disposta a mudar.
Londoño diz que, após quatro meses de diálogo, passou do otimismo ao pessimismo quanto à capacidade do presidente Santos de desmobilizar a guerrilha.
– Nunca teremos paz enquanto a questão da droga não for mais bem discutida e combatida, e de forma continental, com a participação de potências como Brasil e Estados Unidos – acredita Londoño, para quem o Plano Colômbia (de financiamento americano para se combater o narcotráfico, que em muito ajudou Uribe a golpear as Farc) foi bom para combater a violência colombiana, mas "passou o problema de um país para o outro". – Peru e Bolívia aumentaram a produção; Venezuela e Equador ganharam mais laboratórios; e México e América Central ganharam as bases de distribuição.
A ajuda americana à Colômbia diminuiu sob o governo Santos e atualmente está em cerca de US$ 250 milhões de dólares por ano – resultado de boas políticas econômicas que trouxeram uma série de investimentos estrangeiros. A Colômbia cresceu cerca de 5% em 2012. Em 2006, no auge da guerra movida por Uribe contra as Farc, a ajuda americana era de aproximadamente US$ 700 milhões. Apesar de a quantidade de homicídios ter se estabilizado nos últimos anos, há episódios crescentes e quase diários de violência no campo.
Especialistas atribuem a violência justamente à ação da guerrilha, que ainda conta com ao menos nove mil integrantes. Para o analista político Francisco Miranda, por tudo isso a questão da paz nunca foi tão essencial. Há um temor de desestabilização caso a violência recrudesça.
Terceira via é improvável
As negociações em Cuba trabalham em cinco pontos fundamentais e, segundo Miranda, em apenas um – a questão da devolução da terra aos milhões de deslocados durante o conflito – elas avançaram. Os quatro outros pontos envolvem temas como representação política das Farc, ressarcimento de vítimas, criação de mecanismos de desmobilização e cultivo da droga.
– Santos se meteu num grande dilema. Parte da sociedade colombiana pensa como ele: a guerrilha já está fraca o suficiente e um passo adiante é necessário. Outra parte pensa como Uribe: ainda há ameaça e é preciso linha dura – diz o analista.
Numa visita recente a São Paulo, o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, – esquerdista e ex-guerrilheiro – afirmou ser possível ainda uma "terceira via, mais progressista" para 2014, a exemplo do que ocorreu com a candidatura de Antanas Mockus, do Partido Verde, em 2010, contra o então uribista Santos.