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Ex-presidente Lula – Um problema internacional

O assunto foi tratado em uma conversa entre o presidente Michel Temer e o ministro das Relações Exteriores, José Serra, na quinta-feira 27.

O governo acabara de ser notificado para dar explicações em relação à denúncia de perseguição política protocolada pelo ex-presidente Lula no Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Fora da agenda, Serra procurou Temer para alinhavar os detalhes do discurso que faria na 25ª Cúpula Ibero-americana, na Colômbia. Mas o tema principal era outro. Serra estava preocupado com um suposto plano de asilo de Lula para safar-se das investigações da Operação Lava-Jato.

Durante cerca de cinquenta minutos, o ministro fez uma análise pormenorizada de uma hipotética estratégia de fuga do ex-presidente. Ao recorrer à ONU, Lula estaria criando as condições para pedir asilo a algum país amigo – uma incursão que, se bem-sucedida, poderia se transformar num desastre diplomático para o governo.

Temer ouviu a explanação em silêncio. Há duas semanas, a ONU anunciou a abertura de um procedimento internacional para investigar supostas violações de direitos humanos praticadas pelo juiz Sérgio Moro, que comanda a Operação Lava-Jato, contra o ex-presidente Lula, réu em três ações que investigam crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Protocolada pelos advogados de Lula em Genebra, na Suíça, a representação aponta o ex-presidente como vítima de perseguição. Cita sua condução coercitiva pela Polícia Federal em março passado e a divulgação da gravação de um telefonema seu com a então presidente Dilma Rousseff, além de escutas telefônicas que captaram conversas pessoais de membros de sua família.

Até a empresa americana Netflix é acusada de constrangê-lo ilegalmente porque está filmando uma série sobre a Lava-Jato, sob o comando do diretor José Padilha. Os advogados de Lula queixam-se de que a produção vai "retratar Moro como herói e Lula como vilão".

As denúncias de Lula seriam, na interpretação de Serra, a senha para o pedido de asilo. Segundo o chanceler disse a Temer, o petista conseguiria transformar uma questão policial local em tema político internacional, com prejuízos evidentes para a imagem do Brasil.

Depois de ouvir a explanação do ministro, indagá-lo sobre as consequências do pedido de asilo e concordar com a avaliação sobre os danos que esse cenário poderia trazer, Temer limitou-se a pedir que Serra acompanhasse o caso de perto. Desde que assumiu o governo, Temer tem como uma das prioridades implementar uma agenda internacional para atrair investimentos e afastar dúvidas sobre a legitimidade de seu mandato.

Antes da votação definitiva do impeachment, Dilma difundiu, por meio das embaixadas brasileiras, a denúncia de que havia um golpe em andamento no Brasil. A diplomacia brasileira, desde então, tenta mostrar que o afastamento da ex-presidente foi conduzido de maneira legítima pelo Congresso, sob a supervisão direta do Supremo Tribunal Federal e respeitando a Constituição.

O próprio Serra, dois dias depois de conversar com Temer, falou sobre o tema em sua viagem à Colômbia: "O Brasil concluiu recentemente um processo que foi levado adiante com rigoroso respeito à lei e às instituições, sob a condução do Parlamento e a permanente supervisão do Supremo Tribunal Federal. Essa página está agora definitivamente virada".

O círculo mais próximo de Lula, conforme Veja divulgou em março passado, já debateu a ideia de levar a família do ex-presidente para a Itália, uma vez que Marisa e os filhos têm passaporte italiano. Na avaliação que Serra fez a Temer, Lula ainda dispõe de capacidade de fazer barulho no exterior, caso resolva assumir o papel de asilado político. "Michel está trabalhando para melhorar a imagem do país no exterior.

O barulho gerado por um pedido de asilo de Lula poderia ser muito negativo", diz um ministro palaciano ouvido sob a condição de manter-se no anonimato. Os detalhes da reunião de Temer com o chanceler foram confirmados a Veja por auxiliares diretos do presidente.

Procurado pela revista, Serra resgatou a tradição do verbo tucanar: "Talvez eu tenha essa avaliação, mas o assunto principal que discuti com o presidente Temer foi o tratamento a ser dado a essa questão da ONU dentro do governo. Não penso que o asilo seja a estratégia principal, mas também não vou afirmar o contrário". A defesa de Lula considera "absurda" a hipótese de fuga.

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