O editorial anônimo detalhando a resistência contra a administração do presidente Donald Trump, publicado no jornal The New York Times na semana passada e escrito supostamente por um alto funcionário do governo americano, ainda está dando o que falar.
Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca, afirmou à agência de notícias Reuters, neste domingo (09/09), que o presidente Donald Trump estaria atualmente enfrentando um "golpe".
"O que você viu no outro dia foi tão sério quanto possível. Este é um ataque direto às instituições ", disse Bannon durante uma breve aérea à Itália. "Isso é um golpe, ok."
O artigo de opinião não assinado foi publicado na última quarta-feira e foi escrito por um funcionário sênior da administração Trump, disse o NYT.
O autor criticou a "amoralidade" de Trump e disse: "Muitos dos altos funcionários em sua própria administração estão trabalhando diligentemente, a partir de dentro, para frustrar partes de sua agenda e suas piores inclinações ".
Bannon disse que a última vez que um presidente dos EUA foi desafiado de tal forma foi durante a Guerra Civil americana, quando o general George B. McClellan entrou em confronto com o então presidente, Abraham Lincoln.
"Isso é uma crise. O país só vivenciou algo assim no verão de 1862, quando o general McClellan e os altos generais, todos democratas no Exército da União, consideraram que Abraham Lincoln não era apto nem competente para ser comandante em chefe", disse Bannon.
Bannon foi demitido por Trump em agosto de 2017, depois que ele discutiu com assessores do presidente sobre seus esforços para forçar o Partido Republicano a concordar com sua agenda econômica protecionista.
O ex-estrategista da Casa Branca afirmou que havia pedido a renúncia de seu cargo e que, na época, havia dito à emissora CBS que o "establishment republicano" estava tentando anular a eleição presidencial de 2016 e neutralizar Trump.
"Há uma cabala de figuras do establishment entre os republicanos que acredita que Donald Trump não está apto para ser presidente dos Estados Unidos. Trata-se de uma crise", disse Bannon em Roma.
Questão de segurança nacional
Na semana passada, várias autoridades do governo americano negaram serem autores do editorial, cujo cargo estaria ameaçado se o seu nome fosse revelado, afirmou o NYT.
Entre as diversas autoridades e membros do gabinete que rejeitaram serem o autor do artigo estão o vice-presidente, Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo.
Também rejeitaram ter escrito o editorial o secretário americano de Defesa, James Mattis, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, o diretor de inteligência nacional, Dan Coats, e a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley.
Em público, Trump se mostrou na última sexta-feira satisfeito com os "preciosos" comunicados nos quais seus principais assessores negavam ter redigido o artigo e descartou que o autor do texto fosse uma "pessoa de muito alto nível" no Executivo.
Por outro lado, o presidente americano falou de "traição", e pediu a seu Departamento de Justiça que desmascare o autor da coluna, acrescentando que se tratava de uma questão de segurança nacional.
Trechos de "Fogo e Fúria", o livro sobre os bastidores da Casa Branca de Trump
"Fogo e fúria"
Trechos já publicados do livro do jornalista americano Michael Wolff "Fogo e Fúria: por dentro da Casa Branca de Trump" revelam o que acontece nos bastidores do centro do poder nos EUA, da busca por segurança em hambúrgueres aos sonhos presidenciais de Ivanka Trump.
"Melania em lágrimas"
"O filho de Trump, Don Jr., disse a um amigo que pouco depois das 20h, na noite da eleição, quando parecia confirmada a inesperada tendência de que Trump realmente poderia vencer, seu pai parecia ter visto um fantasma. Melania caiu em lágrimas – que não eram de alegria. Em pouco mais de uma hora, um Trump confuso se transformou num Trump incrédulo e depois num Trump assustado."
Ivanka Trump, "primeira mulher presidente"
"Comparando riscos e ganhos, tanto Jared (Kushner) quanto Ivanka decidiram aceitar cargos na Casa Branca, contrariando o conselho de quase todos que conheciam… Ambos fizeram um acordo sério: se algum dia surgir a oportunidade, ela será a candidata à presidência. A primeira mulher presidente, brincou Ivanka, não seria Hillary Clinton, mas Ivanka Trump."
Buscando refúgio em "fast food"
"Ele tinha um medo antigo de ser envenenado, e essa é uma das razões pelas quais ele gostava de comer no McDonald's: ninguém sabia que ele iria aparecer, e a comida já estava pronta, o que era seguro."
As teorias de Bannon
"O verdadeiro inimigo, segundo Bannon, era a China. A China seria a primeira frente numa nova Guerra Fria. A China é tudo. Nada mais importa. Se não lidarmos direito com a China, não vamos lidar direito com nada. Tudo é muito simples. A China está onde a Alemanha nazista estava em 1929 e 1930. Os chineses, como os alemães, são as pessoas mais racionais do mundo, até deixarem de ser."
Bannon: Donald Jr. foi "traidor"
"Donald Trump Jr., Jared Kushner e o chefe da campanha, Paul Manafort acharam uma boa ideia se encontrar com um governo estrangeiro na sala de conferências no 25º andar do Trump Tower – e sem advogados… Mesmo se você acha que não se tratava de traição, falta de patriotismo ou uma bosta ruim, e eu acho que foi tudo isso, você deveria ter chamado o FBI imediatamente", disse Bannon.
"Perder era ganhar"
"Se tivesse perdido a eleição, Trump se tornaria muito famoso e ao mesmo tempo um mártir da Hillary Idiota. Sua filha Ivanka e o genro Jared se tornariam celebridades internacionais. Steve Bannon se tornaria o chefe de fato do movimento Tea Party. Melania Trump, que havia obtido do marido a garantia de que ele não seria presidente, poderia voltar a ter almoços discretos. Perder era ganhar."