A vice-secretária de Estado dos Estados Unidos Wendy Sherman disse nesta segunda-feira que os Estados Unidos foram firmes em recusar propostas que "não tinham chance de avançar" durante negociações com seu equivalente russo em Genebra, e acrescentou que o governo de Washington não irá permitir que ninguém feche a política de portas abertas da OTAN.
Autoridades dos Estados Unidos tiveram discussões francas e categóricas com a delegação russa ao longo de quase oito horas, e estão abertas a se reunirem de novo em breve para discutir questões entre EUA e Rússia com mais detalhes, disse Sherman.
A delegação russa, liderada pelo vice-ministro de Relações Exteriores Sergei Ryabkov, delineou suas exigências, apresentadas pela primeira vez no mês passado, incluindo uma limitação sobre a expansão da OTAN e o encerramento das atividades da aliança militar nos países da Europa central e oriental que entraram no bloco após 1997, disse Sherman a jornalistas em uma teleconferência após a reunião.
A parte norte-americana foi "firme" em recusar propostas que o Ocidente considera que não têm possibilidade de avançar, disse. "Não vamos permitir que ninguém feche as portas da OTAN, que tem política de portas abertas", disse, insistindo que os Estados Unidos não irão tomar decisões em nome de outros países sem eles.
Quase 100 mil militares russos estão reunidos ao longo da fronteira com a Ucrânia em preparação para o que Washington e Kiev dizem que pode ser uma invasão, oito anos depois de a Rússia ter tomado a península da Crimeia da Ucrânia. A Rússia nega a acusação e diz que está respondendo o que classifica como comportamento agressivo e provocador da OTAN e da Ucrânia, que se aproximou do Ocidente e aspira participar da aliança militar.
Rússia diz que não planeja atacar Ucrânia e quer seguir negociando com os EUA¹
A Rússia garantiu nesta segunda-feira (10) que não tem "intenção" de atacar a Ucrânia, após conversas com os Estados Unidos, e ambas as partes asseguraram que querem continuar com as negociações perante uma desescalada, embora tenham persistido em suas advertências mútuas.
As negociações, em Genebra, na Suíça, foram lideradas pela vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, e seu colega russo, o vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov. O diálogo ocorre em meio a temores de uma invasão russa a seu vizinho pró-ocidental, a Ucrânia, e com Moscou exigindo amplas concessões de Washington e seus aliados da OTAN.
Após a reunião, o negociador russo afirmou que seu país não tem “planos ou intenção de atacar” a Ucrânia e que as dezenas de milhares de soldados destacados nas fronteiras estavam lá porque seus rivais ocidentais também aumentaram sua presença.
Por sua vez, Wendy Sherman disse que havia insistido com seu homólogo russo que uma eventual invasão da Ucrânia geraria "custos significativos", "enormes" por parte dos países ocidentais e que Moscou poderia iniciar uma "desescalada" fazendo com que todos os militares concentrados na fronteira “retornem aos seus quartéis”.
Situação não desesperadora
Em relação à reivindicação chave da Rússia, ou seja, obter garantias de que a OTAN não irá expandir e que irá reduzir a sua presença militar nas proximidades da Rússia, Riabkov se mostrou mais positivo do que no dia anterior.
"Temos a impressão de que o lado americano levou muito a sério as propostas russas", disse. Segundo o negociador russo, "a situação não é desesperadora", ainda que "não se possa subestimar os riscos relacionados ao agravamento da evolução do confronto".
"É preciso avançar, é necessário um verdadeiro gesto em relação à Rússia e isso deve partir da OTAN", ressaltou, acrescentando que "nunca, mas nunca" a Ucrânia deve aderir à Aliança Atlântica. Para Riabkov, as concessões à Rússia devem ser feitas "rapidamente" e o processo de negociação não deve levar "meses ou anos".
Já Sherman informou, em tom conciliatório, que os Estados Unidos apresentaram "uma série de ideias que nossos países podem adotar como ações recíprocas que atenderiam nossos interesses de segurança e melhorariam a estabilidade estratégica".
No entanto, a diplomata alertou Moscou que a "política de portas abertas" da OTAN continuará a ser aplicada apesar dos pedidos da Rússia.
Longe de Genebra, no leste da Ucrânia, dois soldados ucranianos foram mortos nesta segunda-feira em uma explosão, tornando-se os primeiros militares a morrer este ano na linha de frente, onde combatem separatistas pró-Rússia desde 2014.
União Soviética 2.0?
No domingo, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, pressionou o presidente Vladimir Putin para que evitasse uma nova "agressão" contra a Ucrânia e desse prioridade à "diplomacia".
As negociações desta segunda-feira abrem uma semana de diplomacia entre a Rússia e o Ocidente, após Moscou reunir dezenas de milhares de tropas na fronteira ucraniana, levando os Estados Unidos e a Europa a um confronto que lembra a Guerra Fria.
Nas trincheiras na frente da Ucrânia, havia pouca esperança para a diplomacia.
"As garantias de não adesão à OTAN nunca vão deter" Putin, comentou Mikhailo, um soldado de 29 anos, enquanto caminhava pelas trincheiras de Avdiivka, ao norte da cidade de Donetsk, um reduto separatista. Segundo ele, o presidente russo "quer voltar à União Soviética em uma versão 2.0".
Os ocidentais ameaçaram o Kremlin com a adoção de sanções "em massa" se houvesse novos ataques à Ucrânia.
A Rússia exerce intensa pressão sobre a Ucrânia desde 2014, depois que uma revolução derrubou um governo pró-Kremlin que se opunha à reaproximação do país com a Europa.
A Rússia anexou a península da Crimeia e apoia uma insurgência deflagrada no leste da Ucrânia. Mais de 13 mil pessoas já morreram neste conflito.
Putin, que conversou com o presidente americano Joe Biden em dezembro de 2018, advertiu que a aprovação de novas sanções contra seu país seria "um erro colossal". Além disso, ameaçou uma resposta "militar e técnica" se os ocidentais insistirem em "manter essa linha claramente agressiva".
O Kremlin afirma que os ocidentais provocam a Rússia ao colocarem militares às suas portas e ao armarem o exército ucraniano, e reivindica dois tratados para proibir qualquer futura ampliação da OTAN e encerrar os exercícios militares perto de suas fronteiras.
Nesta segunda-feira, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, apontou que as negociações desta semana não resolverão todos os problemas, mas que o objetivo "é chegar a um acordo sobre o caminho a seguir".