Os Estados Unidos pediram nesta quinta-feira (28) que "a Turquia e a Rússia comecem a retirar suas forças imediatamente" da Líbia, incluindo militares e mercenários, em uma posição firme do novo governo democrata de Joe Biden, que contrasta com a política anterior do presidente republicano Donald Trump.
"Em cumprimento ao acordo de cessar-fogo de outubro, pedimos à Turquia e à Rússia que iniciem imediatamente a retirada de suas forças do país e dos mercenários estrangeiros e substitutos militares que contrataram, financiaram, destacaram ou apoiaram na Líbia", disse o embaixador dos EUA na ONU, Richard Mills.
"Apelamos a todas as partes externas, incluindo Rússia, Turquia e Emirados Árabes Unidos, a respeitar a soberania da Líbia e cessar imediatamente todas as intervenções militares na Líbia", insistiu o diplomata dos EUA durante uma videoconferência do Conselho de Segurança sobre o país.
A postura clara e firme do novo governo contrasta com a inconsistência que cercou a política dos EUA para a Líbia nos últimos anos, também ligada, segundo diplomatas, à retirada de Washington da região.
Por um momento, Donald Trump pareceu apoiar o marechal Khalifa Haftar, o homem forte do leste da Líbia, enquanto a ONU reconhece o Governo da União Nacional (GNA), com sede em Trípoli.
Em dezembro, a ONU estimou o número de militares e mercenários estrangeiros implantados nos dois campos rivais em cerca de 20.000.
A ONU também registrou dez bases militares total ou parcialmente ocupadas por forças estrangeiras no país.
Segundo o cessar-fogo acordado em 23 de outubro, as tropas estrangeiras e mercenárias deveriam deixar a Líbia em três meses.
Mas o prazo terminou em 23 de janeiro sem qualquer sinal de retirada dos mercenários líbios.
O marechal Haftar conta com o apoio dos Emirados Árabes Unidos, Egito e Rússia, principalmente dos mercenários do grupo privado Wagner, conhecido por ser próximo ao governo russo de Vladimir Putin.
Já o GNA conta com o apoio militar da Turquia e dos rebeldes sírios que foram transferidos da Síria para a Líbia, segundo a ONU.
Versão russa
Moscou sempre negou que desempenhou um papel na presença de mercenários russos na Líbia.
Durante a videoconferência do Conselho de Segurança, a grande maioria de seus membros, incluindo Índia, Reino Unido, França e China, também pediram a retirada das tropas estrangeiras e mercenárias da Líbia e o respeito ao embargo de armas imposto ao país desde 2011.
O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, não mencionou em seu discurso a presença de forças estrangeiras no país.
Recordando a "agressão ocidental" na Líbia em 2011 que levou à queda do ditador líbio Muamar Kadhafi, o diplomata se limitou a destacar que a Rússia "sempre defendeu uma solução pacífica para a crise líbia por meios políticos e diplomáticos".