Os Estados Unidos não irão mais fazer rodeios em relação ao comportamento chinês na Ásia, com a estabilidade da região ameaçada com questões que vão do Mar da China Meridional à Taiwan, disse neste sábado o secretário da Defesa dos EUA em exercício, Patrick Shanahan.
Shanahan não nomeou diretamente a China ao fazer acusações de “atores” desestabilizando a região, mas afirmou que os Estados Unidos não ignorariam o comportamento chinês, na última troca de acusações amargas entre as duas maiores economias mundiais. Ele acrescentou, no entanto, estar ávido por promover uma relação militar com Pequim.
“Talvez a maior ameaça a longo prazo aos interesses vitais dos estados dessa região venha de atores que buscam minar, ao invés de sustentar, a ordem internacional baseada em regras”, disse Shanahan no Diálogo anual Shangrila em Cingapura, maior encontro sobre segurança da Ásia.
“Caso a tendência nesses comportamentos continue, as características artificiais nos bens comuns globais podem se tornar pedágios, e a soberania pode se tornar a competência dos poderosos.”, continuou.
O primeiro grande discurso de Shanahan desde que tomou posse como Secretário de Defesa em exercício, em janeiro, ocorreu enquanto Estados Unidos e China continuam emperrados em uma guerra comercial cada vez maior, e em desacordo em uma série de questões sobre segurança na Ásia.
Sua referência a características artificiais foi um ataque às ilhas construídas pela China no disputado Mar da China Meridional, uma via estratégica reivindicada quase inteiramente por Pequim.
“Não vamos ignorar o comportamento chinês e eu acho que no passado as pessoas agiram com excesso de rodeios em relação a isso”, disse Shanahan mais tarde em resposta à uma pergunta.
Uma autoridade militar sênior da China respondeu ao comentário de Shanahan dizendo que as ações dos Estados Unidos sobre Taiwan e o Mar da China Meridional dificilmente favoreceriam a manutenção da estabilidade na região.
Shanahan afirmou que era do interesse de Pequim ter uma relação construtiva com os Estados Unidos, mas acrescentou: “O comportamento que corrói a soberania de outras nações e semeia a desconfiança sobre as intenções da China deve acabar.”
“Até que isso aconteça, nos mantemos contra uma visão míope, estreita e provinciana de futuro, e nos colocamos a favor da ordem livre e aberta que nos beneficiou a todos – incluindo a China.”
China e EUA têm novo atrito ligado a comércio e segurança regional
A China e os Estados Unidos tiveram um novo atrito neste fim de semana relacionado a comércio e segurança, acusando um ao outro de desestabilizar a região e potencialmente o mundo.
Falando no Diálogo Shangri-La, a principal cúpula de defesa da Ásia, em Cingapura, o ministro da Defesa chinês, Wei Fenghe, alertou os EUA para que não interfiram em disputas de segurança ligadas a Taiwan e ao Mar do Sul da China.
No sábado, o secretário interino de Defesa dos EUA, Patrick Shanahan, disse à reunião que os norte-americanos não irão mais “andar na ponta dos pés” quanto ao comportamento chinês na Ásia.
“Talvez a maior ameaça de longo prazo aos interesses vitais de Estados ao nesta região venha dos atores que buscam enfraquecer, em vez de preservar, a ordem internacional baseada em leis”, disse Shanahan.
Foi a mais recente troca de comentários amargos entre os dois lados no momento em que as relações ficam cada vez mais estremecidas devido a uma intensa guerra comercial, ao apoio dos EUA a Taiwan, e à postura militar ostensiva da China no Mar do Sul da China, onde os norte-americanos também conduzem patrulhas livres de navegação.
A China tem se irritado particularmente com recentes decisões do governo do presidente Donald Trump de intensificar o apoio a Taiwan, democrático e auto-governado, incluindo navegações da Marinha dos EUA pelo Estreito de Taiwan, que separa a ilha da China.
Wei, trajando seu uniforme de general do Exército de Libertação Popular, disse que a China irá “lutar até o fim” se qualquer um tentar interferir em sua relação com Taiwan, considerado por Pequim um território sagrado que poderá ser tomado à força caso necessário.
“Se qualquer um ousar separar Taiwan da China, o Exército chinês não tem outra opção senão lutar a todo custo… os EUA são indivisíveis e a China também. A China deve ser, e será, reunificada”.
Ele, no entanto, disse que ambos os lados percebem que qualquer guerra entre os dois “traria desastre aos dois países e ao mundo”.
Os EUA, como a maioria dos países, não têm relações formais com Taiwan, mas são seu maior apoiador e principal fonte de armas.
Embora o tom de Shanahan tenha sido crítico à China, seu tom foi frequentemente conciliatório. Wei adotou uma postura mais combativa.
O governo de Taiwan condenou os comentários de Wei, dizendo que Taiwan nunca pertenceu à China, que Taiwan nunca aceitará as ameaças de Pequim e que a declaração da China de seu “desenvolvimento pacífico” é a “mentira do século”.
Taiwan “continuará a fortalecer suas capacidades de auto-defesa, defender a soberania e o sistema democrático do país e proteger o direito das 23 milhões de pessoas de Taiwan de livremente escolherem seu futuro”, disse o Conselho de Assuntos do Continente, em nota.