O lobby dos Estados Unidos contra a contratação da Huawei como fornecedora de equipamentos para a quinta geração de internet móvel no Brasil ganhou força, na noite desta quarta-feira, em um comunicado do secretário de Estado americano, Mike Pompeo.
No texto, divulgado pela embaixada dos EUA em Brasília, Pompeo afirmou que os contratos da gigante chinesa estão "evaporando" em todo o mundo, porque os países estão preferindo apenas empresas confiáveis em suas redes 5G.
"A maré está se voltando contra a Huawei, à medida que cidadãos de todo o mundo estão acordando para o perigo do estado de vigilância do Partido Comunista Chinês", disse o secretário de Estado dos EUA. "Os acordos da Huawei com operadoras de telecomunicações em todo o mundo estão evaporando, porque os países estão permitindo apenas fornecedores confiáveis em suas redes 5G".
Pompeo citou como exemplos de países que estão adotando essa postura República Tcheca, Polônia, Suécia, Estônia, Romênia, Dinamarca e Letônia. Acrescentou que, recentemente, a Grécia concordou em usar a Ericsson em vez da Huawei para desenvolver sua infraestrutura 5G.
Nas mãos de Bolsonaro
Caberá ao presidente Jair Bolsonaro decidir se a tecnologia da Huawei ficará ou não fora do leilão do 5G no Brasil, que deverá acontecer no ano que vem.
Embora Bolsonaro esteja mais próximo de Washington do que de Pequim, fontes do governo brasileiro avaliam que, sob o ponto de vista técnico, a eliminação da empresa chinesa só poderia ocorrer se fosse embasada por fundamentos sólidos.
Discriminar a companhia, sem justificativa, em uma concorrência pública afetaria negativamente a imagem do Brasil nos mercados internacionais.
"O ímpeto a favor do 5G seguro está aumentando. Quanto mais países, empresas e cidadãos perguntarem em quem devem confiar com seus dados mais sensíveis, mais óbvia a resposta se torna: não no estado de vigilância do Partido Comunista Chinês", declarou Pompeo.
"Telecom limpas"
De acordo com o secretário, algumas das maiores empresas de telecomunicações em todo o mundo também estão se tornando empresas “Telecom Limpas” (“Clean Telcos”).
"Vimos isso com a Orange na França, Jio na Índia, Telstra na Austrália, SK e KT na Coreia do Sul, NTT no Japão e O2 no Reino Unido".
Ele destacou que, há algumas semanas, as três grandes empresas de telecomunicações do Canadá decidiram fazer parceria com a Ericsson, Nokia e Samsung. Isto porque a opinião pública era, em grande maioria, contra permitir a construção das redes 5G do Canadá pela Huawei.
E completou dizendo que a Telefónica, em seu Manifesto Digital, afirmou que “a segurança é primordial”. Disse que o CEO da companhia espanhola, José María Álvarez-Pallete López, declarou recentemente que “a Telefónica tem orgulho de ser uma empresa 5G de Caminho Limpo”.
"A Telefónica Espanha e a O2 (Reino Unido) são redes totalmente limpas e, em um futuro próximo, a Telefónica Deutschland (Alemanha) e a Vivo (Brasil) estarão sem equipamentos de fornecedores não confiáveis”, alertou Pompeo.
EUA querem que o Brasil compre equipamentos de 5G de rivais da Huawei
Um diplomata brasileiro revelou no início desta semana que o governo dos Estados Unidos está ajudando empresas do país e de outras regiões a financiar equipamentos de rede 5G de rivais da Huawei.
A iniciatva é uma ação direta para previnir que companhias globais comprem infraestrutura das chinesas. De acordo com o embaixador Todd Chapman, as alternativas às empresas chinesas são companhias como a Ericsson, Nokia e Samsung.
O fundo criado pelos Estados Unidos está alocado no International Development Finance Corporation (DFC), uma agência governamental que financia projetos privados de desenvolvimento. Além disso, o Chapman afirmou que a Huawei não é confiável como parceira na construção do 5G, apesar de ser o maior fornecedor de equipamentos de telecomunicações do mundo.
A Huawei está no Brasil há mais de 20 anos e é parceira de diversas operadoras de telecom locais que estão testando redes 5G. A chinesa já construiu a espinha dorsal da infraestrutura de empresas como Telefonica, TIM, Claro e Oi.
O embaixador também disse que os Estados Unidos estão "simplesmente alertando nossos amigos e aliados no Brasil de que temos preocupações de que essa tecnologia não é o caminho a seguir".