Os Estados Unidos impuseram nesta segunda-feira (14) sanções à agência governamental turca encarregada da compra de armas, depois que o aliado da Otan comprou sistemas de defesa antiaéreos russos S-400. Ancara considerou a medida "injusta" e Moscou as chamou de penalizações "ilegítimas".
"As ações de hoje enviam um sinal claro de que os Estados Unidos irão aplicar totalmente (as leis do país) e não irão tolerar transações significativas com a defesa e setores de Inteligência russos", disse o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em comunicado.
Com pouco mais de um mês no cargo, o governo de Donald Trump aprovou sanções pouco convencionais contra um aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) por causa de suas questionadas aquisições militares, consideradas uma ameaça aos membros do bloco. Desta forma, anunciou que suspenderia todas as licenças de exportação de armas americanas para a presidência de Indústrias de Defesa (SSB) e que rejeitaria qualquer visto para o presidente dessa agência, Ismail Demir, alvo, também, de sanções financeiras.
Ação demorada, mas anunciada
O Congresso dos EUA exigiu do governo sanções pelas grandes compras militares da Rússia com base em uma lei de 2017 conhecida como CAATSA. Trump, que mantém boas relações pessoais com o contraparte turco, Recep Tayyip Erdogan, absteve-se, porém, de aplicá-las.
A Rússia entregou no ano passado à Turquia sistemas de defesa S-400, comprados por 2,5 bilhões de dólares, apesar das advertências americanas de que tal cooperação era incompatível com os acordos da Otan.
Os Estados Unidos já expulsaram a Turquia do programa de fabricação de caças F-35, desenvolvido pela Aliança Atlântica.
"Os Estados Unidos deixaram claro para a Turquia no mais alto nível e em várias ocasiões que a compra do sistema S-400 colocaria em risco a segurança da tecnologia e dos militares americanos e forneceria fundos substanciais para o setor de defesa da Rússia, assim como acesso russo às forças armadas turcas e à indústria de defesa", argumentou Pompeo. "A Turquia, no entanto, decidiu prosseguir com a aquisição e teste do S-400, apesar da disponibilidade de sistemas alternativos interoperáveis com a Otan para atender às suas necessidades de defesa", afirmou.
Os S-400 são um sistema de defesa antiaérea de última geração e um dos símbolos da indústria militar russa, incompatível com os sistemas da Otan, da qual a Turquia é membro.
"Participamos, durante meses e meses, de reuniões diplomáticas com o governo turco em todos os níveis para ajudar a Turquia a encontrar uma saída", disse a repórteres Matthew Palmer, alto funcionário do Departamento de Estado. "Impor sanções a um aliado da Otan não é algo que consideramos de forma leviana", declarou. Mas o governo Trump adiou opções mais severas que foram apresentadas para a sua consideração, incluindo sanções que afetariam o debilitado sistema financeiro turco ou Erdogan pessoalmente.
Sanções ilegítimas
A Turquia, por sua vez, reagiu com irritação por meio de seu Ministério das Relações Exteriores. "Convidamos os Estados Unidos a revisarem essa decisão injusta de sanções", declarou o ministério em nota, alertando que Ancara "responderá" às mesmas. "Essas acusações são infundadas. A Turquia propôs abordar a questão de forma objetiva e realista mediante a criação de um grupo de trabalho técnico", enfatizou.
Após o anúncio das sanções, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, citado pela agência de notícias Ria Novosti, qualificou as medidas como "ilegítimas". "Essa é mais uma manifestação de atitude arrogante em relação ao direito internacional, uma manifestação das medidas coercivas unilaterais e ilegítimas que os Estados Unidos vêm utilizando há muitos anos, há décadas, à direita e à esquerda", declarou.