Os Estados Unidos denunciaram a existência de "cápsulas venenosas", embutidas em propostas de projetos para a cooperação europeia no setor de defesa, que poderiam eliminar a participação de países aliados.
Os Estados Unidos destacaram esse ponto numa carta à chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, tornada pública nesta terça-feira (14/05), e advertiram que poderá haver retaliações.
Mogherini afirmou que esses temores são infundados. "Na verdade, a UE é muito mais aberta [para as empresas americanas] do que o mercado de defesa americano é para as empresas da União Europeia", declarou Mogherini em Bruxelas, depois de uma reunião com ministros da Defesa dos países-membros.
"Na UE não existe uma lei 'compre apenas europeu', e 81% dos contratos internacionais vão para empresas dos Estados Unidos."
As preocupações americanas envolvem o Fundo Europeu de Defesa (FED), dotado de 13 bilhões de euros ao longo de sete anos e aprovado em abril pelo Parlamento Europeu, e o pacto de defesa Cooperação Estruturada Permanente (Pesco), que prevê a cooperação entre países europeus em projetos para desenvolver novos equipamentos militares, como caças e drones, e em sistemas de apoio, como hospitais militares e centros de treinamento.
A ministra alemã da Defesa, Ursula von der Leyen, disse que os europeus apenas estão fazendo aquilo que os americanos pedem há anos: melhorando seus recursos de defesa. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, apoiou o pacto, desde que ele não leve a redundâncias.
Mas os EUA se mostraram preocupados. "O projeto de regulamentação do FED e as condições-gerais do Pesco representam uma virada dramática nas últimas três décadas de crescente integração do setor de defesa transatlântico", escreveram a vice-secretária da Defesa dos EUA, Ellen Lord, e a negociadora americana de controle de armas, Andrea Thompson, na carta a Mogherini, datada de 1º de maio.
Mogherini se encontrou com ministros da Defesa da UE nesta terça-feira para debater formas de participação de países de fora da UE, como os Estados Unidos, a Noruega e, em breve, o Reino Unido, nos projetos de defesa do bloco.
Os ministros anunciaram que responderão à carta em breve para "eliminar preocupações desnecessárias". Diplomatas europeus disseram que a carta, no seu tom e conteúdo, foi mal recebida pela UE. Ela foi entregue pelo embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sondland, que se dirigiu à chefe da diplomacia chamando-a informalmente de "Federica" e exigiu uma resposta até 10 de junho.
Segundo o Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz (Sipri), de Estocolmo, os Estados Unidos são o maior exportador de armas do mundo, com uma participação de 36% no mercado mundial, seguidos pela Rússia, França e Alemanha.
França e Alemanha planejam desenvolver um caça europeu no âmbito de um projeto para obter maior "autonomia estratégica" e encerrar a dependência histórica dos EUA para garantir a segurança regional.
Dentro da UE, um grupo liderado pela França quer regras rígidas para a participação externa em projetos europeus de defesa, com o objetivo de obter "autonomia estratégica" no setor. Já um grupo liderado pela Holanda e Suécia defende uma abordagem mais inclusiva.
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