Escolhida a plataforma marítima que desafiará argentinos
Roberto Lopes
robertojlopes@hotmail.com
Jornalista especializado em assuntos militares.
Em 2000 graduou-se em Gestão e Planejamento de Defesa
no Colégio de Estudos de Defesa Hemisférica
da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos, em Washington.
Em abril de 2012 lançou o livro “O Código das Profundezas,
Coragem, Patriotismo e Fracasso a bordo dos Submarinos
Argentinos nas Malvinas” (Ed. Civilização Brasileira).
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O Editor
O primeiro e mais importante passo foi dado.
As companhias petrolíferas Noble Energy, da cidade texana de Houston, e Premier Oil, de Londres, estão alugando à empresa Ocean Rig UDW Inc., de Atenas, a “Eirik Raude”, primeira plataforma marítima que será rebocada pelo Oceano Atlântico até a costa das Ilhas Malvinas (que os britânicos chamam de Falklands), para, a partir de 2015, explorar, em operação contínua, o petróleo malvinense. Atualmente a “Raude” se encontra a serviço da petrolífera russa Lukoil, mas esse contrato expira no início do ano que vem.
É a segunda vez que a Premier Oil recorre à Ocean Rig por causa dos mares austrais.
Em 2012 os britânicos enviaram à chamada Bacia Falklands do Leste a “Leiv Eriksson”, uma plataforma semi-submergível de 7.000 toneladas (que já esteve a serviço da Petrobras no norte da Europa), da mesma classe da “Raude”. O objetivo era prospectar reservatórios de óleo no leito marinho do lado oriental do arquipélago. Mas, segundo a Falkland Oil and Gas Ltd. – organização de Port Stanley (capital das ilhas) que controla o projeto de exploração do petróleo malvinense –, nenhuma dessas sondagens de dois anos atrás se revelou tão promissora quanto a do campo de Sea Lion, ao norte da ilha Soledad, também conhecida como Falkland Oriental.
O governo de Buenos Aires promete processar e punir (inclusive com penas de prisão) os responsáveis pelas entidades envolvidas na extração do óleo existente no leito submarino contíguo ao arquipélago, sob o argumento que esse território insular lhe pertence.
Dias atrás, Defesanet informou que a Marinha argentina está comprando quatro grandes rebocadores (cada um de 2.700 toneladas) habilitados a movimentar e posicionar plataformas. Em tese eles poderiam participar de uma missão de interceptação e captura da plataforma que ingleses e americanos tencionam fazer atravessar o Oceano Atlântico. Isso se a Marinha Real permitir é claro.
No último dia 23, o estaleiro Tandanor, da capital bonaerense, devolveu à esquadra portenha o submarino “San Juan” – classe TR-1700 –, de mais de 2.000 toneladas, que foi submetido ao procedimento conhecido como “revisão de meia vida”. No início do ano que vem, tanto o “San Juan” como o pequeno “Salta” – navio tipo IKL-209/1.200, com mais de 40 anos de serviços – estarão à disposição dos almirantes argentinos.
A “Eirik Raude” – nome que homenageia o conquistador viking do século 10 conhecido como “Erik, o Vermelho” – foi concebida para extrair petróleo de camadas do subsolo marinho entre 500 e 2.500 metros de profundidade, e ficou pronta em 2002. Seu casco foi construído pela companhia chinesa Dalian, e seus equipamentos foram fornecidos pela Friede Goldman Offshore, dos Estados Unidos, e pelo estaleiro canadense Irving, da cidade de Halifax.
De acordo com o Offshore.no, um site norueguês especializado em notícias sobre energia, o aluguel da “Raude” pode, sob certas condições, chegar a meio milhão de dólares por dia.
Um dos motivos de a Noble e a Premier terem se fixado na “Eirik Raude”, é que essa plataforma já foi testada em ambientes marítimos descritos pela Ocean Rig como “hostis”, precisamente o tipo de circunstância climática que a aguarda em Sea Lion – área permanentemente açoitada por ventos fortes, vagalhões e temporais.
Em julho de 2012, a Premier demonstrou interesse em adquirir 60% dos direitos da licença de exploração petrolífera na chamada Bacia Falklands do Norte, que pertenciam à empresa britânica Rockhopper Exploration. A área incluía o campo de Sea Lion. A transação foi concluída em outubro de 2012, quando a Premier fez um pagamento inicial de US$ 231 milhões à Rockhopper – que, declaradamente, não tinha capital para fazer a extração do óleo malvinense. O contrato firmado pela Premier a comprometia com mais duas parcelas, de US$ 48 milhões e de US$ 722 milhões.
A Ocean Rig mantém escritórios no Rio, em Luanda, na Ilha de Jersey, em Aberdeen (Escócia) e em Stavanger (Noruega). Além da “Raude” e da “Eriksson”, a empresa também é dona de quatro plataformas para perfuração em águas ultra-profundas: “Ocean Rig Olympia”, “Ocean Rig Mykonos”, “Ocean Rig Poseidon” e “Ocean Rig Corcovado” (uma homenagem ao Rio). Quatro outras plataformas do mesmo gênero foram encomendadas pela empresa de Atenas, que pertence a um grupo grego-americano.
Na terceira semana de maio, a Câmara de Comércio das Falklands convidou para uma visita de trabalho a Port Stanley um grupo de especialistas em terminais portuários, apoio logístico e construção naval da cidade chilena de Punta Arenas. A ideia dos ilhéus britânicos é de que eles possam fornecer assessoria para que o governo local desenvolva a sua própria infraestrutura dedicada às atividades marítimas.
Por essa mesma época – a 22 de maio –, durante uma visita de parlamentares argentinos à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso, em Brasília, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) propôs que o Parlamento do Mercosul realize uma sessão de debates sobre o pleito argentino de recuperar a soberania sobre as Malvinas.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados da Argentina, Guillermo Carmona, indicou como local do evento a cidade de Ushuaia, capital da província da Terra do Fogo, Antártida e Ilhas do Atlântico Sul – ou seja, a sede da província que incluirá as Malvinas, caso as ilhas voltem a fazer parte da Argentina.
Durante a reunião, presidida pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), o secretário de Assuntos Relativos às Ilhas Malvinas, Geórgias do Sul e Sandwich do Sul, do Ministério da Relações Exteriores da Argentina, embaixador Daniel Filmus, agradeceu o “apoio incondicional” do Brasil na luta de seu país por reconquistar a soberania sobre as ilhas. Ele criticou a manutenção do domínio britânico sobre terras tão distantes do Reino Unido.
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