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Enquanto governo silencia sobre ato contra Congresso, general dá nome aos bois: má fé e irresponsabilidade

Matheus Pichonelli


Não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Foda-se”.

Oficialmente, a declaração do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, foi dita extraoficialmente, em uma conversa com Paulo Guedes e Luiz Augusto Ramos captada, sem querer, durante uma transmissão ao vivo.

A polêmica levou o ministro a se justificar. “Externei minha visão sobre as insaciáveis reivindicações de alguns parlamentares por fatias do orçamento impositivo, o que reduz, substancialmente, o orçamento do Poder Executivo e de seus respectivos ministérios.

Isso, a meu ver, prejudica a atuação do Executivo e contraria os preceitos de um regime presidencialista. Se desejam o parlamentarismo, mudem a constituição. Sendo assim, não falarei mais sobre o assunto”, prometeu Heleno no Twitter.

Vazada ou não, a conversa dá o tom da beligerância de parte do governo Bolsonaro com o Congresso — como se apenas um dos representantes dos poderes tivesse sido escolhido pelo voto popular em 2018. Como quem recebe uma ordem, apoiadores do governo iniciaram nas redes uma campanha para levar às ruas uma manifestação contra os presidentes da Câmara e do Senado.

“Vamos às ruas em massa. Os generais aguardam as ordens do povo. Fora Maia e Alcolumbre”, diz a convocação para um ato no dia 15 de março que estampa as fotos de Heleno entre outros militares.

Heleno não se pronunciou sobre a manifestação. Nem para endossar nem para pedir, a exemplo dos atores marcados numa postagem recente da ministra da Cultura Regina Duarte, que fosse incluído fora dessa.

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Quem se manifestou publicamente sobre o assunto foi outro general, Carlos Alberto dos Santos Cruz, que já integrou o governo Bolsonaro e saiu de se queixando da quantidade de bobagens produzidas pelo time do capitão.

Em um tuíte, Santos Cruz botou uma risca de giz no chão e deixou o alerta de que o apoio ao governo dentro da caserna está longe de ser unânime. Ele chamou a convocação de irresponsável e alertou que o Exército brasileiro é uma instituição do Estado em defesa da pátria e garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. “Confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas é usar de má fé, mentir, enganar a população”.

A manifestação foi compartilhada por mais de 1,2 mil seguidores e recebeu elogios públicos, como o do cientista político Cláudio Couto, para quem a atitude do general é “louvável” e mostra que “ainda há generais responsáveis no Brasil”.

Em compensação, o general não escapou da gritaria das milícias virtuais; um deles alertou que a iniciativa era do povo, não do Exército. “Deixa de ser otário, melancia”, disse, em referência às cores da fruta — verde por fora, vermelha por dentro.

Resta saber quem, dentro do governo, dá crédito à convocação, voluntária ou não, do general Heleno. Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”, Jair Bolsonaro fez as vezes de bombeiro em um encontro recente com Rodrigo Maia. “Não bate nele, o Heleno está velho. Esquece ele”, teria dito o presidente, que aparentemente sequer cogita trocar seu ministro do GSI.

A declaração deixa quites o capitão e o general, flagrado ainda na campanha se queixando da falta de preparo do então candidato, como relatou a jornalista Thaís Oyama no livro “Tormenta”.

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