O peronista Alberto Fernández tomou posse nesta terça-feira (10/12) como presidente da Argentina, em cerimônia no Congresso da Nação, em Buenos Aires, diante das autoridades estatais e na presença de vários líderes internacionais.
O vice-presidente Hamilton Mourão representou o Brasil no ato. Na sessão da Assembleia Legislativa, órgão parlamentar que inclui senadores e deputados, Fernández recebeu de seu antecessor, Mauricio Macri, a faixa e o bastão presidenciais e fez o juramento de posse perante a vice de Macri, Gabriela Michetti.
Depois disso, a ex-presidente e agora vice de Fernández, Cristina Kirchner, fez o mesmo. O novo presidente foi empossado diante de muitos apoiadores, que fizeram diversas manifestações, com cantos e palavras de ordem. Fernández e Kirchner, em seguida, juraram desempenhar os cargos com "lealdade e patriotismo" e garantir o respeito à Constituição.
Em seu discurso, Fernández apelou à construção de um "novo contrato social solidário", bem como pediu aos argentinos que "superem o muro de ódio e de rancor" que divide o país. O peronista afirmou que seu país pagará a dívida externa quando crescer. "É impossível pagar a dívida externa se não houver crescimento. Queremos um bom relacionamento com o FMI [Fundo Monetário Internacional], mas sem crescimento não podemos pagar", destacou Fernández.
Em troca de um severo ajuste fiscal, o FMI concedeu à Argentina um empréstimo de 57 bilhões de dólares. A dívida total argentina chega a 325 bilhões de dólares, quase o total do Produto Interno Bruto (PBI) do país.
Fernández, que governará a terceira maior economia da região sul-americana até 2023, disse que o governo liberal de seu antecessor deixou o país em "default virtual". "Os credores se arriscaram investindo num modelo fracassado no mundo", afirmou. "Vamos enfrentar o problema da dívida externa."
Neste mandato, Fernández enfrentará um complicado cenário econômico, marcado pela forte dívida pública, uma moeda nacional fragilizada, a alta constante dos preços, uma inflação que chegou a cerca de 55% em 2019, além da escalada do desemprego e dos níveis de pobreza.
"Em um dos maiores produtores de alimentos, 15 milhões sofrem com a insegurança alimentar. A Argentina precisa acabar com essa catástrofe social", afirmou Fernández, além de pedir unidade. Sobre o Brasil, o presidente argentino disse que a relação entre os dois países vai além de ideologias de conjuntura.
"Com o Brasil, particularmente, temos que construir uma agenda ambiciosa, inovadora e criativa em temas de tecnologia, produção e estratégia, que esteja respaldada pela irmandade histórica de nossos povos, que é mais importante que qualquer diferença pessoal de quem governa", afirmou. Pela primeira vez desde 2003, um presidente brasileiro não participa de uma cerimônia de troca de governo na Argentina.
Logo após a eleição de Fernández, no final de outubro, Jair Bolsonaro avisou que não pretendia ir à posse do novo presidente. Depois de várias idas e vindas, ele decidiu mandar o vice para representá-lo. Antes mesmo da vitória de Fernández, Bolsonaro já havia lançado ataques contra o argentino, cuja chapa foi classificada pelo brasileiro como sendo formada por "bandidos de esquerda". Bolsonaro ainda fez campanha aberta pela reeleição de Macri, que acabou sendo derrotado.
Além de Mourão, os presidentes do Paraguai, Mario Abdo Benítez, de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e do Uruguai, Tabaré Vázquez, além do eleito no Uruguai, Luis Lacalle Pou, participaram da cerimônia. O mandatário chileno, Sebastián Piñera, cancelou a ida ao evento devido ao desaparecimento de um avião militar no país.
Após discursarem para os parlamentares e outros chefes de Estado e representantes de governos, o presidente empossado e a vice desfilariam de carro pela Avenida de Maio, com destino à Casa Rosada, sede do governo do país.