Daniela Fernandes
O presidente francês, François Hollande, em seu encontro com Dilma Rousseff nesta quinta em Brasília, deverá ressaltar ao governo brasileiro que a França não deve criar obstáculos para a conclusão de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
A França é o principal produtor agrícola da União Europeia e vinha resistindo à liberalização do setor.
"A política agrícola da União Europeia sofreu reformas e vários esforços de adaptação foram feitos", disseram fontes do governo francês ouvidas pela BBC Brasil.
Hollande realiza uma visita oficial ao Brasil que vai durar dois dias e inclui também eventos em São Paulo. Sua comitiva é formada também por oito ministros e cerca de 50 empresários franceses de variados setores.
O Mercosul e a União Europeia deverão apresentar até o final de janeiro suas ofertas para a eliminação gradual das tarifas de importação entre os dois blocos.
A União Europeia, por sua vez, exige que o Mercosul faça concessões nas áreas de bens industriais, serviços e compras governamentais.
"O Mercosul é um dos principais parceiros econômicos da União Europeia. O acordo facilitaria ainda mais as trocas comerciais", disse um representante do governo francês.
A visita de Hollande também visa reforçar o compromisso de dobrar, até 2020, o comércio bilateral. A França é o quinto maior investidor no Brasil.
A balança comercial entre os dois países atingiu US$ 10 bilhões no ano passado, com saldo favorável e crescente para a França. Em 2012, o superavit francês foi de mais de US$ 500 milhões; no acumulado deste ano, já ultrapassou US$ 2 bilhões.
Caças da Rafale
Hollande aproveitará a visita para abordar a questão dos aviões Rafale que a França gostaria de exportar para o Brasil no âmbito da licitação da Força Aérea Brasileira para a compra de 36 caças, um projeto estimado em mais de 5 bilhões de euros (R$ 16 bilhões).
Mas segundo fontes ligadas ao governo francês, a França não teria nenhuma expectativa de que algum anúncio sobre os caças seja feito durante a visita.
O ministro francês da Defesa nem integra a comitiva presidencial, o que reforçaria a ideia de que a França não espera novidades do governo brasileiro no curto prazo em relação ao assunto.
Mas a visita também vai ser marcada pela assinatura de vários contratos importantes, já anunciados recentemente.
A empresa Thales deverá assinar o contrato para o fornecimento do primeiro satélite geoestacionário, que irá garantir a segurança das comunicações estratégicas militares e civis e também ampliar o acesso à banda larga em regiões remotas do Brasil.
A Areva vai firmar o contrato anunciado com a Eletrobras Eletronuclear para a construção do terceiro reator da central de Angra, no Rio de Janeiro.
O grupo de informática Bull também deverá assinar uma carta de intenções para fabricar no Brasil supercomputadores.
Na área política, Hollande vai reforçar o apoio da França para que o Brasil obtenha uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e vai discutir os recentes escândalos de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA) americana.
A França, diz uma fonte ligada ao governo, apóia a proposta apresentada pelo Brasil e pela Alemanha na ONU para limitar a espionagem eletrônica.
Hollande também vai se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.