O novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, é conhecido por sua atuação à frente da delegação brasileira em diversas cúpulas sobre meio ambiente realizadas pela ONU.
No ano passado, essa posição ganhou ainda mais proeminência, quando o Brasil foi sede de uma das cúpulas, a Rio+20.
A atuação de Figueiredo à frente da cúpula teria impressionado a presidente Dilma Rousseff que o indicou para ser o representante do Brasil nas Nações Unidos – cargo que agora será assumido por Antonio Patriota, que pediu demissão do ministério das Relações Exteriores.
Nas cúpulas do clima em que participou, Figueiredo ganhou fama de negociador duro, mas eficiente.
'Criativo e imaginativo'
Em Durban, na cúpula da ONU de 2011, o brasileiro liderou um movimento para salvar a reunião de um fracasso, em um debate entre os países conhecidos como BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China), de um lado, e os Estados Unidos e União Europeia, do outro.
Pela primeira vez na história das negociações sobre o clima, países em desenvolvimento estavam prestes a se comprometer legalmente com metas de redução de emissão de gases do efeito estufa.
Mas a negociação empacou na hora da redação do texto, com britânicos não aceitando a troca das palavras "instrumento legal" por "resultado legal" – o que poderia implicar compromisso maior no combate às emissões de gases no meio ambiente.
Depois de uma ríspida troca de críticas públicas com o então ministro britânico do Meio Ambiente, Chris Huhne, Figueiredo conseguiu fazer com que todas as partes concordassem com uma redação final: "instrumento com força legal", e os acordos foram assinados.
Em questão de poucas horas, Figueiredo, que havia sido alvo de críticas ferozes de Huhne, foi elogiado.
"Luiz é um advogado criativo e imaginativo e um grande parceiro de negociações, e o Brasil tem um histórico de conquistas incrível que está cada vez mais sendo projetado no âmbito internacional", disse Huhne, ao final do encontro.
A comissária europeia nas negociações, Connie Hedegaard, disse que a intervenção de Figueiredo foi o momento definitivo das longas duas semanas de negociação em Durban.
"Acho que se não tivéssemos encontrado aquela solução com a Índia naquele momento, estaríamos naquela sala até agora ou nada teria saído daqui", disse Hedegaard na época.
Foi em uma das reuniões do clima, em Copenhague em 2009, que Figueiredo teria conhecido a presidente Dilma Rousseff, na época ministra da Casa Civil.
Carioca de 58 anos, Luiz Alberto Figueiredo Machado é formado em direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro e diplomata de carreira desde 1979. No Itamaraty, foi subsecretário para o Meio Ambiente, Energia e Ciência de Tecnologia.
Também ocupou cargos como diretor-geral do departamento de Meio Ambiente e Assuntos Especiais e da divisão de Política Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.
Ele teve passagens pelas representações diplomáticas do Brasil em Santiago, Washington e Ottawa, além de ter atuado na Unesco (em Paris) e na ONU (em Nova York).
Ele participa de discussões sobre o meio ambiente desde 1981, mas também atuou em áreas como desenvolvimento, desarmamento, segurança internacional, lei marítima, Antártida, espaço, saúde e trabalho.
Caso boliviano
Figueiredo chega ao cargo de ministro das Relações Exteriores depois que a presidente aceitou o pedido de demissão de Antonio Patriota, em meio à polêmica sobre a chegada do senador boliviano Roger Pinto Molina em território brasileiro.
Após ficar abrigado por 15 meses na embaixada brasileira em La Paz, o político boliviano entrou no país com a ajuda do encarregado de negócios da embaixada, Eduardo Saboia.
O Itamaraty diz que Saboia agiu por conta própria. Em comunicado divulgado no domingo, o Ministério das Relações Exteriores afirmou só ter tomado conhecimento da chegada de Molina ao país quando o político já estava no Brasil.
O ministério anunciou ainda que abriria um inquérito para apurar as circunstâncias da viagem do senador boliviano e tomar "medidas administrativas e disciplinares cabíveis" em relação à atuação de Saboia.
O parlamentar, de 53 anos, estava na embaixada brasileira em La Paz desde maio do ano passado, onde recebeu asilo político do governo de Dilma. Ele se diz perseguido politicamente na Bolívia por ter acusado funcionários do governo de corrupção e conivência com o narcotráfico.
O governo boliviano alega que Pinto está envolvido em pelo menos 14 crimes e se refugiou na embaixada para escapar da Justiça, por ter sido condenado a um ano de prisão por um deles.