O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas manifestou preocupação com o fim do cessar-fogo entre o governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional (ELN), ocorrido à 0h de ontem, e lamentou as cinco mortes registradas desde então, atribuídas à guerrilha.
O grupo terrorista também é acusado de atentados contra a Ecopetrol, principal petrolífera do país. Em resposta à investida dos insurgentes, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, suspendeu a retomada das conversações de paz com o ELN, prevista para ontem, em Quito.
O cessar-fogo garantiu 101 dias de trégua no último conflito armado do continente, que deixou, em mais de meio século, 8 milhões de vítimas, entre mortos, desaparecidos e deslocados.
"Lamentamos que a mesa não tenha podido concordar com a extensão do cessar-fogo (com o ELN). Pedimos a ambas as partes que o renovem; o primeiro (cessar-fogo) melhorou muito a situação humanitária nas áreas afetadas pelo conflito.
O cessar-fogo é necessário para a participação da sociedade civil nas negociações", declarou a delegação da Holanda, ao apresentar o primeiro relatório trimestral sobre as atividades da segunda Missão da ONU na Colômbia, iniciada em 26 de setembro de 2017. Os representantes de Estados Unidos, Bolívia, França e Rússia também apelaram pela superação dos obstáculos e pela renovação do cessar-fogo.
Os membros do colegiado manifestaram apoio ao governo colombiano com vistas à continuidade da implementação do Acordo Final de Paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), celebrado no fim de 2016. Por meio desse pacto, os rebeldes depuseram armas e fundaram o partido político Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc), que disputará as eleições presidenciais e legislativas colombianas de 27 de maio.
Das cinco mortes que motivaram a suspensão da retomada das negociações de paz com o ELN, uma foi de um funcionário da Ecopetrol, alvo de quatro ataques nos departamentos (estado) de Boyoacá, Casanare e Arauca. As outras quatro mortes estão relacionadas a assassinatos ocorridos na região sudoeste da Colômbia. Às vésperas do fim do cessar-fogo, no entanto, a ELN garantiu que não haveria uma escalada de violência.
Avaliação
"Conversei com o chefe da delegação do governo em Quito (Gustavo Bell) para que volte de imediato, a fim de avaliar o futuro do processo", declarou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, em discurso televisionado a partir da sede da presidência, a Casa de Nariño. "Também me comuniquei com os altos comandos das nossas Forças Armadas para que cumpram com o seu dever constitucional de reagir a essa agressão", completou Santos, dando como encerrada a possibilidade de renovação do cessar-fogo, pelo menos nesta semana.
Em Quito, a delegação do ELN propôs nova trégua bilateral, apesar das tensões. "Nós nos firmamos nisso: que se mantenham as conversas e que nenhum incidente leve à sua interrupção", disse Pablo Beltrán, chefe negociador dos rebeldes, acrescentando que os "incidentes" ocorreram "em meio à complexa situação do conflito". Em uma declaração de cinco pontos, o grupo assegurou que "cumpriu os objetivos" do acordo para a cessação dos incêndios e outros tipos de ataques.
"O cessar-fogo bilateral, temporário e nacional (…) terminou ontem (terça-feira) à meia-noite. O objetivo de melhorar a situação humanitária da população foi parcialmente alcançado pela atitude do regime (governo); por nossa parte, cumprimos os objetivos da cessação", afirmou o ELN.
O grupo se referiu a compromissos, como a suspensão dos sequestros e dos ataques da guerrilha à infraestrutura petrolífera, e a melhoria, por parte do governo, das condições dos guerrilheiros presos e da segurança de líderes sociais – entre 1º janeiro e 20 de dezembro de 2017, 105 ativistas foram mortos.
Para o professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), os recentes incidentes "eram previsíveis, pois tanto o acordo de paz com as Farc quanto o cessar-fogo com o ELN ainda não contam com o necessário apoio da sociedade colombiana".
Segundo ele, a população não reconhece os avanços obtidos para a pacificação do país, o que estaria inibindo a adesão total das partes envolvidas aos compromissos pactuados.
Nota DefesaNet: A afirmação professor do Roberto Goulart Menezes da UnB foi no mínimo uma jocosidade de mal gosto ao justificar e ainda colocar a culpa de atos terroristas na própria sociedade colombina. A mesma sociedade que sofreu durante anos com esses atentados covardes e agora veem seus algozes receberem benefícios do governo obtidos com a "extorsão indireta" para a "pacificação".
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