Um grupo de ex-terroristas das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) disse em um vídeo publicado de madrugada que lançará uma nova ofensiva, ameaçando reiniciar um conflito armado que durou cinco décadas.
Dois ex-comandantes do grupo, conhecidos pelos codinomes Iván Márquez e Jesús Santrich, apareceram no vídeo de 32 minutos do anúncio da ofensiva publicado no YouTube, que foi divulgado três anos depois de as Farc assinarem um acordo de paz com o governo.
“Esta é a continuação da luta rebelde em resposta à traição do Estado aos acordos de paz de Havana”, disse Márquez, usando uniforme militar e cercado de combatentes armados. “Jamais fomos vencidos ou derrotados ideologicamente, por isso a luta continua”.
Márquez foi um negociador essencial do acordo de paz firmado em 2016. Ele desapareceu no ano passado depois que seu sobrinho foi preso e levado aos Estados Unidos para cooperar com investigadores do tráfico de drogas.
O anúncio, que Márquez disse ter sido filmado na Amazônia colombiana, coincide com uma série de obstáculos sérios para o acordo complexo, como o assassinato de centenas de ex-rebeldes e ativistas de direitos humanos, atrasos no financiamento de iniciativas econômicas de ex-combatentes e uma polarização política profunda.
O objetivo do grupo é a posse de um governo que apoie a paz, disse Márquez. Ele combaterá a corrupção e exigirá pagamentos daqueles que participam de economias ilegais e de multinacionais, disse.
Fontes de segurança disseram que a força comandada por Márquez pode chegar a 2.200 combatentes.
O presidente Iván Duque foi eleito prometendo mudar partes do pacto, mas não obteve apoio congressual ou judicial para fazê-lo. Ele vem repetindo que os ex-guerrilheiros que realmente quiserem se desarmar serão amparados.
Não houve reação imediata do governo ao vídeo.
“A grande maioria continua comprometida com o acordo, apesar de todas as dificuldades e perigos”, disse Rodrigo Londoño, ex-comandante das Farc conhecido como Timochenko, no Twitter. “Estamos com a paz”.
Hoje Londoño é líder da Força Alternativa Revolucionária do Comum, o partido político nascido do acordo de paz.
O grupo dissidente tentará se coordenar com os também terroristas de esquerda do Exército de Libertação Nacional (ELN), disse Márquez, e não usará sequestros e resgates como fonte de financiamento.