Na manhã de 2 de abril deste ano, as #IranTalks (negociações com o Irã) transformaram-se num #IranDeal (acordo com o Irã). As hastags no Twitter usadas pelos negociadores deixaram claro que ocorrera um avanço nas negociações sobre o programa nuclear iraniano com as potências do G5+1 (Estados Unidos, China, Alemanha, França, Rússia e Reino Unido). A diplomacia havia vencido e, com ela, a "twiplomacia" – a política externa através dos 140 caracteres dos posts no Twitter.
Após anos de difíceis negociações, debates e propostas de acordo, tanto na internet quando nos bastidores de um hotel em Lausanne, na Suíça, os ministros do Exterior do Irã e da Alemanha, Javad Zarif e Frank-Walter Steinmeier, assim como o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, mostraram-se satisfeitos a seus seguidores. "O entendimento que alcançamos é uma base sólida para o acordo que buscamos", escreveu Kerry no Twitter.
Não apenas vários ministros do Exterior, mas também dois terços dos chefes de Estado e de governo utilizam o Twitter, assim como mais de 4 mil embaixadores e representações diplomáticas, de acordo com um estudo da consultora Burson-Marsteller.
"Assim, a diplomacia tem um alcance muito maior que antes", diz Jan Melissen, do Instituto de Relações Internacionais em Haia. "Agora as pessoas podem ver o que os diplomatas fazem, inclusive os erros que cometem." Melissen participou, ao lado de outros especialistas, de uma discussão sobre a influência da tecnologia digital sobre as relações internacionais durante a edição deste ano do Global Media Forum.
O fim da diplomacia
"Meu Deus, este é o fim da diplomacia", teria dito o premiê britânico Lord Palmerston em meados do século 19, quando lhe entregaram a primeira mensagem enviada por telégrafo. No final, a nova tecnologia não abalou a diplomacia, mas se tornou uma ferramenta cotidiana dos diplomatas.
O mesmo vale para o Twitter e outros serviços online. No entanto, diplomatas e políticos se veem agora diante de um novo desafio: "Eles têm que mudar sua linguagem, abrir mão de abreviações rotineiras e falar como a gente", diz Deborah Seward, diretora de comunicação da ONU. "E isso é muito bom, pois ajuda as pessoas a entenderem o que eles [diplomatas] estão tentando atingir."
Fluxo de conteúdo
As relações internacionais não mudam tanto através de alguns tweets de políticos, mas através de milhões de tweets de usuários em todo o mundo, que a cada minuto postam fotos, vídeo e opiniões. Os governantes se veem diante de um fluxo enorme de conteúdo, que já não podem controlar.
"É um desafio com o qual nenhum governo sabe lidar", diz o ex-apresentador da BBC Nik Gowing. "E estamos apenas no começo de uma transformação digital, que dá poder às massas e põe em dúvida a legitimidade dos governantes."
Para Gowing, os líderes políticos perderam o controle sobre o espaço público. As consequências de suas ações são visíveis imediatamente na internet, como "quando uma bomba é jogada de um helicóptero em Homs ou Aleppo". E isso leva muitos políticos a evitarem riscos e atuarem com moderação – para o bem e para o mal, diz o ex-apresentador.
Tsunami de mentiras
Gorwing afirma que ditaduras realizam uma operação de retaguarda quando, diante de incontáveis provas em vídeo sobre sua má conduta, falam numa enxurrada de mentiras. É o que fizeram o líder birmanês, diante de protestos em 2007, e o regime Assad, na Síria, que responsabilizou ativistas da internet por um "tsunami de mentiras".
No entanto, desinformação e propaganda continuam existindo tanto quanto antes da era digital. Trolls do governo russo, estacionados na linha de frente midiática no conflito ucraniano, assim como modernos estrategistas em relações públicas sob a bandeira negra do "Estado Islâmico" (EI) entram na disputa por poder e influência. E se os diplomatas também não entrarem no mundo digital, eles se tornam obsoletos, afirma Melissen.
Numa mensagem em vídeo aos participantes do Global Media Forum, Steinmeier alertou sobre expectativas exageradas envolvendo a diplomacia digital. "Ao contrário da enxurrada de imagens vindas dos focos de conflito, alguns métodos da política externa parecem lentos e antiquados", disse o ministro alemão do Exterior. "Negociações diplomáticas, longas rodadas de negociações e a batalha tenaz por compromissos exigem tempo." Afinal, quando se tem um acordo, como no caso das negociações sobre o programa nuclear iraniano, tanto faz se o impulso veio das conversas secretas ou do debate aberto.