Nelson Düring
Editor-Chefe DefesaNet
O Exército Brasileiro entregou, no dia 17 de Julho, os dois primeiros blindados EE-11 Urutu pertencentes ao Exército do Paraguai, que estavam sendo revitalizados no 28º Batalhão Logístico (BLog), unidade da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Dourados (MS). A cerimônia contou com a presença do comandante do exército do Brasil, Gen Ex Enzo Martins Peri e do Paraguai, General Gómez, em solenidade, no 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado, de Ponta Porã (MS).
Outras autoridades militares presentes incluíam o Comandante Militar do Oeste, General De Nardi, do Comandante da 9ª Região Militar, General Paulo, do Chefe do Centro de Operações do CMO, General Henrique, do Chefe do Estado-Maior do CMO, General Paulo Roberto, e demais militares do Brasil e do Paraguai.
A manutenção dos blindados EE-11 Urutu, de transporte de pessoal, faz parte de um acordo diplomático bilateral entre os Ministérios das Relações Exteriores do Brasil e do Paraguai. No total serão 40 viaturas (12 Urutu e 28 Cascavel) do Exército Paraguaio, em três lotes. Esse número é similar aos registros de compras feito pelo Paraguai na ENGESA. O acordo bilateral prevê a utilização de logística e recursos técnicos do Exército Brasileiro, enquanto os custeios para os gastos com as reformas ficam por conta do Exército Paraguaio, mediante uma linha de crédito.
A importância do evento para região de fronteira pode ser medida em nota do Jornal Diário de MS: “Este é um momento importante para demonstrar o laço de amizade entre os dois países. O Brasil possui uma importância significativa no bloco da América do Sul e o Paraguai é um país que cada vez mais vem estreitando a sua relação com o país irmão” disse Pedro Celestino, Cônsul do Paraguai, em Ponta Porã.
Para o Exército Brasileiro, o mais importante foi a prática das boas relações entre os dois paises. “Parabenizo a todos que participam de forma efetiva deste acordo que auxilia no processo de fortalecimento da nossa amizade e a confiança entre os dois países, por meio do aprimoramento profissional”, afirmou o general de Exército Enzo Martins Peri, comandante do Exército Brasileiro.
O general de brigada Juan Bautista Esquivel, do Exército do Paraguai, destacou a cordialidade das Forças Armadas do Brasil que, segundo ele, demonstraram espírito de integração entre os povos. “O acordo diplomático demonstra o laço de amizade e fraternidade entre os dois paises. Fazemos parte de um mundo globalizado, onde a integração se faz necessária na busca pelo aprimoramento das duas nações”, afirmou.
Outro ponto importante é que além de modernizar os veículos o Exército Brasileiro oferece treinamento no Centro de Instrução de Blindados (CIBld), que está localizado em Santa Maria – RS
As duas viaturas que foram entregues na cerimônia de Ponta Porã fazem parte do primeiro dos três lotes de blindados que serão manutenidos pelo Brasil. O prazo de entrega das viaturas do primeiro lote está previsto para o mês de outubro. O projeto todo deve ser concluído em 18 meses
A Geopolítica
A solenidade tem uma enorme significado estratégico e na geopolítica do continente. Após mais de uma década de abandono, pelo Brasil, dos produtos produzidos pela empresa Engenheiros Especializados S.A., mais conhecida pela sigla ENGESA, desde a sua falência, em 1993.
Com exportações de veículos blindados (EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu) ou caminhões militares para: Colômbia, Paraguai, Chile, Bolívia, Equador, Suriname, Venezuela e Peru, nas décadas de 70 e 80, o Brasil viu nos anos 90 e 2000 o sucesso anterior tornar-se um pesadelo no presente.
Os clientes solicitavam peças de reposição, equipes de manutenção, apoio técnico, etc, que foi perdido pela falência da ENGESA e um emaranhado cipoal jurídico / legal sobre o seu espólio, que amarrava a ação do governo brasileiro.
O próprio Exército Brasileiro lançou um programa de revitalização do seu parque de Urutus e Cascavéis no Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP). Em entrevista a DefesaNet o Comandante do Exército Gen Enzo Peri informu que foram mais 150 veículos modernizados no AGSP até o momento.
Duas empresas particulares atendiam de forma não oficial aos clientes Engesa em todo o mundo, em especial os Latino-americanos (Columbus e Continental).
Os países com maiores recursos ou urgência tomaram rumos próprios, como a Colômbia que reformou os seus Cascavéis com empresas locais. E o Chile que vendeu os seus para uma empresa israelense modernizá-los e revendê-los para países africanos.
Surgiu a oportunidade do Exército Brasileiro junto com o Itamaraty recuperar posições e estabelecer uma “diplomacia dos blindados”. Os objetivos não é só de atender a velhos clientes de produtos militares brasileiros, mas de alguma forma estabelecer vínculos mais estreitos com forças militares locais, que estam sendo cotejadas pela ativa Revolução Bolivariana, do Sr Hugo Chávez.
O Gen Albuquerque, em 2006, em viagem à Bolívia, estabeleceu acordos para modernizar os veículos blindados fornecidos pela ENGESA àquele país.
A própria Agencia Boliviana de Información (ABI) mencionou em uma nota, do dia 26 Setembro 2006. “Otro de los aspectos que será abordado durante la visita del jefe militar brasileño es el mantenimiento de los vehículos del Ejército boliviano, debido a que un significativo porcentaje son de industria brasileña, tarea para la cual el ejército brasileño prestará plena colaboración.”
Palavras que soaram como um bálsamo para o Itamaraty na formulação da política de contenção da expansão de Hugo Chávez na América do Sul.
Mesmo que a Bolívia tenha usado caminhões Engesa para transportar soldados na tomada das refinarias da Petrobras, no dia 1º de Maio de 2006. O esforço de reaproximação vale a pena para o Itamaraty e o Exército.
O ato de Ponta Porã estrapola o significado de apoio a clientes e é inserido em uma moldura geopolítica sofisticada e complexa. É a “Diplomacia dos Blindados” em curso.